Brasil

Já há mais detidos por pichações do que em todo 2016

No entanto, pichadores afirmam que as detenções não afetam a atividade de quem tem estratégia montada

Pichação: efetivo da guarda municipal caiu, mas mesmo assim detenções aumentaram (foto/Thinkstock)

Pichação: efetivo da guarda municipal caiu, mas mesmo assim detenções aumentaram (foto/Thinkstock)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 23 de abril de 2017 às 10h53.

São Paulo - A Prefeitura de São Paulo intensificou a atuação de guardas-civis para prender pichadores na cidade. Em 110 dias, a gestão do prefeito João Doria (PSDB) já deteve mais pichadores do que Fernando Haddad (PT) em todo o ano de 2016.

Até o dia 20 de abril, 72 foram conduzidos pela GCM, ante 60 nos 12 meses do ano passado. Se considerado o mesmo período, a Prefeitura havia prendido apenas quatro pichadores até abril. Somando os detidos pela Polícia, o saldo é de 116 pichadores neste ano.

Apesar do aumento de detenções, o efetivo da Guarda caiu na proteção ao patrimônio da cidade no mesmo período. O efetivo empregado no ano passado foi de 1.093 e, neste ano, de 976.

O número de GCMs na função foi mais alto também em anos anteriores: 1.305 em 2015, 1.083 em 2014 e 1.170 em 2013.

O governo municipal diz que a escalada do efetivo é dinâmica e houve aumento das rondas escolares e nas unidades de saúde - por isso a queda na proteção ao patrimônio.

Sobre o aumento de detenções, afirma que, independentemente do programa prioritário, a GCM "tem o dever legal de conduzir suspeitos aos distritos nos casos de flagrante".

De acordo com um dos integrantes de um grupo de pichação na capital, as prisões feitas pela GCM não trouxeram efeito prático para reprimir a pichação na cidade. "Não existe esse enfrentamento, isso foi fabricado pela Prefeitura", diz Bruno, de 25 anos.

"Esses pichadores que estão prendendo não fazem parte de nenhum movimento. São skatistas jovens, universitários rebeldes. Essa ação do prefeito não está atingindo quem realmente faz a pichação, porque quem faz tem estratégia, não é bobo. É uma ação inofensiva para mostrar serviço", afirma. "Depois dessas ameaças todas, eu estou pichando até mais.",

Ele conta que começou a pichar aos 13 anos, deslumbrado pela enorme quantidade de rabiscos no colégio público em que estudava.

"Era uma escola ruim, sem estrutura. O rabisco chamava muito mais a atenção de uma criança do que a sala de aula sem ensino de qualidade", diz.

"É a primeira forma artística com que a gente tem contato. E aí quer pichar a carteira, a escola, o bairro, o município. Eu já pichei até no Paraguai. É uma forma de sair da invisibilidade."

Apologia. Davi, de 28 anos, também vê a ação da Prefeitura como algo pontual e sem efeito. Mesmo depois de ter sido detido por dois policiais militares, o rapaz fez uma pichação no fim de semana passado em uma ponte.

"O Doria vai ficar quatro anos. Nós vamos ficar 30 anos rabiscando." Como a GCM, a polícia também está atrás dos pichadores. Até 4 de abril, já havia 41 detidos pela corporação.

Felipe, de 22 anos, diz que a única mudança adotou após ser flagrado durante uma pichação foi reforçar o cuidado. "Tive de pagar uma multa de R$ 250", comenta. Para ele, o discurso do prefeito é "radical" e não surtirá efeito. "Vai causar impacto no bolso de alguns, prisão de outros, mas tem muita gente que quer fazer e faz."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acompanhe tudo sobre:GrafiteJoão Doria Júniorsao-paulo

Mais de Brasil

Senado aprova autonomia na gestão financeira da PPSA, a estatal do pré-sal

Assassinato de delator do PCC é 'competência do estado', afirma Lewandowski

Alesp aprova proibição de celulares em escolas públicas e privadas de SP

Geração está aprendendo menos por causa do celular, diz autora do PL que proíbe aparelhos em escolas