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Itamaraty faz "política da destruição", diz ex-embaixador Rubens Ricupero

Ele disse que ministro Ernesto Araújo causa gargalhadas no exterior e que danos à imagem brasileira podem demorar para serem reparados

 (Flávio Santana / Biofoto/Exame)

(Flávio Santana / Biofoto/Exame)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 15 de abril de 2019 às 19h14.

Última atualização em 15 de abril de 2019 às 19h57.

São Paulo – Rubens Ricupero, ex-ministro da Fazenda e embaixador nos Estados Unidos em dois períodos (1974-1977 e 1991-1993), não poupa críticas à atuação internacional do governo Bolsonaro: o Itamaraty "faz uma política da destruição" que é "essencialmente ideológica".

Em evento de VEJA e EXAME sobre os 100 dias da gestão, ele disse que ficou impressionado com uma declaração de Ernesto Araújo, ministro das Relações Exteriores, e do presidente sobre a necessidade de desconstruir antes de fazer algo novo.

"Me espantou porque nós todos sempre olhamos o Brasil como uma obra em construção contínua e o passado como algo que trouxe a cada fase e cada governo uma contribuição", disse ele. "É a primeira vez que eu vejo um governo que chega com essa ideia da destruição e da desconstrução".

As declarações de Araújo sobre o nazismo ser um movimento de esquerda, repudiadas por historiadores e pelo governo alemão, são outro exemplo:

"Um pais que tem um ministro que diz isso provoca gargalhadas. Na Alemanha, gargalhadas com indignação", diz ele, completando que "não há nada mais humilhante para uma chancelaria do que ser alvo de ridículo".

Ricupero também afirmou que a visita do presidente aos Estados Unidos foi “caracterizada pela bajulação e pela subserviência” e que "a agenda americana não coincide com a nossa”.

A ideia do bolsonarismo de colocar o presidente americano em um papel de defensor da civilização judaico-cristão é algo que nem ele defenderia: “O Trump só pensa nele próprio e na America First”, diz Ricupero, e se associar diretamente à ele é alienar automaticamente a metade dos EUA que não o apoia.

Um exemplo dos efeitos deletérios de uma aproximação tão partidária foi o caso do Museu de História Natural de Nova York, que hoje confirmou o cancelamento de um evento da Câmara de Comércio Americana em que Bolsonaro seria homenageado.

Os benefícios de uma possível entrada na OCDE existem mas estão sendo exagerados pelo governo, diz Ricupero, cita o exemplo da Grécia como país que sempre faz parte da organização e viveu um desastre econômico.

O embaixador também destacou que os danos são duradouros pois no campo das relações internacionais não é tão fácil traçar uma linha clara entre políticas concretas e o que é mera retórica.

“Em política internacional as palavras e as fotos às vezes contam mais do que o conteúdo”, explicou. “Cada declaração em diplomacia às vezes leva 10 ou 20 anos para desfazer”.

No entanto, destacou que está em um curso uma espécie de “intervenção branca” no Itamaraty e um processo de tutela e redução de danos pelos militares, incluindo o vice-presidente General Hamilton Mourão, e pela ministra da Agricultura, Tereza Cristina.

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