Arthur Weintraub: desde que seu irmão deixou o cargo, em junho, e saiu do Brasil às pressas para depois ocupar um cargo no Banco Mundial, Arthur convive com especulações de que também sairá do governo. (Valter Campanato/Agência Brasil)
Agência O Globo
Publicado em 9 de agosto de 2020 às 12h48.
Última atualização em 9 de agosto de 2020 às 12h50.
O nome do cargo ocupado por Arthur Weintraub, de 44 anos, é genérico e pouco revela sobre suas tarefas no Palácio do Planalto: assessor-chefe adjunto da Assessoria Especial da Presidência. Irmão caçula do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub, Arthur diz ter atuado como uma espécie de “guru” do presidente Jair Bolsonaro sobre a cloroquina, com a incumbência de ler estudos sobre os efeitos do medicamento no combate à Covid-19. A substância já foi utilizada pelo chefe mesmo sem ter eficácia comprovada.
"Ele (Bolsonaro) estava desde o começo antenado na hidroxicloroquina. E ele virou para mim e falou: “Você que é estudioso, lê aí e me traz”. Comecei a ler os artigos em inglês", contou Arthur, em uma entrevista em maio a “O Brasil precisa saber”, programa no YouTube do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente.
"Se consigo ler um artigo científico de epilepsia, consigo ler alguma coisa de Covid. Comecei a ler. Passando para o seu pai, ele entendeu. Eu mandava PDFs de 20 páginas. Chegava no dia seguinte e estava impresso na mesa dele, grifado."
Com formação em Direito, Arthur diz ter capacidade para entender as pesquisas por ter pós-doutorado em Neurologia. A Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) informou ao GLOBO que Arthur, professor da instituição, “realizou estágio pós-doutoral”, com projeto homologado, no Programa de Pós-graduação em Neurologia-Neurociências em 2014.
Apesar de ter se debruçado sobre pesquisas a respeito da cloroquina, os estudos de Arthur pouco interferiram nas ações do Ministério da Saúde, que passou a recomendar o uso do medicamento mesmo sem a comprovação da sua eficácia. O ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, sequer o conhece pessoalmente.
Desde que seu irmão deixou o cargo, em junho, e saiu do Brasil às pressas para depois ocupar um cargo no Banco Mundial, Arthur convive com especulações de que também sairá do governo.
A perspectiva chegou a ser comemorada entre servidores do Planalto. Alguns colegas comentam, em reservado, que ele ocupa um cargo alto demais para “não fazer nada de concreto” e que vivia “na sombra do irmão”. Atribuem ainda sua nomeação a uma recompensa por ter atuado na campanha de Bolsonaro, para a qual foi convidado pelo atual ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni. Nos últimos tempos, contam auxiliares palacianos, Arthur tem ficado “escanteado”.
O grupo mais alinhado a Arthur no palácio é o que ficou conhecido como o “gabinete do ódio” e inclui outros assessores especiais do presidente. Discreto no trato pessoal, Arthur tem uma postura agressiva nas redes sociais e já acumula mais de 500 mil seguidores no Twitter.
Na rede, critica com frequência a utilização de máscaras contra o coronavírus, a Organização Mundial de Saúde (OMS), o governador João Doria (PSDB), o youtuber Felipe Neto e a imprensa, entre outros. E ameaça processar quem critica o irmão.
Arthur recebe salário bruto de R$ 18.215,94, além de ocupar um imóvel funcional. Faz parte do Conselho Fiscal dos Correios, o que lhe rendeu, em maio, um jeton de R$ 4.496,22. E também integra, desde outubro, o Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS), órgão do Ministério da Economia. Sua agenda oficial, publicada no site da Presidência, limita-se quase todos os dias a “despachos”, sem detalhes.
No Twitter, Arthur ironizou uma notícia recente de que deixaria o governo. “A pressa de muitos para que eu saia é imensa”, escreveu.