Brasil

Investimento estrangeiro não é foco do Fórum da Água, diz Braga

Em março, Brasil vai sediar maior evento mundial sobre água, que pela primeira vez finca os pés no hemisfério sul

Rio Amazonas (Ildo Frazao/Thinkstock)

Rio Amazonas (Ildo Frazao/Thinkstock)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 30 de janeiro de 2018 às 17h43.

Última atualização em 30 de janeiro de 2018 às 17h57.

São Paulo — Com cerca de 12% das reservas de água doce do mundo, o Brasil se prepara para receber a oitava edição do maior evento sobre água do mundo, o Fórum Mundial da Água, que acontece em Brasília de 18 a 23 de março.

Dada a importância vital desse bem para a vida e suporte das mais variadas atividades econômicas, o evento pretende promover a troca de experiências e boas práticas no uso consciente e racional das águas.

“O grande objetivo do Fórum é mobilizar o setor político, aqueles que tomam decisões, motivá-los para o tema da água e saneamento”, disse Benedito Braga, presidente do Conselho Mundial da Água, durante coletiva de imprensa nesta terça-feira em São Paulo. A entidade organiza o evento junto aos governos locais e mais de 500 organizações.

Pela primeira vez, o evento, realizado a cada três anos desde 1997, finca os pés em um país do Hemisfério Sul. São esperadas mais de 40 mil pessoas, entre especialistas, autoridades, empresários, organizações não governamentais e cidadãos, que se reunirão em torno de um tema central: “compartilhando água”.

“Nós aqui temos duas grandes bacias hidrográficas compartilhadas com países vizinhos, a do Prata e a Amazônica, então o Brasil tem um grande interesse em discutir como fazer essa gestão nas águas transfronteiriças de forma racional e eficiente”, acrescentou.

Ao todo, estão programadas 313 sessões de discussões reunidas em torno de 32 tópicos relacionados a nove temas: Clima (segurança hídrica e mudanças climáticas) 2. Pessoas (água, saneamento e saúde) 3. Desenvolvimento (água para o desenvolvimento sustentável) 4. Urbano (Gestão integrada da água e resíduos urbanos); 5. Ecossistemas (qualidade da água, subsistência de ecossistemas e biodiversidade); 6. Financiamento para a segurança hídrica; 7.Compartilhamento (envolvimento do setor público, privado, sociedade civil; justiça e equidade); 8. Capacitação (educação, capacitação e troca de tecnologias) e 9. Governança (envolvimento dos setores na formação e implementação de políticas).

As linhas de debates do Fórum se alinham aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para água potável e saneamento (ODS-6), agenda definida pela ONU, que propõe metas a serem atingidas globalmente até 2030.

Na edição brasileira, a participação cidadã foi uma prioridade, com o lançamento da  plataforma online de consulta pública “Sua Voz”. “As rodadas de discussão começaram em fevereiro de 2017 e terminam em fevereiro de 2018. Qualquer pessoa do mundo pode se cadastrar no site, entrar numa sala virtual, colocar suas contribuições, que são coletadas em relatórios mensais, sistematizadas e integradas como contribuição nas sessões”, explicou Glauco Kimura, consultor e integrante do secretariado do Fórum.

Outra novidade é a Vila Cidadã, um espaço gratuito e aberto a toda população (mediante credenciamento), que contará com arena de debates, exposições, palestras, cinema e talk shows.

Financiamento

O orçamento do evento também traz peculiaridades. Nas edições passadas, realizadas em países do hemisfério norte, em sua maioria desenvolvidos, o orçamento médio girou em torno de 30 milhões de euros, segundo Kimura. A meta brasileira era realizar um fórum eficaz, mas barato, para refletir as condições do país e da próxima sede, Senegal.

“Conseguimos reduzir nosso orçamento em 30%. O orçamento do evento brasileiro está em 83 milhões de reais, dos quais 33 milhões vêm de recursos de vendas de espaços das feiras, exposições, inscrições e patrocínio. E os outros 50 milhões são divididos igualmente entre a Adasa, que é a agência reguladora de águas do Distrito Federal, cidade sede, e a Agência Nacional de Águas (ANA), do governo federal”.

Críticas

 Em paralelo ao Fórum Mundial da Água, também ocorrerá em Brasília o Fórum Alternativo Mundial da Água (FAMA), organizado por grupos da sociedade civil, ONGS e movimentos ambientalistas. Como sugere o nome, o FAMA se proclama um evento de contraponto ao Fórum Mundial da Água. Em sua página no Facebook, o evento alternativo descreve o Fórum Mundial da Água como um evento que busca a “privatização das fontes de água (como mananciais, rios e nascentes e a mercantilização das reservas estratégicas) e obter lucros sobre estes bens que pertencem a todos e são essenciais para a manutenção da vida no planeta”.

Questionado durante a coletiva de imprensa sobre essas críticas, o presidente do Conselho Mundial da Água, Benedito Braga, afirmou que “o Fórum Mundial da Água não tem uma ideologia específica, sendo uma plataforma totalmente aberta para discutir todos os pontos de vistas". Ressaltou ainda que a organização do Fórum Mundial da Água "não tem nenhum problema com esses fóruns alternativos, embora eles insistam em realizar seus próprios eventos para advogar pela sua perspectiva específica sobre temas relacionados à água”.

Braga reconheceu, contudo, que interesses de empresas sempre existem, mas que não é um pressuposto do Fórum trazer empresas estrangeiras para investir no Brasil. “Evidentemente que se aparecerem empresas que se beneficiarão da oportunidade de apresentarem suas soluções no âmbito do evento, serão muito bem vindas, mas não é um objetivo fazer esse meio de comunicação entre empresas e o governo brasileiro. Nós somos uma plataforma muito diversa, com interesses de diferentes setores da sociedade”, concluiu.

Acompanhe tudo sobre:ÁguaBrasíliaMeio ambiente

Mais de Brasil

Haddad: pacote de medidas de corte de gastos está pronto e será divulgado nesta semana

Dino determina que cemitérios cobrem valores anteriores à privatização

STF forma maioria para permitir símbolos religiosos em prédios públicos

Governadores do Sul e do Sudeste criticam PEC da Segurança Pública proposta por governo Lula