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Investigações da PF devem seguir "curso normal", diz Cardozo

Em um momento em que o governo foi surpreendido com mais um desdobramento da Lava Jato, o ministro da Justiça manteve a defesa das operações da PF


	José Eduardo Cardozo: "o governo foi surpreendido pelos eventos de hoje (quarta-feira), mas reitera o apoio às investigações e entende que elas devem seguir o seu curso normal”
 (Marcelo Camargo/ABr)

José Eduardo Cardozo: "o governo foi surpreendido pelos eventos de hoje (quarta-feira), mas reitera o apoio às investigações e entende que elas devem seguir o seu curso normal” (Marcelo Camargo/ABr)

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Da Redação

Publicado em 25 de novembro de 2015 às 22h37.

Brasília - Em um dia em que o governo da presidente Dilma Rousseff foi surpreendido com mais um desdobramento da operação Lava Jato, a prisão do líder do governo no Senado, Delcídio do Amaral (PT-MS), o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, manteve a defesa das operações tocadas pela Polícia Federal.

“O governo foi surpreendido pelos eventos de hoje (quarta-feira), mas reitera o apoio às investigações e entende que elas devem seguir o seu curso normal”, disse à Reuters. Logo no início da tarde, o ministro foi chamado pela presidente Dilma para uma reunião do chamado núcleo duro do governo para avaliar o real impacto da prisão de Delcídio, a primeira de um senador em exercício do mandato.

O cenário, concluíram, é ruim, mas abrandado pelo fato de que as declarações que motivaram a prisão do senador mostrarem que ele não envolveu o governo e agira por conta própria.

Operações deflagradas pela PF, como Lava Jato, Zelotes e Acrônimo, levaram nos últimos meses para a cadeia ou envolveram petistas históricos, como o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto e o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, e chegaram perto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Na terça, o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula, foi preso na 21ª fase da Lava-Jato, acusado de fazer empréstimos fantasmas para encobrir o repasse de propinas da Petrobras para o PT.

Cardozo é alvo constante de críticas pelo avanço das operações sobre políticos. Mais longevo ministro da Justiça em período democrático, Cardozo é acusado de não ter controle sobre a PF, subordinada a sua pasta.

Na terça-feira, em entrevista à Reuters, Cardozo acusou seus detratores de terem um “viés autoritário” e não perceberem que o Brasil vive em uma democracia.

“As críticas partem de uma visão ainda antiga, de um Brasil não republicano, de um Brasil em que aquele que governa diz a quem se aplica a lei", disse o ministro.

Para ele, esse tipo de mentalidade, próprio dos governos autoritários, não tem mais espaço. "Esse viés autoritário e não republicano ainda permanece na mente de algumas pessoas que não perceberam que de 1988 para cá nós vivemos em uma democracia e em um estado de direito pleno”, disse.

“Para não ser injusto eu diria que são críticas de setores do meu partido e da oposição. Porque quando a investigação resvala em alguém da oposição eu recebo a acusação de que eu estou instrumentalizando o partido. Quanto a investigação resvala em gente da base governista, dizem que eu não controlo", afirmou.

Apesar da pressão do partido e de boatos de que deixaria o governo, o ministro afirma que não tem planos de sair enquanto a presidente o quiser no cargo, apesar de reconhecer que há “fadiga de material” no ministério e que neste momento ser ministro não é “mamão com açúcar”.

“Eu acho que há momentos em que se deve pensar em uma reciclagem, uma renovação. Mas isso é uma decisão da presidente e enquanto ela achar que eu contribuo para o projeto, e enquanto eu achar que não a prejudico, eu fico”, garantiu.

CORRUPÇÃO

Petista histórico, Cardozo reconhece que seu partido está passando por maus momentos. No entanto, acredita que o PT tem como sair dessa crise.

Em 2005, quando estourou o escândalo do mensalão, propôs, junto com o ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro, a “refundação” do partido.

Chegou a se candidatar por duas vezes à presidência do PT, mas foi derrotado. “Quando eu defendi em 2005 a refundação foi exatamente na linha de que eu achava que algumas questões precisariam ser redimensionadas. O PT sempre foi um partido que defendeu a bandeira da ética na política."

"Acho que ainda hoje tem essa dimensão, o que não pode ser atrapalhado quando alguns dirigentes, alguns militantes incorrem em erros. Uma coisa é o partido em seu ideário, outra coisa são eventuais desvios”, disse.

Questionado sobre como o PT pode retomar essa bandeira da ética na política quando ainda defende filiados condenados por casos de corrupção, como Vaccari e Dirceu --chamado mais uma vez de “guerreiro do povo brasileiro” no 3º Congresso da Juventude do PT, na semana passada, Cardozo não quis responder.

“Quando sair do ministério vou colocar internamente as críticas, as posições, as reflexões que eu acho que devem ser feitas. Nesse momento eu não pretendo me imiscuir nessa questão interna”, afirmou. Mas disse que o partido tem condições de se livrar da marca da corrupção. “Eu acho que das crises nascem as grandes transformações, as grandes mudanças. E acho que o PT tem condições sim, de sair mais fortalecido dessa crise, sair redimensionado e renovado.”

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