As ruas de Brumadinho são tomadas pela água que transbordou do Rio Paraobeba devido à chuva que caiu na região de Minas (Antonio Cruz/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 6 de janeiro de 2012 às 13h16.
As mil famílias do bairro de Três Vendas, que desde ontem tiveram que deixar suas casas devido ao rompimento de um dique da BR-356, no município de Campos dos Goytacazes, estão condenadas a enfrentar o mesmo problema pelos próximos anos, caso a providência seja meramente a de reconstruir o dique. Para o professor de engenharia civil da Coppe/UFRJ Paulo Canedo, coordenador do laboratório de hidrologia da universidade, a única forma de evitar uma nova tragédia é controlar o fluxo do Rio Muriaé ao longo de seu curso, desde Minas Gerais.
“Os rios Muriaé e Paraíba do Sul enfrentam o mesmo problema. Não há investimento, e com uma chuva um pouco mais forte a população fica exposta. São rios de curso longo, que precisam de diques e barragens ao longo de seu curso”, explica Canedo.
A dificuldade de implementar obras para administrar a vazão desse tipo de rio, lembra Canedo, está no fato de esses cursos d’água passarem por mais de um estado. “O Rio Muriaé vem de Minas. A água que corre no Rio, não é fluminense, é mineira. Por problema de inoperância ou azar, quem tem o prejuízo é o Rio. Quem paga isso? O governo mineiro não tem interesse de gastar lá para não inundar o Rio. E o Rio não pode fazer obra em Minas. Há uma omissão da União, que é quem por lei deve cuidar desses rios”, analisa.
Três Vendas é um exemplo perfeito de inoperância. O rompimento do dique não é um problema novo: ocorreu também em 2007 e 2008, no mesmo ponto. A responsabilidade sobre a fragilidade daquela obra recai, no momento, sobre o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), do Ministério dos Transportes. Mas é pouco provável que, sozinho, o dique naquele ponto possa dar conta de todo o problema. Em Três Vendas o nível da água foi além das dimensões daquele dique. E ainda não há como prever, só naquele ponto, uma obra para dar conta dos problemas de centenas de quilômetros rio acima.
Soma-se à falta de investimento no rio a incapacidade dos governos locais de planejar minimamente a gestão de riscos. Segundo Paulo Canedo, apesar de não ser possível prever com 100% de certeza o momento e a intensidade desse tipo de incidente, era sabido, pelo menos dois dias antes do rompimento, que um volume de água acima do normal chegaria a Campos – cidade que tem como prefeita a ex-governadora do Rio Rosinha Garotinho. “O Brasil melhorou muito na qualidade da previsão do tempo. O problema é que quando a água chega à terra, não somos capazes de transformar os dados em informação, ou seja, não conseguimos distribuir os dados e transformar isso em ação. No Rio Muriaé, é possível prever a cheia com dois dias de antecedência”, alerta Canedo.
Sem comunicação - “Minas Gerais não tem controle de seus problemas ambientais e não comunica o Rio de Janeiro a tempo de tentar contornar a catástrofe”, diz o coordenador de Defesa Civil do noroeste fluminense, coronel Douglas Júnior Paulich. Os métodos para receber informações do estado vizinho acabam sendo os mais precários- e ineficientes. “Ficamos sabendo que o rio vai aumentar o seu nível por contatos pessoais que temos com Minas. Lá, é raridade pluviômetro e rede telemétrica”, explica Paulich.
Mesmo com as informações disponíveis, as cidades do Norte e do Noroeste foram apanhadas de surpresa. “Pela nossa previsão, a enchente em Italva era para chegar ao meio-dia de terça-feira. A enxurrada, no entanto, veio segunda à tarde, perto das 15h. Isso não estava previsto no sistema de meteorologia. Tanto é que marcamos reunião na segunda com o secretariado do município para nos prepararmos”, diz o secretário de Defesa Civil de Italva, Gedeão bispo de Souza.