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Intenção de recriar ministério esfria, mas Moro continua na "frigideira"

A união das pastas da Segurança Pública e da Justiça faz parte de um acordo para o ex-juiz ter aceitado deixar a magistratura e assumir o cargo de ministro

Bolsonaro e Moro: a união das pastas da segurança e da justiça faz parte de acordo entre os dois para o ex-juiz aceitar o cargo de ministro (Carolina Antunes/PR/Flickr)

Bolsonaro e Moro: a união das pastas da segurança e da justiça faz parte de acordo entre os dois para o ex-juiz aceitar o cargo de ministro (Carolina Antunes/PR/Flickr)

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Reuters

Publicado em 24 de janeiro de 2020 às 15h44.

A intenção de se recriar o Ministério da Segurança Pública arrefeceu na manhã desta sexta-feira com o recuo do presidente Jair Bolsonaro que, logo ao chegar à Índia, disse que a chance de a proposta vingar "no momento é zero", mas o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, vai continuar numa espécie de "frigideira" na tensa relação com seu chefe.

No desembarque em Nova Délhi, o presidente tratou de encerrar, por ora pelo menos, as especulações sobre o assunto. "A chance no momento é zero. Tá bom ou não? Tá bom, né? Não sei amanhã. Na política tudo muda, mas não há essa intenção de dividir. Não há essa intenção", disse Bolsonaro a jornalistas.

"Há interesse de parte de setores da política. Nós simplesmente aceitamos recolher as sugestões, educadamente dizemos que vamos estudá-las, e os ministérios continuam sem problema", acrescentou.

Bolsonaro havia afirmado na véspera que estudaria recriar o Ministério da Segurança Pública, depois de receber pedido de secretários estaduais da área nesse sentido na quarta-feira. O presidente, no entanto, adiantou que Moro seria contra a mudança.

A avaliação de uma fonte ligada a Moro, que pediu para não ser identificada, feita à Reuters na quinta-feira é que o episódio sobre a recriação da pasta da Segurança Pública faz parte de mais um lance da tentativa de desgastar o ministro, no momento em que pesquisas de opinião o apontam como mais popular que o presidente.

Além disso, embora afirme que apoiará a reeleição de Bolsonaro, Moro é visto como um potencial candidato no pleito presidencial de 2022.

Nesta sexta, a fonte disse que o ministro afirmou a interlocutores que pediria demissão do cargo caso Bolsonaro levasse adiante o plano de separar as pastas da Justiça e da Segurança Pública. Essa estrutura única fez parte do acerto que o então presidente eleito ofereceu a Moro --então principal juiz da operação Lava Jato-- para deixar décadas de magistratura e assumir o cargo no Executivo Federal.

O ministro da Justiça não recebeu nenhuma ligação do presidente para conversar sobre o assunto ao longo da quinta-feira, segundo a fonte. Nesta sexta pela manhã, ele foi ao gabinete do presidente em exercício, o vice Hamilton Mourão, para um encontro fora da agenda oficial de ambos.

Moro não falou com a imprensa nem na chegada nem na saída do encontro com o vice-presidente. Alvo de críticas de aliados do presidente por uma atuação independe no início do governo, Mourão submergiu nos últimos meses e recentemente se aproximou de Moro.

O ministro não vai comentar o assunto oficialmente, segundo a assessoria de imprensa.

Ideia não morreu

Apesar do recuo momentâneo do presidente, a intenção de defensores da ideia é seguir em campo pela recriação do ministério.

Um dos mais próximos aliados de Bolsonaro e cotado para a pasta exclusiva da Segurança Pública, o ex-deputado Alberto Fraga (DEM-DF) disse que, mesmo com a fala do presidente da desta sexta, vai continuar defendendo a recriação do ministério.

"Minha posição sempre foi de ter um Ministério da Segurança Pública", afirmou Fraga, ao destacar que foi um dos deputados que defendeu na época da gestão Michel Temer a criação da pasta. Esse ministério vigorou por menos de um ano.

Caso a proposta vingue, provavelmente Moro perderia ascendência sobre a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal, a gestão de presídios federais e a interlocução de políticas públicas de segurança com os Estados.

"Não é para esvaziar o Moro. Ele é um ícone do governo, na defesa do combate à corrupção", disse Fraga. "Agora, as pessoas têm que reconhecer, falando de segurança pública, tem que ser um técnico na área. Na Justiça, seja o Moro", argumentou o ex-deputado, para quem o mérito pela redução dos índices de criminalidade é dos Estados e não da gestão Moro.

O ex-deputado disse que seu nome não está à disposição para o cargo de nenhuma forma porque haveria pendências a resolver. Em breve, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal julgará um recurso da sua defesa contra uma condenação na época em que foi secretário de Transportes da capital.

Fraga citou o nome do secretário de Segurança Pública do DF, Anderson Gustavo Torres, como um quadro com capacidade para assumir o cargo. O ex-deputado argumentou que Torres, que é delegado da Polícia Federal, entende de segurança pública e vive os problemas da área. A Reuters não conseguiu contato com o secretário.

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