Repórter
Publicado em 3 de fevereiro de 2025 às 10h44.
Última atualização em 3 de fevereiro de 2025 às 11h20.
O secretário-executivo do Ministério dos Transportes, George Santoro, afirmou ao podcast EXAME INFRA que o trem de alta velocidade ligando as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro está "muito bem endereçado para o caminho correto".
"Ainda não saiu o EVTEA [Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental], mas o governo tem um 'cheiro' muito bom de que ele seja viável. O traçado está diferente do projeto original que o governo federal fez, corrigiu vários problemas, inclusive de limitações de licenciamento ambiental, e mitiga riscos", disse Santoro.
O plano de execução e operação do trem-bala vem sendo desenhado pela empresa TAV Brasil, criada em 2021 com o propósito de atuar com trens de alta velocidade.
Em 2023, a companhia conseguiu uma autorização da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) para construir e explorar o projeto pelo período de 99 anos.
O cronograma aprovado estabelece que o trem deverá estar em operação em um prazo de 10 anos. Para isso, a TAV ainda precisa realizar estudos sobre a viabilidade técnica, econômica e social e, posteriormente, obter as licenças prévias.
A ideia de ligar as duas principais cidades do país por um trem-bala foi proposta pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda em seu segundo mandato, em 2010. À época, o objetivo era deixar a obra pronta para as Olimpíadas do Rio de Janeiro, que aconteceram em 2016.
O projeto, no entanto, não saiu do papel, especialmente por dificuldades em tornar a iniciativa rentável. O custo inicialmente estimado é de R$ 50 bilhões.
De acordo com Santoro, a TAV Brasil tem avançado nas etapas necessárias para a implementação e caminha para finalizar o EVTEA e dar início ao processo de licenciamento ambiental. "Cabe ao Ministério dos Transportes, à Infra S.A. e a todo o nosso ecossistema apoiar as iniciativas de autorização. Estamos acompanhando e incentivando esse processo", afirmou o secretário.
Um dos pontos disruptivos para viabilizar o projeto, segundo ele, é a possibilidade de incluir receitas do setor imobiliário. Desde 2021, a lei de autorização ferroviária permite que o projeto, além de captar tarifas de uso, possa desapropriar áreas ao longo do traçado para a instalação de shoppings, condomínios, postos de gasolina e terminais logísticos.
Essa estratégia de "real estate", avalia o secretário, confere ao projeto uma capacidade ampliada de levantar recursos, proporcionando maior poder de barganha para a iniciativa.
O secretário ressaltou ainda a importância do diálogo com as prefeituras para a definição dos pontos de parada e a implantação das estações.
Ele citou a parceria já estabelecida com o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), e destacou que novas reuniões serão agendadas — inclusive com a participação do ministro dos Transportes, Renan Filho — para articular a visão de onde as estações devem ser implantadas.
"Com o prefeito [de São Paulo] Ricardo Nunes [MDB], a gente fez uma uma prévia, mas nós vamos marcar uma reunião para ele falar a visão dele de onde gostaria de ter essa estação, porque tudo isso envolve na mudança da cidade", disse Santoro.
Além das duas cidades, o trem-bala, que tem como objetivo o transporte de passageiros, percorrerá outras 27 cidades ao longo dos seus 380 quilômetros de extensão.
O projeto do TAV Brasil prevê a construção de quatro estações, além das capitais, uma na cidade de São José dos Campos (SP) e outra em Volta Redonda (RJ). O empreendimento será todo custeado pelo setor privado, como destacou o secretário.
"A empresa tem a ideia de fazer um trem direto e um trem com algumas paradas. Então, precisamos apoiá-la nessas conversas com as prefeituras, porque é o papel do ministério fazer isso", disse.
Santoro destaca que a interconexão dos dois principais centros econômicos do país tornará o deslocamento mais acessível.
"Atualmente, a ponte aérea tem custos elevados e o transporte rodoviário apresenta diversas implicações logísticas. Um TAV pode interligar essas cidades com baixo custo e impacto ambiental muito menor", destacou o secretário, ressaltando que o trem de alta velocidade gera externalidades positivas ao reduzir a emissão de poluentes.
Além disso, segundo ele, o projeto pode criar sinergias econômicas ainda maiores entre as duas metrópoles, favorecendo a mobilidade de trabalhadores, a integração dos mercados e até mesmo atividades de lazer, como facilitar o acesso a eventos culturais e esportivos.
Cerca 35 milhões de habitantes no eixo Rio-São Paulo poderão ser atendidos com o trem, que tem entrega prevista para 2032.
O EXAME INFRA é um podcast da EXAME em parceria com a empresa Suporte, especializada em soluções para obras e projetos de infraestrutura. Com episódios quinzenais disponíveis no YouTube da EXAME, o programa se debruçará sobre os principais desafios do setor de infraestrutura no Brasil.
Veja os episódios:
EP.3 - Rodovias, ferrovias, 'antídoto' para o câmbio: a agenda de R$ 160 bi do Ministério dos Transportes