O secretário da Reconstrução do Rio Grande do Sul, Pedro Capeluppi, foi 16º convidado do programa EXAME INFRA realizado pela EXAME, em parceria com a empresa Suporte (Leandro Fonseca/Exame)
Publicado em 21 de agosto de 2025 às 07h00.
Última atualização em 21 de agosto de 2025 às 07h10.
Mais de um ano depois da maior catástrofe climática de sua história, que deixou 183 mortos e 27 desaparecidos, o Rio Grande do Sul entrou em uma nova etapa do Plano Rio Grande, programa de recuperação estadual, marcado pela atração de capital privado.
Metade do montante de cerca de R$ 40 bilhões destinado para investimentos locais são oriundos da carteira de concessões e Parceria Público Privadas (PPPs) e contemplam rodovias, saneamento, mobilidade, saúde e educação, segundo o secretário da Reconstrução gaúcha, Pedro Capeluppi.
“Plano Rio Grande foi o nome que demos a essa grande estrutura, esse grande portfólio de projetos, bastante abrangente, que envolve ações em diversas áreas, mas que tem o objetivo de tornar o Estado mais adaptado”, afirmou o titular da pasta para o EXAME INFRA.
Capeluppi, 16º convidado do programa realizado pela EXAME, em parceria com a empresa Suporte, detalhou os projetos estruturados pela secretaria da Reconstrução, que surgiu da transformação da antiga Secretaria de Parcerias e Concessões.
O objetivo foi aproveitar a experiência da pasta em gestão de projetos integrados e parcerias público-privadas, garantindo que os investimentos pudessem ser implementados de forma ágil, independentemente de mudanças de governo.
O plano contempla um volume total de investimentos públicos diretos de cerca de R$ 20 bilhões, distribuídos em diversos projetos estratégicos.
Entre eles, estão a recuperação de rodovias afetadas pelas enchentes, construção de habitações, implantação de sistemas de proteção contra cheias, aquisição de radares meteorológicos e outras medidas para ampliar a capacidade preditiva do estado frente a desastres climáticos. Boa parte desses recursos deve ser aplicada nos próximos dois a três anos.
Paralelamente, o governo do estado estruturou uma carteira robusta de parcerias e concessões que soma aproximadamente mais R$ 20 bilhões em Capex, quase metade destinada a rodovias.
O governo do Rio Grande do Sul deverá lançar nas próximas semanas o edital do leilão do Bloco 2 de rodovias do Estado, que inclui trechos fortemente afetados pelas enchentes, em maio de 2024, na Vale do Taquari, no norte gaúcho. O modelo ainda aguarda aprovação do Tribunal de Contas estadual (TCE-RS).
O projeto prevê R$ 5,8 bilhões de investimentos e inclui 415 quilômetros de estradas, de Erechim até Venâncio Aires, passando por cidades como Passo Fundo, Muçum e Lajeado.
“A expectativa é lançar nas próximas semanas esse edital para ter leilão ali por volta de outubro desse ano ainda. Esperamos, sim, ter um leilão disputado. Estamos trabalhando com o mercado, com potenciais investidores, há algum tempo”, diz Capeluppi.
Entre as inovações nos contratos, estão a implementação de sistemas de cobrança via free flow, camadas drenantes em trechos críticos, alteamento de pontes e exigência de planos de monitoramento e mitigação de riscos geotécnicos, medidas que incorporam diretamente a experiência da tragédia climática.
O bloco 1, que contempla rodovias na região metropolitana de Porto Alegre até o litoral norte do estado, terá investimentos de cerca de R$ 6,5 bilhões. A expectativa é que a consulta pública para este projeto ocorra em setembro, seguindo estudos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), parceiro estruturador do projeto, e adotando também o sistema de cobrança free flow.
“Esse projeto previa a instalação de praças físicas, com aqueles pedágios mais altos, em alguns pontos específicos. Agora migramos ele para o sistema Free Flow, como no Bloco 2, para ter uma cobrança mais justa também. Esse leilão deve ficar ali para o primeiro semestre do ano de 2026”, afirma o secretário.
Além de rodovias, a carteira de concessões inclui grandes projetos de saneamento, com previsão de investimentos de R$ 7 bilhões, abrangendo municípios que não estavam sob gestão da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), privatizada em 2023 com a aquisição da Aegea Saneamento.
Em mobilidade urbana, estão previstas concessões do transporte metropolitano por ônibus, com Capex de aproximadamente R$ 3 bilhões, e o projeto com a Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre (Trensurb), em parceria com a União, que receberá cerca de R$ 1,5 bilhão.
No setor social, o estado aposta em duas PPPs estratégicas. Na educação, 99 escolas em áreas socialmente vulneráveis receberão revitalização e gestão predial, sem interferência na parte pedagógica, garantindo que professores e diretores possam focar no ensino.
“O Estado todo tem duas mais de 2.300 escolas estaduais. Nós estamos selecionando apenas 99 para esse primeiro projeto. Como que fizemos essa seleção? Nós usamos um programa que o Estado desenhou, que é o programa RS Seguro, que é a base, inclusive, para que o Estado tenha conseguido alcançar uma melhoria importantíssima nos indicadores de criminalidade”, afirma Capeluppi.
“Nós pegamos e usamos essa mesma delimitação, pegamos os pontos em que a criminalidade era mais alta no estado, para poder selecionar essas escolas. Ou seja, nós estamos indo às áreas mais vulneráveis socialmente do estado para garantir que escolas naquelas localidades tenham uma infraestrutura de ponta, para que os nossos alunos daqueles locais possam ter vontade, querer e se sentir bem dentro dessa infraestrutura e aí facilitar a vida dos nossos educadores que estão ali”, complementa.
O projeto de infraestrutura escolar terá investimento inicial de R$ 1,4 bilhão, com reinvestimentos ao longo do tempo.
Na saúde, um hospital será construído em Viamão, região metropolitana de Porto Alegre, com Capex de R$ 800 milhões, oferecendo alta e média complexidade, incluindo neurocirurgia, neurologia e ortopedia. O projeto conta com apoio técnico e consultoria do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
O setor aeroportuário também está no radar do Plano Rio Grande. Os aeroportos de Passo Fundo e Santo Ângelo terão investimentos de cerca de R$ 100 milhões, com contrato de 30 anos, e leilão previsto para 26 de setembro de 2025 na B3, a Bolsa de Valores brasileira.
Esses projetos visam ampliar a conectividade regional, fomentando o agronegócio e o turismo local. O Rio Grande do Sul já conta com aeroportos concedidos como o Salgado Filho, na capital gaúcha, Bagé, Pelotas e Uruguaiana.
“Temos um conjunto de aeroportos concedidos, que nos garante uma infraestrutura aeroportuária boa, mas nós temos que avançar. Olhando para a região mais a norte do estado, com os dois aeroportos de Passo Fundo e Santo Ângelo, teremos uma capacidade maior até para viabilizar um conjunto ainda maior de voos regionais para o estado”, disse o secretário.
“Esse é um trabalho de Estado, não é um trabalho de governo. Veja que tudo isso aconteceu faltando dois anos e meio para o fim de um mandato, e muitos dos projetos que nós temos em andamento aqui vão levar mais tempo para serem de fato executados. Então para isso tínhamos que ter uma estrutura muito robusta que tivesse essa capacidade de implementar os projetos e garantir que essa execução possa acontecer independentemente de trocas de governo”, finalizou Capeluppi.
O EXAME INFRA é um podcast da EXAME em parceria com a empresa Suporte, especializada em soluções para obras e projetos de infraestrutura. Com episódios quinzenais disponíveis no YouTube da EXAME, o programa se debruçará sobre os principais desafios do setor de infraestrutura no Brasil.
Ep. 1 - EXAME INFRA: SP planeja concessões de rodovias, CPTM e mais com R$ 30 bi em investimentos
Ep. 4 - '26 anos em 5': rodovias no Brasil terão R$ 150 bi em investimentos até 2030, diz presidente da ABCR
Ep. 5 - Com R$ 22 bi ao ano, Brasil ainda investe menos da metade para atingir meta de saneamento
EP. 6 - Privatização da Sabesp triplica velocidade da empresa, que contrata R$ 15 bi em 90 dias, diz diretor
EP. 7 - Investimento no Porto de Santos chega a R$ 22 bi e promete modernização e integração com a cidade
EP. 8 - Rumo investe R$ 6,5 bi para conectar terminal de grãos ao 'coração' da soja no MT
Ep. 9 - Concessionárias investirão R$ 40 bi de rodovias a hidrovias até 2029, diz CEO da MoveInfra
Ep. 10 - Fundos de investimentos se consolidaram no mercado de leilões, diz CEO de concessões de R$ 27 bi
Ep. 11 - 'Brasil tem pressa' e licenciamento ambiental deve ser votado antes do recesso, diz Arnaldo Jardim
Ep. 12 - Governo de São Paulo prepara leilão de R$ 20 bilhões para saneamento em cidades fora da Sabesp
Ep. 13 - Com R$ 30 bi em Capex até 2030, EcoRodovias prioriza seletividade, diz diretor-geral
EP. 14: Aegea avalia IPO em 2027 e prepara estrutura para novo ciclo de expansão e investimentos
EP. 15: Repactuação de rodovias atraem poucos players — mas Fernão Dias deve ter disputa, diz especialista