Schwartsman, economista-chefe do Santander Brasil: piso para câmbio tem um custo (Germano Lüders/Exame)
Da Redação
Publicado em 7 de fevereiro de 2011 às 14h11.
São Paulo - A inflação pode superar o teto da meta do Banco Central este ano, e as “inconsistências” de política econômica no governo tornam mais difícil a tarefa da autoridade monetária, disse o economista-chefe do Banco Santander Brasil SA, Alexandre Schwartsman.
“Em algum momento desse ano, no segundo ou terceiro trimestre, as chances de a inflação superar o teto da meta são enormes”, disse o economista em entrevista hoje na Bloomberg em São Paulo. “No final do ano podem sair alguns preços mais altos, e a inflação pode ficar ali entre 6 por cento e 6,5 por cento. Mas existe ainda o risco de que as pressões não sejam contrabalançadas e se colha uma inflação maior mesmo depois.”
Economistas elevaram a projeção de inflação brasileira para 2011 de 5,64 por cento para 5,66 por cento, segundo a pesquisa Focus do BC com cerca de 100 economistas divulgada hoje. A taxa prevista no levantamento é mais de um ponto percentual superior ao centro da meta de 4,5 por cento. Para 2012, a estimativa de alta do Índice de Preços ao Consumidor Amplo caiu de 4,7 por cento para 4,61 por cento, a primeira redução em três semanas.
Schwartsman, que foi diretor do BC durante o governo do ex- presidente Luiz Inácio Lula da Silva, disse que as principais fontes de pressões inflacionárias hoje no País são domésticas, e não externas. Segundo ele, o governo da presidente Dilma Rousseff erra ao tentar segurar a apreciação do real ante o dólar e ao não conter o aumento de gastos públicos.
“O governo colocou um piso para o câmbio”, disse Schwartsman. “Isso tem um custo.”
Câmbio e política fiscal
Na visão dele, o real valorizado vinha anulando, até 2010, o repasse do aumento de preços das commodities dentro da economia brasileira. A partir deste ano, quando o governo lançou mais medidas para sustentar o valor da moeda americana, esse efeito diminuiu, Com isso, os insumos agrícolas passaram a ficar mais caros no varejo, provocando inflação.
Outra “inconsistência” de política econômica, diz o economista-chefe do Santander, é o controle dos gastos públicos em um ambiente de aumento de renda da população. Schwartsman diz que duvida que a equipe econômica consiga entregar este ano um corte do orçamento na casa dos R$ 60 bilhões.
Esse seria o patamar mínimo, em sua opinião, para que o superávit primário seja suficiente para não aumentar ainda mais as pressões inflacionárias.
O setor público teve superávit primário de R$ 10,85 bilhões em dezembro, encerrando 2010 com 2,78 por cento do Produto Interno Bruto. O resultado ficou abaixo da meta de 3,1 por cento para o ano, segundo dados do BC. A participação da dívida líquida do setor público no PIB subiu 0,4 ponto percentual, para 40,4 por cento do PIB em dezembro.
Apertar o passo
Sem o ajuste nas contas públicas, Schwartsman disse acreditar que o BC terá de apertar o passo na luta contra a inflação e lançar mais medidas que venham a conter o ritmo da demanda.
“Algum tipo de medida de restrição do crédito acho que é bastante possível que aconteça para complementar ou limitar o montante de aumento de juros necessário para conter a inflação”, disse ele. Schwartsman projeta a Selic em 13 por cento no fim do ciclo atual de aperto monetário.
Para o executivo, o problema é que as chamadas medidas macroprudenciais têm efeito menos previsível sobre a economia do que o impacto do aperto realizado por meio de juros. Isso gera incerteza entre os agentes econômicos, que se traduz em maior volatilidade nos mercados futuros, disse ele.
“Uma expectativa de inflação mais alta, não só medida pelo boletim Focus, mas também pela diferença entre os papéis prefixados e os papéis indexados, dá uma estimativa do que é a inflação implícita, mais alguns prêmios de risco, o que acaba implicando o aumento do custo de captação do Tesouro”, disse.