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Inflação deve romper teto de 6,5% em agosto, alertam analistas

Setor de serviços deverá ser um dos principais motores da alta; quadro é agravado pela impossibilidade de absorver novos choques de oferta

Economistas alertam que batalha contra inflação em 2012 também não será tranqüila

Economistas alertam que batalha contra inflação em 2012 também não será tranqüila

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Da Redação

Publicado em 5 de março de 2011 às 14h47.

São Paulo - O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial da inflação no Brasil, divulgado nesta sexta-feira – com aumento mensal de 0,8% – reafirma opinião consensual dos economistas de que não será fácil desacelerar a tendência de alta dos preços. A elevação progressiva dos juros e novas medidas macroprudenciais poderão, quiçá, fazer com que o IPCA chegue ao final de 2011 dentro do número máximo estipulado pelo Banco Central, que é de 6,5%. Um grupo de instituições financeiras, mais pessimistas, acreditam que essa meta torna-se mais improvável a cada dia. A razão é que o 'cobertor está curto' – as medidas do governo mostram-se ineficazes no combate à alta dos preços; a inflação de serviços custa a ceder; e não há possibilidade de absorver mais nenhum choque de preços (como de alimentos e petróleo). Para 2012, um forte reajuste do salário mínimo deve botar mais combustível no cenário inflacionário.

O banco JPMorgan prevê que o índice deverá chegar a 6,9% já em agosto, no acumulado em 12 meses. “Enquanto é quase certo que o IPCA vai romper o teto da banda em julho ou agosto, também é esperado que ele desacelere no segundo semestre e feche o ano por volta de 6%”, afirma o economista-sênior do banco, Julio Callegari.

Antes que os brasileiros com memória inflacionária pensem que, do dia para noite, os preços começarão a ser remarcados nas prateleiras, é preciso entender que esse mal ainda está longe. No entanto, preocupa o fato de o país não conseguir, mesmo com medidas austeras de contração de crescimento, atingir a meta de inflação anual. “Há componentes rígidos muito acima do teto, como o setor de serviços, cuja inflação já supera 8%”, afirma Callegari.

Sem espaço para correções – Outra preocupação relacionada ao avanço inflacionário é a total ‘falta de espaço’ para que qualquer ‘choque de oferta’ – que se dá quando um problema pontual em determinado setor prejudica abruptamente a produção e faz disparar os preços – seja absorvido. Isso significa que, caso haja outra elevação forte e rápida nos preços dos alimentos, automaticamente o IPCA será contaminado.

O grande temor dos economistas no momento refere-se ao recente aumento das cotações do petróleo. Nesta sexta-feira, o barril está cotado a 115 dólares, mantendo a tendência de elevação que perdura desde o final de 2010, e que foi aprofundada por conta da instabilidade no Oriente Médio e no Norte da África. Uma possível piora destas turbulências políticas poderiam dar novos impulsos aos preços.

Por enquanto, no Brasil, o risco está afastado porque a Petrobras acaba ‘absorvendo’ este choque – o preço do barril em alta não é repassado aos preços internos, o que acaba afetando as margens da petrolífera. Ainda é um mistério se a estatal manterá indefinidamente esta política e até quando ‘aguentará’ amargar prejuízo (justo num período em que precisa ter caixa para fazer frente a seu bilionário plano de investimento na camada pré-sal). Em comunicado enviado ao site de VEJA, a estatal afirmou que sua política é de “não repassar alterações no preço dos combustíveis no curto prazo”. A empresa reiterou que visa o longo prazo e “não passa a volatilidade do mercado para os preços atuais”.

“Na ocasião de um repasse de custos pela Petrobras, em virtude dos conflitos no norte da África e no Oriente Médio, a inflação poderia extrapolar o topo da banda”, afirma o economista-chefe do banco Barclays, Marcelo Salomon.

A boa notícia é que o segundo semestre deve apresentar preços mais acomodados, em reação à desaceleração da economia doméstica. Por isso, os economistas trabalham com a possibilidade de a inflação acumulada em 12 meses recuar, de modo, que em dezembro, não ultrapassaria o topo da meta inflacionária (6,5%) neste ano. Mesmo assim, mais uma vez, o país continuaria distante do centro da meta (4,5%).

Futuro incerto – Se a batalha de 2011 contra a inflação já parece perdida, a de 2012 tampouco será tranqüila. Apesar de ter apresentado o corte de 50 bilhões de reais no Orçamento da União, o governo não sinalizou um plano de contenção de despesas de longo prazo – o que faz com que as projeções para a inflação no ano que vem mantenham-se altas, em 4,8%, segundo o boletim Focus, do BC.

Para Julio Callegari, do JPMorgan, o acordo fechado entre o governo e as centrais sindicais no que se refere ao valor do mínimo é outro ponto preocupante. O pacto – transformado em lei até 2015 – prevê o reajuste anual da inflação acrescido da alta do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos antes. Isso significa que, em 2012, o mínimo poderá subir mais de 12%, graças à aceleração de 7,5% na economia brasileira em 2010 – o que afetaria de maneira expressiva as contas públicas e exerceria pressão adicional sobre a demanda.

Ainda entre os fatores que podem impulsionar a alta da inflação está o dólar. Apesar de as previsões apontarem para uma estabilização no valor da moeda americana, caso alguma mudança aconteça e aumente o apetite dos investidores por dólares, levando-os a apreciar, os efeitos inflacionários seriam imediatos. A razão: as importações, que já somam 30,3 bilhões de dólares em 2011, respondem por boa parte da demanda interna.

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