Com rosto e corpo adornados com pinturas tradicionais, e com penas, lanças, arcos e flechas, 150 indígenas das etnias Munduruku, Arara, Kaiapó e Xipaia se instalaram na sede da Funai (AFP)
Da Redação
Publicado em 11 de junho de 2013 às 19h38.
Cento e cinquenta índios da Amazônia ocuparam esta terça-feira a Funai, em Brasília, como parte de uma escalada nos protestos dos povos nativos descontentes com o governo e um Parlamento dominado pelo lobby agrícola.
Com rosto e corpo adornados com pinturas tradicionais, e com penas, lanças, arcos e flechas, 150 indígenas das etnias Munduruku, Arara, Kaiapó e Xipaia se instalaram na sede da Funai.
Diante do olhar curioso dos brasilienses, um grupo menor de índios fez uma passeata pela capital para pedir a atenção do Executivo e do Legislativo.
Os indígenas chegaram a Brasília há uma semana para se reunir com o governo, após terem ocupado as obras da gigantesca hidrelétrica de Belo Monte, em construção em plena Amazônia. Mas a reunião não os convenceu.
"O governo faz decretos que passam por cima dos direitos sobre os nossos territórios, constrói hidrelétricas sem nos consultar, e o Congresso quer reformar a Constituição contra os nossos direitos", disse à AFP o líder indígena Valdenir Munduruku.
Os protestos de índios brasileiros ganharam força em abril, quando líderes de 121 etnias de todo o país invadiram o plenário da Câmara dos Deputados para exigir seus direitos e acusaram a presidente Dilma Rousseff de ser "anti-indígena" e de favorecer os agricultores de um país recordista em exportação de alimentos.
"Dilma é aliada de quem nos mata, rouba nossas terras e nos falta com respeito", disseram em um comunicado.
"A mobilização dos indígenas é uma reação ao ataque aos seus direitos: o governo freou os processos de reconhecimento de suas terras e direitos indígenas reconhecidos na Constituição estão em risco por iniciativas no Parlamento, dominado pelo lobby dos agricultores", disse à AFP o secretário executivo do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Cleber Buzatto.
Na última semana, o governo se viu em meio ao fogo cruzado de protestos que levaram quase 200 indígenas à capital federal.
Os Terena denunciaram a morte de um integrante de sua tribo em um confronto com a polícia em uma fazenda de agricultores do estado de Mato Grosso do Sul (centro-oeste), no âmbito de uma desocupação forçada da propriedade que os nativos exigiam como sua.
Já os Munduruku protestavam contra a construção de Belo Monte e de outro complexo hidrelétrico no rio Tapajós, no Pará, exigindo ser consultados sobre as obras.
No ano passado, os Guarani-Kaiowá do centro-oeste do país chamaram a atenção do mundo ao resistir à desocupação de uma fazenda que dizem estar dentro de suas terras ancestrais.
Diante do aumento do conflito, a poderosa Confederação Nacional da Agricultura convocou para a sexta-feira um protesto dos produtores rurais nas ruas das cidades.
"Não estão respeitando os direitos dos produtores rurais", denunciou a presidente da entidade e senadora Katia Abreu.
No Brasil vivem 896.900 indígenas de 305 etnias.
As terras indígenas ocupam 12% do território, boa parte na Amazônia. Há, no entanto, muitas terras pendentes de reconhecimento em áreas povoadas e ocupadas por colonos para a agricultura.
"Chegamos a uma situação em que os conflitos estão aumentando, inclusive porque as novas áreas (reivindicadas) estão em regiões de maior concentração da população", justificou a ministra chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann.
Após várias ocupações de indígenas, as obras de Belo Monte voltaram à normalidade, informou o consórcio responsável, e os Munduruku tinham previsto deixar Brasília e voltar na quarta-feira a suas terras.
A situação dos Terena em Mato Grosso do Sul se mantém tensa, depois que a justiça adiou seu desalojamento e o governo se comprometeu a criar uma comissão para negociar com indígenas e fazendeiros, explicou o coordenador do CIMI no local, Flavio Machado.