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Índios denunciam invasão de garimpeiros e morte de cacique no Amapá

O Conselho das Aldeias Waiãpi-Apina disse, em nota, que o cacique Emyra Waiãpi foi morto de forma violenta na última segunda-feira (22) na aldeia Waseity

Amapá: segundo relatos, os garimpeiros estavam acampados no interior da reserva (Tomaz Silva/Agência Brasil/Agência Brasil)

Amapá: segundo relatos, os garimpeiros estavam acampados no interior da reserva (Tomaz Silva/Agência Brasil/Agência Brasil)

Karla Mamona

Karla Mamona

Publicado em 28 de julho de 2019 às 15h49.

Última atualização em 29 de julho de 2019 às 09h42.

Índios denunciaram às autoridades públicas que garimpeiros invadiram a Terra Indígena Waiãpi, no oeste do Amapá, e que um cacique foi morto durante a invasão. Segundo relatos, os garimpeiros estavam acampados no interior da reserva.

O Conselho das Aldeias Waiãpi-Apina disse, em nota, que o cacique Emyra Waiãpi foi morto de forma violenta na última segunda-feira (22) na aldeia Waseity.

No entanto, a morte do líder não foi testemunhada por nenhum índio da etnia e só foi percebida na manhã de terça-feira. De acordo com a entidade, na sexta-feira (26), moradores da aldeia Yvytotô se depararam com um grupo de índios não armados e avisaram as demais aldeias pelo rádio. À noite, os invasores entraram na aldeia e se instalaram em uma das casas, ameaçandos os índios, que fugiram para outras aldeias da região.

Funai

Em nota, a Fundação Nacional do Índio (Funai) informou que acionou as autoridades competentes assim que soube da ocorrência, no sábado (27). O órgão indigenista, vinculado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, deslocou uma equipe para o local, considerado de difícil acesso. Equipes da Polícia Federal (PF) e do Batalhão de Operações Especiais (Bope), da Polícia Militar do Amapá, também estão na região para apurar o ocorrido.

Ontem mesmo, a Procuradoria do Ministério Público Federal (MPF) no estado instaurou uma investigação criminal para apurar a morte do indígena Waiãpi. Procuradores já pediram à PF informações a respeito das denúncias de invasão à terra indígena e sobre as providências já adotadas para “evitar o agravamento do conflito”. "Não é possível afirmar com certeza o que ocorreu até agora", disse o procurador da República Rodolfo Lopes.

Em vídeo divulgado ontem nas redes sociais, pela prefeita de Pedra Branca do Amapari, Beth Pelaes (PMDB), o coordenador indígena do município Kurani Waiãpi relata que, segundo os Waiãpi, ao menos 50 garimpeiros fortemente armados estavam acampados já há alguns dias próximo à aldeia Mariry, no interior da terra indígena.

De acordo com a prefeita, os garimpeiros mataram um dos líderes indígenas da etnia na quarta-feira.

Frente

Em nota, a Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas manifestou preocupação com o ataque e a invasão ao território indígena. “Reiteramos a obrigação do Estado brasileiro garantir o direito dos povos indígenas de terem medidas que evitem a prática constante contra a vida e os seus bens e de proteção devida diante da grave violação dos seus direitos, com a repressão e punição dos responsáveis”, destacou a frente parlamentar.

Também em nota, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) afirmou esperar que os órgãos e autoridades públicas tomem medidas urgentes, estruturantes e isentas politicamente, para identificar e punir, na forma da lei, os responsáveis pelo ataque aos Waiãpi. “Esperamos também que o governo Bolsonaro adote medidas amplas de combate à invasão e esbulho possessório das terras indígenas no país”, destacou a organização indigenista, que é vinculada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

A demarcação da Terra Indígena Waiãpi foi homologada em 1996, por meio de um decreto presidencial assinado pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. A terra mede pouco mais de 607 mil hectares (cada hectare corresponde, aproximadamente, às medidas oficiais de um campo de futebol oficial), espalhados pelo território de três municípios: Laranjal do Jari, Mazagão,Pedra Branca do Amapari.

Investigação

A Polícia Federal abriu inquérito no domingo para investigar a morte do cacique, após relatos de um possível ataque ao local, informou a Fundação Nacional do Índio (Funai).

De acordo com a Funai, a Coordenação Regional da Fundação Nacional do Índio no Amapá encaminhou para a presidência do órgão no sábado memorando informando sobre um possível ataque à Terra Indígena Waiãpi.

A Funai disse que, por se tratar de um local de difícil acesso, a fundação alertou os órgãos de segurança da área para se certificar da veracidade das informações.

"Neste domingo, após a chegada de servidores da Fundação, da Polícia Federal e do Bope, foi aberto inquérito pela PF para apuração da morte de um cacique que foi a óbito na semana passada", informou a Funai em nota.

De acordo com a fundação, servidores da Funai encontram-se no local e acompanham o trabalho da polícia.

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