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Indígena brasileiro leva "Nobel Alternativo" por luta pela Amazônia

Prêmio é entregue um dia depois do discurso do presidente Bolsonaro na ONU, que foi alvo de críticas por ativistas dos povos indígenas

Davi Kopenawa: indígena brasileiro foi um dos ganhadores do prêmio Right Livelihood Award de 2019 (Luke MacGregor/Reuters)

Davi Kopenawa: indígena brasileiro foi um dos ganhadores do prêmio Right Livelihood Award de 2019 (Luke MacGregor/Reuters)

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Clara Cerioni

Publicado em 25 de setembro de 2019 às 10h21.

Última atualização em 25 de setembro de 2019 às 10h24.

São Paulo — O indígena brasileiro Davi Kopenawa foi um dos ganhadores do prêmio Right Livelihood Award de 2019, conhecido popularmente como o "Prêmio Nobel Alternativo".

Segundo um comunicado da entidade, o prêmio considera a "corajosa determinação de Kopenawa  em proteger as florestas e a biodiversidade da Amazônia, e as terras e a cultura de seus povos indígenas".

Para a instituição, Kopenawa "dedicou sua vida a proteger os direitos dos Yanomami, sua cultura e suas terras na Amazônia". Fundador e presidente da Hutukara Associação Yanomami, em Roraima, o líder indígena denuncia o garimpo ilegal nas terras de sua tribo.

“Estou muito feliz em receber o prêmio. Vem na hora certa e é uma demonstração de confiança em mim e em Hutukara e em todos aqueles que defendem a floresta e o planeta Terra", afirmou Kopenawa.

"O prêmio me dá forças para continuar a luta para defender a alma da floresta amazônica. Nós, os povos do planeta, precisamos preservar nossa herança cultural, como Omame [o Criador] ensinou: viver bem cuidando de nossa terra, para que as gerações futuras continuem a usá-la", concluiu.

Além do indígena, também receberam a premiação, a sueca ativista ambiental, Greta Thunberg, Aminatou Haidar, defensora de direitos humanos no Marrocos, e a chinesa Guo Jianmei, advogada e ativista dos direitos das mulheres. Cada vencedor vai receber um prêmio em dinheiro no valor de 103 mil dólares.

Bolsonaro na ONU

A honraria foi entregue um dia depois do discurso do presidente Jair Bolsonaro na Organização das Nações Unidas, que teve como foco a questão dos povos indígenas no Brasil. A expectativa era que as queimadas na Amazônia tomassem a maior parte de sua fala.

Bolsonaro citou em "ambientalismo radical" e "indigenismo ultrapassado" ao ler uma carta atribuída a uma comunidade indígena, e criticou o líder da etnia caiapó cacique Raoni, indicado ao prêmio Nobel da Paz.

Acompanhado da indígena Ysani Kalapalo, do Xingu, que se declara uma "indígena do século 21", Bolsonaro improvisou em relação ao discurso que tinha levado escrito e decretou: "Acabou o monopólio do senhor Raoni".

A fala se refere ao fato de Ysani ter poder de representatividade dos povos indígenas por ter sido endossada em carta do Grupo dos Agricultores Indígenas do Brasil, assinada por 52 etnias.

Líderes indígenas brasileiros, que estão em Nova York para acompanhar a marcha contra as mudanças climáticas e a Cúpula do Clima da ONU, fizeram uma forte manifestação de repúdio às declarações do presidente.

"Hoje foi um dia de terror para os povos indígenas do Brasil e do mundo. Bolsonaro fez um discurso de intolerância e muita truculência. Essa fala será histórica, infelizmente, porque mancha o legado brasileiro nas Nações Unidas", afirmou Sônia Guajajara, da Terra Indígena Arariboia, no Maranhão, e coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).

Citado por Bolsonaro, o cacique Raoni Metuktire estava previsto para falar com a imprensa nesta terça-feira (25), mas passou mal e se dirigiu para o aeroporto para retornar ao Brasil. 

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