Ilan Goldfajn: para Lindbergh há um “claro conflito de interesses na indicação de economista” (Eduardo Monteiro/EXAME)
Da Redação
Publicado em 31 de maio de 2016 às 12h58.
A sabatina do economista indicado à presidência do Banco Central, Ilan Goldfajn, pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, foi adiada e não será feita a tempo para que, se aprovado na CAE e depois pelo plenário da Casa, ele participe da próxima reunião do Conselho de Política Monetária (Copom).
A reunião do Copom está marcada para as próximas terça (7) e quarta-feira (8) e a sabatina foi remarcada para a próxima terça-feira, às 10h, depois de um impasse na Comissão.
Na semana passada, a presidente da CAE, senadora Gleisi Hoffmann (PT-SC), chegou a confirmar a sabatina para amanhã (1).
Na ocasião, a senadora disse que acordo foi feito com o relator do processo, senador Raimundo Lira (PMDB-PB) pelo fato do atual presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, ter dito a ela que não se sentiria à vontade para conduzir a primeira reunião do Copom, no governo interino de Michel Temer, que vai definir a Selic, a taxa básica de juros da economia – atualmente fixada em 14,25 %, ao ano.
Ao apresentar a proposta na comissão hoje e após a leitura do relatório de Lira, que atesta que Goldfajn preenche todos requisitos para o cargo, Gleisi não conseguiu consenso com o senador Lindbergh Farias (PT-RJ).
Em uma sessão tumulada e marcada por protestos de apoiadores do governo Temer, o petista exigiu que fosse cumprido um intervalo de cinco dias, previsto pelo regimento do Senado, entre a apresentação do relatório e a sabatina do indicado.
Um dos argumentos usados por Lindbergh Farias para adiar a sabatina de Goldfajn foi o fato de o economista figurar entre os sócios do Itaú Unibanco desde agosto de 2010.
Para Lindbergh há um “claro conflito de interesses na indicação de economista”, já que o BC tem como função fiscalizar o sistema financeiro nacional.
O senador petista ressaltou ainda que, mesmo que Ilan Goldfajn venda as ações do Itaú, conforme disse que faria, a ligação com a instituição financeira se mantém.
Para Lindbergh, além de fiscalizar o banco ao qual sempre foi ligado, ele terá informações sobre todas as outras instituições financeiras que poderiam beneficiar o Itaú, maior banco privado do país.
Lindbergh argumentou ainda que, como o processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff ainda não foi encerrado no Senado, um novo presidente para o BC poderia trazer uma instabilidade econômica.
“E se a presidente Dilma voltar? Porque é tanta crise neste governo do presidente interino Michel em 15 dias! Tantas crises! Olhem que instabilidade nós estaríamos passando: colocar um novo presidente do Banco Central, a presidenta Dilma volta e se muda o presidente do Banco Central novamente?”, ponderou.
Diante da polêmica da reunião, Raimundo Lira, disse pouco antes do fim da reunião da CAE, que recebeu uma ligação de Goldfajn na qual ele afirma que já se desfez de todas as ações do Itaú.
Relatório
No relatório, que também será apreciado na semana que vem, Lira diz que o currículo de Goldfajn revela “o nível de qualificação profissional e a formação técnica e acadêmica do indicado, ficando, assim, esta Comissão de Assuntos Econômicos em condições de deliberar sobre a indicação do senhor Ilan Goldfajn para ser conduzido ao cargo de presidente do Banco Central do Brasil”.
O relator destaca que o indicado possui “uma longa experiência profissional nos setores público e privado”.
Goldfajn foi professor de Economia na Universidade Brandels nos Estados Unidos da América e na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, diretor de institutos de debates e pesquisas em políticas econômicas e consultor do Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial e Nações Unidas, além de economista-chefe e sócio do Banco Itaú.
Na declaração que enviou à CAE na semana passada, Ilan Goldfajn disse que além de experiência profissional tem “afinidade intelectual e moral” para exercer o cargo de presidente do BC.
O economista também lembrou que já teve seu nome aprovado pelo Senado quando foi diretor de Política Econômica do BC, entre 2000 e 2003.
"Entendo que essa experiência relatada capacita-me para o desempenho do cargo de presidente do Banco Central do Brasil", observou.