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Hotéis do crack são depredados e vaga fica mais cara

O valor do repasse da prefeitura aos proprietários dos estabelecimentos, que hoje é de R$ 480 mensais por hóspede, deve chegar a cerca de R$ 500


	Usuários de crack: donos de hotéis têm dúvidas sobre vantagem de negócio feito com a prefeitura para abrigá-los
 (Marcelo Camargo/ABr)

Usuários de crack: donos de hotéis têm dúvidas sobre vantagem de negócio feito com a prefeitura para abrigá-los (Marcelo Camargo/ABr)

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Da Redação

Publicado em 1 de fevereiro de 2015 às 12h43.

São Paulo - A Prefeitura de São Paulo avalia reajustar o repasse fornecido aos proprietários dos sete hotéis credenciados no programa De Braços Abertos, como forma de reparar os danos causados pelos recorrentes roubos por parte dos beneficiários.

O valor, que hoje é de R$ 480 mensais por hóspede, deve chegar a cerca de R$ 500. Com o reajuste, o objetivo é elevar o nível de exigência de limpeza, segurança e manutenção dos hotéis.

Internamente, autoridades das Secretarias de Saúde, Trabalho e Assistência Social e entidades parceiras chamam de "repactuação" a necessidade de aperfeiçoamento do repasse, por causa do furto de vasos sanitários, chuveiros, colchões e fiação elétrica nos estabelecimentos. Dependentes químicos beneficiados pelo programa e proprietários confirmaram os delitos no interior dos hotéis, relatando ainda o sumiço de pertences pessoais dos moradores, como relógios, celulares e roupas.

Após o primeiro ano de implementação do programa, a proprietária Laid dos Santos, do Hotel Laid, no Largo Coração de Jesus, tem dúvidas se fez bom negócio ao abrir mão da pensão de meninas para firmar o convênio.

"Não sei se valeu a pena a troca. Mesmo fazendo esforço e tendo o pessoal da Prefeitura de retaguarda, os beneficiários são difíceis", disse. Segundo Laid, há casos de moradores que roubam lençóis para vender por R$ 0,50 a unidade em troca de pedras de crack.

"Temos vontade de ter bons resultados com o programa, mas acho que a Prefeitura precisaria pagar mais do que R$ 480. É muito gasto por mês", afirmou Laid. A reportagem esteve no local e presenciou o consumo de crack no interior de um quarto úmido, que acumulava montanhas de lixo e um colchão rasgado no chão. O teto de outro quarto, onde dormem quatro pessoas, cedeu há poucos dias e o reparo ainda não começou a ser feito.

A beneficiária do programa e moradora do Hotel Laid, Brenda Bracho, trabalha na limpeza do estabelecimento e confirma o sumiço de lâmpadas. Segundo ela, dos 34 hóspedes, "a maioria não se dedica, fica na rua e só volta para dormir no hotel uma vez por semana". Para Brenda, porém, o mais grave é a falta de higiene dos beneficiários.

"Eles destroem portas, janelas e camas, tiram as lâmpadas, quebram vaso sanitário, roubam os chuveiros, rasgam ou vendem os colchões", queixou-se David Ferreira, proprietário do Hotel Lucas, na Alameda Dino Bueno.

As camas de madeira danificadas pelos moradores chegaram a ser substituídas pela Prefeitura por novas unidades feitas de ferro, que, no entanto, já voltaram a ser destruídas, afirmou o administrador. Apesar das críticas, Ferreira reconhece que em um ano de programa é visível a queda no número de assaltos e a melhora na conservação das ruas na região da Luz.

Descredenciado

O Estado apurou que pelo menos metade das dificuldades do programa De Braços Abertos hoje é com alguns donos dos hotéis credenciados, que estariam chantageando a Prefeitura.

Desde o ano passado, o programa opera com um estabelecimento a menos, o Hotel Cícero, que teve de ser interditado em outubro por falta de condições estruturais. "A portaria estava fora do controle e a caixa d'água precisava de conserto", explica Cristina Viscome, coordenadora de campo da Secretaria de Assistência Social.

Localizado na Rua Helvetia com Alameda Dino Bueno, o estabelecimento descredenciado é administrado por Manuel de Souza Costa, dono de outros dois hotéis do programa na região. De acordo com ele, o motivo para a desvinculação do Hotel Cícero tem origem no roubo de extintores, chuveiros, fiação elétrica e lâmpadas de emergência, o que tornou impraticável a permanência no programa.

Mesmo admitindo que estava ciente da possibilidade de roubo no estabelecimento ao assinar o convênio, Costa não se conforma com o valor desembolsado para reerguer a estrutura do hotel. Os gastos com a reforma, que deve ser concluída em 15 dias, totalizaram R$ 80 mil, de acordo com ele.

Após a finalização das obras, Costa afirma que não negociará a reinclusão do hotel no programa. A ideia é alugar o espaço para projetos sociais ou para a Igreja. "A Prefeitura falou que vai ressarcir o valor da reforma na segunda-feira (02)", afirmou ele, referindo-se aos R$ 80 mil da reforma. A Prefeitura de São Paulo negou o custeio das obras e sustentou que a manutenção, segurança e limpeza dos hotéis são de responsabilidade dos proprietários. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo

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