O armazenamento médio nas duas regiões ao fim de julho deste ano era de 25,97% (Paulo Whitaker/Reuters)
Agência O Globo
Publicado em 2 de agosto de 2021 às 08h35.
Os reservatórios de hidrelétricas do Sudeste e do Centro-Oeste chegaram ao fim de julho com o armazenamento médio mais baixo de toda a série histórica disponibilizada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e que teve início em 2000. Os números para o mês são piores, inclusive, que julho de 2001, ano em que o país enfrentou um racionamento de energia.
O armazenamento médio nas duas regiões ao fim de julho deste ano era de 25,97%. Em 2001, na mesma época, o nível médio dos reservatórios era de 26,85%.
Além disso, o ONS já espera que agosto se encerre com um nível de armazenamento para o Sudeste/Centro-Oeste também piores que 2001. O órgão calcula que as barragens dessas regiões devem terminar este mês com 21,4% da capacidade de armazenamento. Em 2001, o mês de agosto terminou com 23,45% de volume de água dos reservatórios.
As regiões Sudeste e Centro-Oeste concentram mais da metade da capacidade de armazenamento do setor elétrico nacional e são represas que costumam ficar com níveis mais altos ao longo do ano.
Elas são usadas para "regularizar" o sistema, ou seja, garantir o fornecimento de energia mesmo nos momentos de seca.
Esses reservatórios também estão próximos dos principais centros de consumo e há limites de transmissão de energia entre o Norte e Nordeste para o Centro-Sul. Por isso, o nível da água do Sudeste/Centro-Oeste é o que mais preocupa o governo.
Mesmo que as hidrelétricas do Norte e do Nordeste tenham níveis melhores de armazenamento, nem tudo que é gerado pode ser transmitido para o restante do país.
O cenário com que o ONS trabalha também prevê chuvas abaixo da média histórica nas regiões. O órgão prevê que a quantidade de chuvas nas hidrelétricas de Sudeste e Centro-Oeste fiquem cerca de 40% abaixo da média histórica.
O governo nega risco de um novo racionamento. Entretanto, admite a gravidade da situação, já emitiu alerta de risco hídrico e anunciou medidas para evitar escassez de energia.
Uma medida provisória (MP) publicada no mês passado permite centralizar a gestão da crise no Ministério de Minas e Energia (MME) e também criar um comitê de crise.
O ONS prevê para agosto elevação de 4,6% no consumo do sistema nacional de energia, na comparação com o mesmo período de 2020. A alta é influenciada pela recuperação da economia mais forte do que a prevista no início do ano em função do avanço da vacinação no país.
Os dados do ONS também refletem a expectativa de que o consumo de energia do setor industrial se mantenha em patamares elevados e de que o de segmento de serviços se normalize nos próximos meses.
A queda no nível dos reservatórios também provoca o encarecimento das tarifas de energia no país porque, para garantir o suprimento de eletricidade, o governo aciona usinas termelétricas, que são mais caras — além de poluentes.
Deve operar pelo menos até novembro a bandeira vermelha 2 (a mais alta do sistema), que cobra um valor de R$ 9,49 a cada 100 quilowatts-hora consumidos.
Depois do racionamento de 2001, o Brasil promoveu a diversificação do sistema elétrico, ou seja, investiu em diferentes fontes de geração de energia, como a térmica, a eólica e a solar.
É essa diversificação, especialmente o parque de usinas termelétricas, que dá hoje mais segurança ao sistema e permite que o país atenda à demanda por energia. A interligação do sistema também deu segurança ao processo.
O governo vem tomando uma série de medidas, como privilegiar o uso dos reservatórios para a geração de energia (e reduzir a vazão da água para outros fins).
O Ministério de Minas e Energia também prepara a entrada de mais usinas térmicas no sistema, além de negociar com operadores a inauguração de usinas de geração de energia e também de linhas de transmissão de energia.
Numa tentativa de atuar pelo lado da demanda, o governo negocia com a indústria a redução do consumo no horário de pico (entre 12h e 18h), em troca de desconto nas contas de luz.