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Hausmann: “Até quando o Brasil cruzará os braços para Venezuela?”

Ricardo Hausmann, professor de Harvard que defende intervençāo na Venezuela, responde a ataque do ministro Aloysio Nunes

RICARDO HAUSMANN: O que está acontecendo na Venezuela é algo que nunca aconteceu na América Latina (Bryan Bedder for Concordia Summit/Getty Images)

RICARDO HAUSMANN: O que está acontecendo na Venezuela é algo que nunca aconteceu na América Latina (Bryan Bedder for Concordia Summit/Getty Images)

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EXAME Hoje

Publicado em 10 de janeiro de 2018 às 12h59.

Última atualização em 10 de janeiro de 2018 às 15h22.

Cambridge, Massachusetts (EUA) — Em entrevista exclusiva a EXAME na noite de terça-feira 9, o venezuelano Ricardo Hausmann, professor da Universidade Harvard, deu declarações em resposta a Aloysio Nunes, o ministro das Relações Exteriores.

“O direito internacional fala da defesa coletiva da democracia e da universalidade dos direitos humanos. Vamos deixar a defesa desses pontos sempre com as grandes nações ou o Brasil alguma vez vai se elevar ao nível dos países que têm alguma responsabilidade internacional? Até quando os brasileiros estão dispostos a ficar de braços cruzados enquanto acontece uma tragédia em um país vizinho e irmão?”, perguntou Hausmann, um dos economistas especializados em desenvolvimento mais respeitados do mundo. Ex-ministro do Planejamento na Venezuela, Hausmann é também colunista de EXAME Hoje.

Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo na quinta-feira 4, o ministro havia qualificado a ideia proposta por Hausmann dias antes de uma intervenção militar estrangeira na Venezuela como “pura e simplesmente um delírio”.

Para Hausmann, Aloysio Nunes expressou o que provavelmente é o consenso político baseado na tradição da diplomacia brasileira em favor da não intervenção. Mas, para o professor de Harvard, esse caso é diferente.

“As crianças venezuelanas estão morrendo de desnutrição. Não há estatísticas oficiais, mas estamos falando de milhares de vítimas. E o governo, que promoveu o colapso da produção agrícola e da importação de alimentos, se nega a receber ajuda humanitária. Se nada for feito, os números vão crescer de forma dramática”, diz.

Após lembrar que hoje se discute por que os americanos não bombardearam as posições alemãs em Auschwitz, a rede de campos de concentração na Polônia, Hausmann diz que a atual geração de latino-americanos pode entrar nos livros de história como conivente com uma tragédia.

Perguntado sobre a questão debatida nos meios diplomáticos sobre se um eventual apoio brasileiro à sua ideia não abriria o precedente para que mais tarde uma força internacional pudesse invadir o Brasil sob a alegação de proteção à Amazônia, Hausmann responde que não vê esse argumento como moralmente defensável. “O Brasil vai deixar que morram milhões de venezuelanos por temer que no futuro talvez seja atacado? O que está acontecendo na Venezuela é algo que nunca aconteceu na América Latina”.

Leia a entrevista na íntegra na próxima edição de EXAME nas bancas e nos smartphones.

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