Fernando Haddad: parte do PT defendia que ex-prefeito não ocupasse esse espaço porque poderia passar a ideia de que sigla havia desistido da candidatura Lula (Adriano Machado/Reuters)
Reuters
Publicado em 15 de agosto de 2018 às 17h24.
Brasília - O PT irá acelerar a circulação de Fernando Haddad como representante da chapa com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a sequência de viagens do ex-prefeito de São Paulo, que será registrado nesta quarta como candidato à vice-presidente, começará na próxima terça-feira, pelo Nordeste, em Estado ainda a ser definido.
Em uma reunião na sede do PT em Brasília, os candidatos a governos estaduais --inclusive aliados, como Paulo Câmara (PSB), apoiado pelo PT em Pernambuco-- pediram que se apresse a circulação de Haddad.
"Ele (Haddad) a partir de hoje pode fazer campanha como vice. Então ele vai rodar o país apresentando o programa de governo e aguardar o que a Justiça Eleitoral vai decidir", disse o ex-governador da Bahia Jaques Wagner, ao sair da reunião. "Temos que apressar isso, temos pouquíssimo tempo, a campanha é muito curta."
A decisão de colocar Haddad para fazer campanha em lugar de Lula, que está preso em Curitiba, demorou a ser tomada. Durante alguns dias, parte do PT --a presidente do partido, senadora Gleisi Hoffmann, entre outros-- defendia que o ex-prefeito não ocupasse esse espaço porque poderia passar a ideia de que o partido já havia desistido da candidatura Lula.
Foi necessária a interferência direta do ex-presidente que, na semana passada, em conversa com Gleisi e com o próprio Haddad, determinou que o ex-prefeito deveria sim ser colocado em evidência.
"De fato tivemos uma discussão sobre a estratégia da colocação da chapa, mas não tivemos discussão sobre esconder Haddad, Manuela ou quem quer que seja. Seria um erro crasso nosso", afirmou Gleisi em entrevista ao final da reunião.
"Mas isso está superado, não há mais dúvida ou polêmica. Quem fará a campanha se chama Fernando Haddad, com apoio nosso. É importante para nós ocuparmos todos os espaços."
Segundo Wagner, parte do partido acredita que poderia haver "confusão" sobre quem seria o candidato, Lula ou Haddad. "Isso é bobagem, foi superado. Ninguém sombreia Lula. É uma falsa questão que se colocou", disse. "Qualquer um de nós apartado de Lula não passa de três por cento."
Para os candidatos estaduais --entre eles Wagner, que é candidato ao Senado pela Bahia-- é importante colocar Haddad na rua para capitalizar a popularidade do ex-presidente Lula nos Estados da região Nordeste.
"O prazo é curto, são sete semanas apenas. Tem que começar imediatamente a pedir voto junto ao povo. Quem decide a eleição, pelo menos até mudar a lei, é a população. Haddad tem que ir onde o povo está. Precisa ir para rua para ganhar eleição", defendeu o governador da Bahia, Rui Costa, candidato à reeleição.
O ex-prefeito começará as viagens na próxima terça-feira, pelo Nordeste. Ainda não está decidido qual será o primeiro estado a ser visitado --Bahia, Piauí e Ceará estão entre as alternativas.
Wagner voltou a negar que ainda possa ser um Plano B, no lugar de Haddad, com a possível impugnação da candidatura Lula, que pode ser barrado de concorrer pela Lei da Ficha Limpa. Admitiu que conversou com o ex-presidente sobre o assunto já há algum tempo e que o tema está superado.
Wagner era o preferido por parte do PT, que via Haddad com desconfiança pela falta de engajamento político do ex-prefeito dentro do partido. Desde o início, no entanto, Wagner afirmava que não queria o papel e achava que o substituto de Lula deveria ser alguém, de fora do partido. "Minha tese foi vencida", admitiu, afirmando considerar Haddad um representante "excepcional" de Lula.
"Minha torcida absoluta é que para que se consiga o registro dele (de Lula). Se não conseguir, me parece que o jogo está jogado. Se alguém, se a Justiça interditar, o natural é Haddad assumir", disse.