Brasil

Haddad ainda pode vencer a eleição?

Alguns ainda acreditam, mas a maioria dos analistas não vê o que poderia impedir a eleição de Jair Bolsonaro como presidente em 28 de outubro

Fernando Haddad: entrevista no Roda Viva, da TV Cultura (Washington Alves/Reuters)

Fernando Haddad: entrevista no Roda Viva, da TV Cultura (Washington Alves/Reuters)

A

AFP

Publicado em 20 de outubro de 2018 às 10h19.

Fernando Haddad ainda pode vencer? Para isso, seria necessário que o candidato de esquerda à presidência do Brasil recuperasse a grande desvantagem para o seu rival de extrema-direita Jair Bolsonaro. Um cenário considerado improvável a uma semana do segundo turno.

Alguns ainda acreditam, mas a maioria dos analistas não vê o que poderia impedir a eleição de Bolsonaro como presidente em 28 de outubro, tão poderosa é a onda que ele surfa há mais de um mês.

A última pesquisa Datafolha, realizada entre os dias 17 e 18 de outubro, aponta Bolsonaro com 59% dos votos válidos, contra 41% para o substituto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Essa pessoa está liderando as pesquisas, mas vai perder", assegurou em recente entrevista à AFP Haddad sobre Bolsonaro.

"Isso é altamente improvável", estima Paulo Sotero, presidente do Brazil Institute do Wilson Center, em Washington. "As pesquisas apontam uma vitória de Bolsonaro, e com uma margem confortável".

Os consultores do Eurasia Group são menos categóricos: "As chances de isso acontecer são baixas. Haddad tem 25% de chance de ganhar".

O representante do Partido dos Trabalhadores (PT) "deve atrair um número significativo de eleitores dos candidatos eliminados no primeiro turno e reduzir a base de apoio de Bolsonaro, uma tarefa hercúlea, dado o alto nível de convicção entre esses eleitores", acrescentam.

Mas Haddad até agora não conseguiu formar a "frente democrática" de que precisa.

Ao contrário da "frente republicana" que na França conseguiu barrar a extrema direita, no Brasil "não há tradição de frente antifascista", aponta Maud Chirio, da Universidade Paris-Est-Marne-la-Vallée.

Os partidos "não têm a experiência de eleições em que um candidato de extrema-direita, esta é a primeira vez".

Outro obstáculo para o candidato de esquerda: "a bílis alimentada contra o PT também impede que os partidos se aliem a Haddad", diz a historiadora.

Assim, Ciro Gomes, o candidato do PDT (centro esquerda), que ficou em terceiro no primeiro turno com 12,5% dos votos, limitou-se a oferecer "apoio crítico" ao PT, antes de partir para a Europa.

Haddad também não pode contar com a ecologista Marina Silva, tampouco com influentes centristas como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ou o ex-presidente do Supremo Tribunal Joaquim Barbosa.

"Tuitar é fácil"

O irmão de Ciro, o senador Cid Gomes, jogou sal nas feridas: o PT "vai perder a eleição e vai ser bem feito", disse no início desta semana. Em 13 anos de poder (2003-16) ele "fez muita bobagem".

Questionado pelo jornal Folha de S.Paulo, Cid Gomes suavizou o comentário: "Acho que Haddad é o melhor. Mas uma vez que ele tem uma chance mínima de ganhar" o PT "deve fazer sua autocrítica".

Debora Diniz, antropóloga e professora de Direito da Universidade de Brasília. "Não pensem que tudo está garantido". "A resistência de Bolsonaro de ir a um debate público diz muito sobre sua fraqueza", acrescenta ela.

Haddad, professor universitário de tom de voz comedido, não conseguiu levar à arena de um debate televisivo um Bolsonaro cujas fórmulas incisivas e até violentas têm um impacto maior nas redes sociais, que se tornaram sua máquina de guerra. "Tuitar é fácil, senhor deputado. Vamos debater cara a cara, educadamente", lançou Haddad.

Entre os dois turnos de 7 e 28 de outubro, seis debates foram previstos. Mas Bolsonaro se esquivou de todos "por razões médicas". E "estratégicas", segundo admitiu.

Na reta final, Haddad precisou reorientar sua campanha. Ele parou suas visitas semanais a Lula na prisão, retirou a foto de seu mentor político das propagandas na televisão, substituiu o vermelho do PT pelo verde e amarelo da bandeira nacional. Como Bolsonaro.

E "a ordem do QG do PT foi de investir no eleitorado mais pobre e nos grupos evangélicos", escreveu na quarta-feira o jornal Folha de S.Paulo. Haddad vai se envolver com seus líderes a "defender os valores da família".

O apoio dado pelas igrejas evangélicas a Bolsonaro antes do primeiro turno foi crucial, especialmente a poderosa Igreja Universal.

"Não vejo que milagre poderia ser feito para que Haddad mude o curso desta eleição", diz Paulo Sotero. "Bolsonaro vai conseguir votos suficientes para um mandato claro".

Acompanhe tudo sobre:Eleições 2018Fernando HaddadJair Bolsonaro

Mais de Brasil

Dino determina que cemitérios cobrem valores anteriores à privatização

STF forma maioria para permitir símbolos religiosos em prédios públicos

Governadores do Sul e do Sudeste criticam PEC da Segurança Pública proposta por governo Lula

Leilão de concessão da Nova Raposo recebe quatro propostas