Ele complementou ainda que Bolsonaro não teve relação com o acesso ao sistema do Conselho Nacional de Justiça (Leandro Fonseca/Exame)
Agência de notícias
Publicado em 2 de agosto de 2023 às 12h27.
Alvo de um mandado de prisão preventiva nesta quarta-feira, o hacker Walter Delgatti relatou à Polícia Federal que o ex-presidente Jair Bolsonaro lhe perguntou se era possível invadir a urna eletrônica. O questionamento teria sido feito pelo então presidente no Palácio do Alvorada em um encontro ocorrido em agosto de 2022, conforme o depoimento de Delgatti.
Ele complementou ainda que Bolsonaro não teve relação com o acesso ao sistema do Conselho Nacional de Justiça, quando um mandado de prisão falso em nome do ministro Alexandre de Moraes foi incluído no banco de dados. Este despacho fraudulento inserido no sistema judicial do país acabou motivando a operação 4FA, deflagrada hoje.
"Que apenas pode afirmar que a Deputada Carla Zambelli esteve envolvida nos atos do declarante, sendo que o declarante, conforme saiu em reportagem, encontrou o ex-Presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Alvorada, tendo o mesmo lhe perguntado se o declarante, munido do código fonte, conseguiria invadir a Urna Eletrônica, mas isso não foi adiante, pois o acesso que foi dado pelo TSE foi apenas na sede do Tribunal, e o declarante não poderia ir até lá, sendo que tudo que foi colocado no Relatório das Forças Armadas foi com base em explicações do declarante", diz trecho do inquérito policial.
Delgatti e a deputada Carla Zambelli (PL-SP) são os dois principais investigados da operação que investiga a invasão ao sistema do Conselho Nacional de Justiça e a inserção de documentos e alvarás falsos no Banco Nacional de Mandados de Prisão (BNMP). A parlamentar foi alvo de mandado de busca e apreensão, enquanto Delgatti foi preso preventivamente.
As invasões ocorreram entre os dias 4 e 6 de janeiro de 2023, quando foram inseridos no sistema do CNJ um alvará falso contra Moraes e outros onze despachos de soltura de pessoas presas por diferentes delitos. A aproximação dos dois suspeitos, no entanto, ocorreu em setembro de 2022 - antes das eleições presidenciais.
Conhecido por hackear o celular de autoridades da Operação Lava Jato, Delgatti contou à PF que Carla Zambelli se aproximou dele em setembro de 2022, "pois queria que ele invadisse a urna eletrônica ou qualquer sistema da Justiça brasileira para demonstrar a fragilidade do sistema judicial pátrio".
Em um segundo momento, Delgatti diz que Zambelli lhe pediu para "obter conversas comprometedoras" de Alexandre de Moraes.
"A deputada disse que, caso o declarante não conseguisse invadir a urna, que conseguisse obter conversas comprometedoras do ministro Alexandre de Moraes, invadindo seu aparelho telefone celular e seu e-mail", diz a transcrição do depoimento de Delgatti. "A deputada disse que, caso o declarante conseguisse invadir os sistemas, teria emprego garantido, pois estaria salvando a democracia, o país, a liberdade".
O caso começou a tramitar na Justiça Federal, mas "subiu" para o Supremo em função do suposto envolvimento de Zambelli, que tem prerrogativa de foro privilegiado. No Twitter, o ministro da Justiça, Flávio Dino, escreveu que as ações ocorrem "no contexto dos ataques às instituições".