Brasil

Há 15 anos não assino nem mesmo um cheque, diz Odebrecht

Empreiteiro condenado na Lava Jato entregou ao juiz Sérgio Moro um documento com 60 perguntas e respostas que abordam a essência da acusação


	Marcelo Odebrecht: estratégia do presidente da maior empreiteira do país é mostrar que ele não centralizava decisões
 (REUTERS/Rodolfo Burher)

Marcelo Odebrecht: estratégia do presidente da maior empreiteira do país é mostrar que ele não centralizava decisões (REUTERS/Rodolfo Burher)

DR

Da Redação

Publicado em 30 de outubro de 2015 às 18h52.

São Paulo e Curitiba - O empresário Marcelo Bahia Odebrecht, alvo da Operação Lava Jato, afirmou ao juiz federal Sérgio Moro que "há mais de 15 anos não assina nem mesmo um cheque" em nome do grupo que preside.

Interrogado na ação em que é réu por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, Odebrecht entregou a Moro, autor do decreto de sua prisão, um documento com 60 perguntas e respostas que abordam a essência da acusação da força-tarefa do Ministério Público Federal.

A estratégia do presidente da maior empreiteira do País é mostrar que ele não centralizava decisões.

'Como presidente da Odebrecht S/A o sr. movimenta contas bancárias ou faz operações financeiras em nome da empresa?', é a pergunta número 7 do questionário produzido pela defesa do empreiteiro.

Sua resposta: "Não. Há mais de 15 anos não assino nem mesmo um cheque em nome das empresas da Organização, tampouco ordeno ou controlo operações financeiras. Pelo que me lembro, o último cheque que assinei foi quando atuei como diretor de contrato em obra."

A pergunta número 8 segue a mesma linha. 'E com relação às outras empresas do Grupo, como a Construtora Norberto Odebrecht, o sr. movimenta contas bancárias ou faz operações financeiras? O sr. tem autonomia e poderes para tanto?'.

Ele responde: "Também não. Cada empresa do Grupo tem sua gestão própria, inclusive financeira. Como disse, há pelo menos 15 anos não assino cheques ou ordeno qualquer operação financeira das empresas do Grupo".

Em outro trecho do pingue-pongue que o empreiteiro entregou ao juiz Moro, a pergunta é: 'Quem é o responsável pela gestão das empresas do Grupo Odebrecht?'. 

Sua resposta: "Cada área de negócio tem o seu executivo responsável, líder empresarial, sua diretoria, e é submetida a um Conselho de Administração. A gestão das empresas é feita de forma autônoma por executivos profissionais e segue rígidas regras de governança."

'Como presidente da Odebrecht S.A. o sr. tem alguma interferência na gestão das 15 áreas de negócios e mais de 300 empresas do Grupo?'.

Marcelo Odebrecht: "A Odebrecht S.A. é a controladora das empresas do Grupo e, como tal, consolida o seu resultado. Importante ressaltar que a Odebrecht, e, por consequência o seu presidente, não se envolve na gestão de nenhuma área de negócio específica, já que cada empresa do Grupo tem autonomia para gerir suas atividades."

O empresário afirmou ainda que "pessoalmente nunca se envolveu na gestão das mais de 300 empresas que se consolidam nas 15 áreas de negócios que compõem o Grupo, seja porque essa interferência seria humanamente impossível, seja porque ela é totalmente contrária à nossa cultura de delegação planejada, pleno empresariamento e descentralização na condução dos negócios do Grupo".

Ele disse que se reporta ao Conselho de Administração da Odebrecht S.A.

Quando foi preso pela Polícia Federal no âmbito da Operação Erga Omnes, desdobramento da Lava Jato em 19 de junho, exercia a função de presidente da Odebrecht S.A., holding do Grupo Odebrecht.

Também ocupava o cargo de presidente do Conselho de Administração das empresas Odebrecht Realizações Imobiliárias e Participações S.A., Odebrecht Óleo e Gás S.A., Odebrecht Agroindustrial S.A., Odebrecht Ambiental Participações S.A. e Braskem S.A.

"O meu papel como presidente é convocar e coordenar as reuniões de Conselho de Administração. O presidente do Conselho não é um executivo da companhia, mas um representante do acionista que olha pelas questões macro da companhia, não afetas à sua gestão e ao seu dia-a-dia operacional. O Conselho é um órgão colegiado, que toma decisões coletivamente e em que o Presidente não possui voto de minerva."

Odebrecht disse que "conhece socialmente, ou até mesmo em função das atividades empresariais" alguns executivos das outras empreiteiras acusadas de formarem cartel nos contratos da Petrobras.

Ele ressaltou. "Nunca tratei de assuntos relacionados à Petrobras, nem sobre qualquer licitação específica, com qualquer um deles."

O empresário é taxativo. "Eu não participava de licitações, muito menos de negociações de contratos de nenhuma das empresas do Grupo, ou de orçamentação para apresentação de propostas."

"Me envolver nessas questões iria contra a cultura do Grupo, que é baseada na delegação planejada e na descentralização. Há empresários no Grupo que têm esse papel. Quem decide é o Diretor de Contrato e sua equipe."

'Conhece Paulo Roberto Costa (ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás e primeiro delator da Lava Jato)?'

"Conheço porque durante anos ele foi conselheiro da Braskem, indicado pela acionista Petrobras. Minha relação com ele sempre se deu quanto a temas que eram discutidos no âmbito do Conselho de Administração da Braskem. Nunca tratamos de assuntos relacionados a obras, licitações, contratos ou aditivos com a Petrobras."

Marcelo Odebrecht afirma que não conhecia Renato Duque (ex-diretor de Serviços da estatal) e Alberto Youssef, doleiro da Lava Jato que distribuía propinas a mando de empreiteiros.

Que nenhum diretor da Petrobras lhe pediu contribuição partidária. Ele declarou, por escrito, que "jamais autorizaria" pagamento de propinas, "jamais orientaria esse tipo de conduta ilegal".

Acompanhe tudo sobre:CorrupçãoEmpresasEmpresas brasileirasEscândalosFraudesMarcelo OdebrechtNovonor (ex-Odebrecht)Operação Lava JatoPrisões

Mais de Brasil

As 10 melhores rodovias do Brasil em 2024, segundo a CNT

Para especialistas, reforma tributária pode onerar empresas optantes pelo Simples Nacional

Advogado de Cid diz que Bolsonaro sabia de plano de matar Lula e Moraes, mas recua

STF forma maioria para manter prisão de Robinho