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Guerra comercial aumentou interesse de investidores no Brasil, diz governador do Piauí

Rafael Fonteles diz que estabilidade do país tem atraído mais estrangeiros ao país em busca de negócios

Rafael Fonteles, governador do Piauí, durante discurso em Teresina (Divulgação)

Rafael Fonteles, governador do Piauí, durante discurso em Teresina (Divulgação)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 10 de junho de 2025 às 06h02.

Teresina* - O cenário internacional mais conturbado, com tarifas comerciais impostas pelo presidente Donald Trump, retaliação da China e a busca de novos acordos comerciais, tem aumentado o interesse de investidores sobre o Brasil, diz Rafael Fonteles (PT), governador do Piauí.

“Nas reuniões bilaterais, nas apresentações há mais questionamentos, mais perguntas, olham para mais detalhes. Se comparar este evento com o do ano passado com esse, há muito mais interesse por parte de investidores de várias partes do mundo. Eu recebi gente aqui da China, da Europa e dos Estados Unidos”, disse, em conversa com a EXAME.

O evento citado por ele foi a Brazil Energy Conference, um fórum sobre energias limpas realizado anualmente em Teresina. Neste ano, passaram por lá representantes de empresas chinesas, como CGN e Spic

O embaixador da Bélgica no Brasil, Peter Claes, se reuniu com Fonteles pouco antes da entrevista com a EXAME. Claes trouxe uma comitiva de empresas na área de energia, dragagem e transporte marítimo. 

Na entrevista, Fonteles falou ainda sobre os planos para melhorar a logística no Estado, resolver a questão dos cortes de geração de energia que estão atingindo o Nordeste e as perspectivas de reeleição de Lula. 

Como tem sido buscar parcerias internacionais em um cenário internacional tão conturbado, com guerra comercial, novas barreiras comerciais e novos acordos sendo debatidos?

Fizemos 12 missões internacionais nos últimos dois anos, portanto, antes desse momento de guerra comercial, mais aflorada depois que Trump assumiu, e duas agora neste ano. Esse tema sempre surge nas discussões, mas o apetite para investir no Brasil aumentou. Essa guerra comercial termina favorecendo a relação do Brasil com o mundo. O Brasil tem um histórico de estabilidade geopolítica, de não ter conflitos com nenhum outro país, ter boas relações com os Estados Unidos, com a Europa, com a China, com o Oriente Médio.

Que sinais disso o senhor têm visto?

Sinto que nas reuniões bilaterais, nas apresentações há mais questionamentos, mais perguntas, olham para mais detalhes. Se comparar ao evento do ano passado com esse, há muito mais interesse por parte de investidores de várias partes do mundo. Eu recebi gente aqui da China, da Europa e dos Estados Unidos e acabei de vir de uma viagem do consórcio [Nordeste] para o Oriente Médio. 

A COP30 ajudará a atrair mais investimentos?

A pauta principal do Nordeste dentro do contexto de sustentabilidade é a transição energética. É a partir da abundância de energia limpa que produzimos, sermos capazes de atrair indústrias verdes e, ao mesmo tempo, eventualmente exportar derivados de hidrogênio. O grande objetivo é atrair indústrias para usufruir dessa energia verde abundante e barata que temos. Na COP, obviamente, vai ter um apelo muito grande da questão da Floresta Amazônica. O nosso papel é, além da defesa dos nossos biomas, é colocar a transição energética como a pauta mais importante do Brasil, do Nordeste e também do Piauí.

A venda de créditos de carbono faz parte da estratégia?

O Congresso aprovou uma legislação [sobre créditos de carbono], que está na fase de regulamentação. Acredito que, até a COP, isso já vai estar publicado, então nós vamos ter como certificar esse hidrogênio de baixo carbono. Isso vai aumentar a possibilidade de nos relacionarmos com o mundo nessa pauta da economia verde, bem como a monetização de ativos ambientais.  Eu vou assinar na Suíça, em breve, um acordo com a Mercuria e com a Sistêmica para exatamente criar esses créditos no regime REDD+, é de carbono jurisdicional, em função da redução da emissão de gases de efeito estufa, a partir da redução do desmatamento, das queimadas. Vai gerar crédito, certificado com um agente internacional e vamos vender esses créditos.

No evento, foram citados problemas de cortes de geração de energia por falta de redes de transmissão, o chamado “curtailment”. Como o governo está lidando com a questão?

Isso foi pauta da minha reunião com várias empresas chinesas e de outros países. Nós já endereçamos ao Ministério de Minas e Energia, já endereçamos também ao presidente Lula, já se formou um grupo de trabalho no mês de abril e a expectativa é que nas próximas semanas, algumas soluções para reduzir o impacto do corte de geração já vão ser implementadas. 

Tem algum detalhe sobre como serão as medidas implantadas?

Tem vários mecanismos. Acelerar leilões, acelerar a conexão do subsistema do Nordeste com o subsistema do Sudeste e financiamentos com os bancos públicos de desenvolvimento. São várias estratégias, não sei dizer quais irão acontecer, mas sinto que o governo federal está se dedicando ao tema e vai apresentar soluções nas próximas semanas.

Quais outras acordos e projetos serão prioridade neste segundo semestre no Piauí? 

A agenda de atrair data centers, da monetização de ativos ambientais com parceiros nacionais e o início dos projetos mais a fundo do hidrogênio verde. Há também o início de uma discussão sobre o aproveitamento do ferro que temos aqui para a siderurgia verde. Vamos ter novidades nessas direções.

E como está o andamento do projeto de tornar o rio Parnaíba navegável para escoar a produção agrícola?

Dentro da área de logística, a grande prioridade é continuidade das obras do Porto e dos terminais portuários e a navegabilidade do Rio Parnaíba, conectando o Sul ao Norte. Vai conectar a região produtora de grãos no Sul, com todo o o Piauí, inclusive a área mineral e o Porto de Luís Correia. 

Como vê a situação do presidente Lula para disputar a reeleição ano que vem?

Favorito. Ao longo do mandato, há uma dinâmica. O momento agora de desaprovação está maior, mas se você olha para o aspecto eleitoral, ele está na frente dos seus adversários. Na reta final, a tendência é que quem está no governo cresça, mas como aconteceu, por exemplo, com o Bolsonaro. Na pesquisa [em 2022], Lula estava 10 pontos na frente, só ganhou por dois pontos, porque o Bolsonaro avançou no último ano de governo. Então, a tendência é que o último ano favoreça a situação e não a oposição. Vai ser uma disputa acirrada, mas o presidente Lula é favorito para a reeleição.

*O repórter viajou a convite da Brazil Energy Conference.

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