Brasil

GT da Câmara rejeita prisão após condenação em 2ª instância

A medida era a principal mudança do pacote que altera 16 trechos do Código Penal

Sergio Moro: rejeição é mais uma derrota de Moro no Congresso. (Adriano Machado/Reuters)

Sergio Moro: rejeição é mais uma derrota de Moro no Congresso. (Adriano Machado/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 9 de julho de 2019 às 18h36.

Brasília - O grupo de trabalho criado para analisar o pacote anticrime do ministro da Justiça, Sergio Moro, rejeitou nesta terça-feira, 9, a proposta que permitia o início da prisão após condenação em segunda instância judicial. A medida era a principal mudança do pacote que altera 16 trechos do Código Penal.

A rejeição é mais uma derrota de Moro no Congresso. Responsável pela condenação de dezenas de políticos na Lava Jato, o ministro tem enfrentado resistência para levar adiante seus planos. O revés mais recente foi a transferência do Conselho de Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) da sua pasta para o Ministério da Economia. A mudança foi uma exigência de parlamentares para aprovarem a medida provisória que reduziu de 29 para 22 o número de ministérios.

Na semana passada, o ministro teve de comparecer a uma audiência para falar sobre as supostas mensagens vazadas pelo site Intercept Brasil. Durante a audiência, ele chegou a ser chamado de "ladrão" pelo deputado Glauber Braga (PSOL-RJ).

Por sete votos a seis, os parlamentares rejeitaram a intenção de Moro de tornar lei o atual entendimento do Supremo, que já permite o início da prisão após uma decisão colegiada. Mas, para a maioria dos membros do grupo esse tipo de alteração tem de ser feita por meio de uma proposta de emenda constitucional. Foram contra a manutenção da proposta os deputados Marcelo Freixo (PSOL-RJ), Lafayette de Andrada (PRB-MG), Paulo Teixeira (PT-SP), Margarete Coelho (PP-PI), Orlando Silva (PCdoB-SP), Fábio Trad (PSD-MS) e Paulo Abi Ackel (PSDB-MG).

"A aprovação da matéria significaria uma aberração jurídica. Teríamos uma lei mudando uma cláusula da Constituição", afirmou Marcelo Freixo.

A favor, o relator da proposta, Capitão Augusto (PL-SP), e os deputados Coronel Chrisóstmo (PSL-RO), Adriana Ventura (Novo-SP), Subtenente Gonzaga (PDT-MG), Carla Zambelli (PSL-SP) e João Campos (PRB-GO). O relator chegou a argumentar que o Supremo Tribunal Federal (STF) já tinha jurisprudência sobre o tema, mas não conseguiu reverter o placar, antecipado pelo Estado em maio.

O deputado Coronel Chrisóstomo (PSL-RO) lamentou a derrota e disse que o grupo de trabalho "não ouviu o povo".

"Não estamos debatendo só no campo jurídico, mas estamos debatendo, ouvindo o clamor das ruas. Se fosse só jurídico, trazíamos juristas para cá e eles decidiriam. Nós estamos aqui representando o povo e ele está lá aguardando uma decisão nossa", afirmou o parlamentar do PSL.

A decisão de tirar a proposta de iniciar o cumprimento da prisão após a condenação da segunda instância do relatório do grupo de trabalho não significa que a medida de Moro foi terminantemente rejeitada na Casa. Como o grupo não tem não tem caráter formal, a proposta pode voltar quando o pacote for discutido nas comissões ou no Plenário.

Em consequência do resultado da votação, o grupo do trabalho anunciou que vai encaminhar uma proposta de PEC que autorize o início do cumprimento de pena após condenação em segunda instância.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ainda não decidiu se vai criar uma comissão especial para analisar a proposta ou levar as comissões permanentes para analise. Há a possibilidade ainda de Maia levar a proposta direto ao Plenário, mas o presidente da Câmara já deu sinais que não vai adotar a medida.

Contato: renato.onofre@estadao.com

Acompanhe tudo sobre:crime-no-brasilLegislaçãoSergio Moro

Mais de Brasil

Ações isoladas ganham gravidade em contexto de plano de golpe, afirma professor da USP

Governos preparam contratos de PPPs para enfrentar eventos climáticos extremos

Há espaço na política para uma mulher de voz mansa e que leva as coisas a sério, diz Tabata Amaral

Quais são os impactos políticos e jurídicos que o PL pode sofrer após indiciamento de Valdemar