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Grupos rivais na Câmara ajustam discurso de olho em votos da oposição

Sucessão da Câmara vai impactar a agenda de reformas e os planos de recuperação econômica, fatos decisivos para uma eventual reeleição de Bolsonaro em 2022

Câmara dos Deputados (Michel Jesus/Agência Câmara)

Câmara dos Deputados (Michel Jesus/Agência Câmara)

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Reuters

Publicado em 10 de dezembro de 2020 às 06h58.

Em busca do apoio da oposição, que com mais de 100 votos é encarada como o fiel da balança na eleição pelo comando da Câmara, os grupos do atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do candidato rival, Arthur Lira (PP-AL), ajustaram nesta quarta-feira seus discursos e movimentações.

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Pouco antes do anúncio oficial da candidatura de Lira, Maia adotou um tom mais duro em entrevista coletiva e disse que o governo está "desesperado" para colocar um aliado na presidência da Casa.

Ao reforçar o mote da independência, mais de uma vez ele afirmou que Lira era apoiado pelo governo do presidente Jair Bolsonaro.

"Se todos os candidatos colocados defendem a pauta econômica, para que o governo quer interferir no processo? Porque ele quer as outras pautas, ele quer a pauta contra o meio ambiente, ele quer a pauta das armas", disse Maia.

"Ele quer essas pautas que ele defende, de forma legítima, defendeu na eleição, e precisa de um presidente da Câmara patrocinado por ele possa avançar nessas pautas", afirmou, acrescentando defender a pauta da modernização do Estado e redução das desiguladades.

Maia argumentou que a oposição à pauta de costumes e a crença no dialogo e no respeito às minorias são temas que aproximam o seu grupo dos partidos de esquerda, apesar das discordâncias no campo econômico.

Insinuou, ainda, que eventual interferência do governo a favor de determinado candidato limita qualquer promessa de independência que o apoiado possa fazer.

A expectativa é que o grupo de Maia anuncie um nome ainda nesta semana. Os favoritos são o líder da Maioria, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB); o líder do MDB, Baleia Rossi (SP); o vice-presidente da Câmara Marcos Pereira (PRB-SP), além dos deputados Elmar Nascimento (DEM-BA) e Luciano Bivar (PSL-PE), que orbitam o presidente da Casa.

Mas, enquanto esse campo permanece indefinido, no lado adversário, Lira não perdeu tempo e anunciou sua candidatura, tendo como vice em sua chapa o deputado Marcelo Ramos (PL-AM).

Sem citar o apoio do governo, o líder do PP exaltou a força "moderadora" dos partidos de centro contra os "extremos", e defendeu o diálogo, além do respeito às minorias e à oposição. Também apontou que é a maioria quem tem a prerrogativa de definir as pautas a serem levadas à discussão e votação.

O candidato do PP tem grandes chances de fechar o apoio de um grande partido de esquerda, relatou uma fonte, daí o endurecimento do discurso de Maia e a leve guinada à esquerda nos discursos de ambos, Lira e Maia.

Uma fonte que acompanha as conversas informou que Lira largou na frente e joga sozinho, por ora. Mas a indefinicação sobre o nome a concorrer contra o deputado do PP não deve perdurar. O grupo de Maia formalizou, no fim do dia, um pedido para a formação de um bloco parlamentar que contará com seis partidos: PSL, MDB, Cidadania, PSDB, DEM e PV. Os blocos orientam a indicação de candidaturas à Mesa da Câmara.

Pesa, ainda, como ingrediente a acelerar as definições nos próximos dias o fato de a oposição ter reunião marcada para a próxima terça-feira, quando deve decidir quem apoiar. Segundo a fonte, ainda que seja praticamente incompatível o vínculo a um candidato de Bolsonaro, partidos como PSB, PT, Rede e PCdoB avaliam o cenário para bater o martelo na próxima semana.

A CNN Brasil chegou a anunciar que o PSB teria decidido aprovar um indicativo inicial de apoio a Lira, mas, em nota, o líder do partido, Alessandro Molon (RJ), negou que a bancada tenha decidido apoiar qualquer das candidaturas.

"Não houve qualquer deliberação sobre qual candidato será apoiado para presidir a Câmara dos Deputados no biênio 2021-2022", afirmou.

Uma fonte forneceu à Reuters documento que circulou entre os integrantes da bancada do PSB, uma "carta compromisso" a ser entregue aos postulantes ao comando da Câmara.

Nela, o partido afirma que definirá seu posicionamento a partir de critérios programáticos e cita como pilares o diálogo, a independência entre os Poderes e a elaboração de uma agenda estratégia de deliberações na Câmara dos Deputados, levando em conta a necessidade da retomada da economia, o combate às desigualdades sociais, e a proteção ao meio ambiente, entre outros temas.

Também ressalta a importância de respeito ao papel da oposição e da continuidade dos trabalhos do Congresso, mesmo enquanto persistir a pandemia do novo coronavírus.

A sucessão tanto da Câmara quanto do Senado terão impacto na agenda de reformas e nos planos de recuperação econômica durante e após a pandemia do novo coronavírus que o governo pode levar adiante a partir de 2021, fatos decisivos para uma eventual reeleição do presidente Jair Bolsonaro em 2022.

Há ainda outro ponto sensível na definição do comando da Câmara. É o presidente da Casa quem define a pauta, mas também é sua prerrogativa decidir, por exemplo, sobre pedidos de impeachment do presidente da República.

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