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Grupos extremistas fortaleceram-se com Trump, dizem especialistas

Desde que o republicano foi eleito presidente dos Estados Unidos, houve um aumento de 17% dos grupos extremistas no país

Donald Trump: questiona-se o papel do presidente no fortalecimento desses grupos (Kevin Lamarque/Reuters)

Donald Trump: questiona-se o papel do presidente no fortalecimento desses grupos (Kevin Lamarque/Reuters)

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Agência Brasil

Publicado em 18 de setembro de 2017 às 18h15.

Instigado pelo Congresso, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, promulgou na última quinta-feira (15) uma resolução que condena supremacistas brancos no violento episódio de Charlottesville - que há um mês terminou com a morte de uma ativista antirracismo.

Internamente, questiona-se qual o papel do próprio Trump no fortalecimento de grupos extremistas, já que relatórios mostram aumento de 17% dos grupos extremistas desde que ele assumiu o poder.

O levantamento foi feito pela Southern Poverty Law Center (SPLC, sigla em inglês para Centro de Lei de Pobreza do Sul, em livre tradução), uma organização não governamental, que monitora e combate a ação de grupos extremistas.

A resolução bipartidária - aprovada por democratas e republicanos no Congresso - levou o presidente da República a reconhecer a participação de grupos racistas nos protestos.

O texto que Trump assinou diz que o governo norte-americano "rejeita os nacionalistas brancos, os supremacistas brancos, a Ku Klux Klan [organização racista], os neonazistas e os outros grupos que defendem o ódio".

As mensagens enviadas por Trump na época foram contraditórias porque ele disse que os dois lados - supremacistas brancos e antirracistas - tinham culpa pelos protestos, ou que havia "erro dos dois lados". A resolução também orienta o Departamento de Justiça a investigar com atenção os crimes de ódio.

Ao assinar a resolução do Congresso, o presidente Trump comprometeu-se com essas metas. A Agência Brasil ouviu especialistas para saber se a retórica nacionalista de Trump contribuiu para o fortalecimento de grupos raciais extremistas. Majoritariamente, analistas e grupos defensores de direitos civis acreditam que sim.

A doutora em sociologia do Instituto de Estudos Urbanos Deirdre Oakley disse à Agência Brasil que, embora as tensões raciais nunca tenham deixado de existir, alguns dos grupos se fortaleceram com Trump.

"O racismo neste país é estrutural e está bem vivo desde seus primórdios. O Movimento dos Direitos Civis e a legislação apenas o fizeram mais sutil", afirmou.

Deirdree ressaltou, porém, que o que está ocorrendo é um "reagrupamento" dos grupos de ódio, que se sentiam "constrangidos" por Obama, porque ele era negro, e agora se sentem "fortalecidos" por Trump.

A socióloga lembrou, no entanto, que o outro lado da moeda também ressurgiu. "Trump também mobilizou um lado contra movimento, que é a sociedade civil, que está se levantando contra os radicais, até mesmo dentro de seu eleitorado e entre republicanos".

Para Deirdree, o discurso nacionalista de Trump durante as eleições, baseado em uma leitura da insatisfação da classe média, equivalente à classe C no Brasil, contribuiu para instigar grupos que já existiam.

"Apesar dos ganhos obtidos desde o movimento dos direitos civis, os supremacistas brancos, neo-nazis e outros grupos, de alguma forma, pensam que as políticas de ação afirmativa os deixaram para trás". Segundo a socióloga, essa ideia em parte alimenta o ódio.

Esses grupos ignoram dados empíricos, disse a pesquisadora. "Por exemplo, eles se levantam contra as minorias, sendo que o grupo que mais se beneficiou da ação afirmativa foi o das mulheres brancas".

O professor Daniel Pasciuti, da Georgia State University, concorda que protestos como o de Charlottesville, ocorrido recentemente, são de extremistas dentro da maioria branca, insatisfeitos com os " ganhos reais das minorias [especialmente os afro-americanos)] nos Estados Unidos".

Na campanha, Trump se voltou para a parcela da sociedade que se ressentiu da vitória e dos avanços da agenda de Obama na área dos direitos civis.

O professor exemplificou com a própria eleição de Obama, primeiro negro na Presidência dos Estados Unidos, e a aprovação do casamento gay.

"Parte da população branca, historicamente privilegiada, viu sua posição econômica e política se deteriorar, ao mesmo tempo em que percebia o fortalecimento de outros grupos".

O professor enfatizou que Trump deu voz a uma grande parte da população norte-americana que viu seu espaço ser controlado por minorias e por movimentos progressistas.

Daniel Pascuiti e Deirdre Oakley concordam que o problema agora é que Donald Trump continua a dar "cobertura" a grupos extremistas, por não coibir rapidamente suas ações.

Agora mesmo, o presidente condenou formalmente a ação dos supremacistas brancos em Charlotteville somente um mês após o episódio e depois de o Congresso ter enviado uma resolução exigindo que se tomasse posição contrária.

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