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Grupos da UE usam o meio ambiente para atrasar acordo com Mercosul, diz Araújo

A ratificação do acordo ficou estagnada entre os 27 membros da UE principalmente devido a preocupações sobre o desmatamento da Floresta Amazônica

Ernesto Araújo: "antes era algo que se imaginava que talvez nunca ficasse pronto, então isso (o meio ambiente) não suscitava esse tipo de preocupação" (AFP/AFP)

Ernesto Araújo: "antes era algo que se imaginava que talvez nunca ficasse pronto, então isso (o meio ambiente) não suscitava esse tipo de preocupação" (AFP/AFP)

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AFP

Publicado em 25 de fevereiro de 2021 às 17h02.

Última atualização em 25 de fevereiro de 2021 às 19h56.

Diversos "grupos de interesse" da União Europeia usam o meio ambiente como "pretexto" para atrasar a ratificação do acordo comercial com o Mercosul, afirmou à AFP o ministro das Relações Exteriores brasileiro, Ernesto Araújo.

"Após a assinatura do acordo em 2019, que encerrou 20 anos de negociações, alguns países "de repente se dão conta que haverá alguns interesses afetados, e acho que esses grupos de interesse tomam esse tema do meio ambiente como algo que pode ser usado para retardar esse acordo", observou Araújo em entrevista em Brasília.

"Antes era algo que se imaginava que talvez nunca ficasse pronto, então isso (o meio ambiente) não suscitava esse tipo de preocupação", afirma.

"E não digo que não seja legítima a preocupação com o meio ambiente", acrescentou.
Araújo explicou que o acordo "afeta interesses no Brasil também" e citou o setor vinícola, por exemplo.

"O Brasil fez sacrifícios para acomodar esse setor, e que é um setor de enorme interesse da França de de outros países europeus. Argentina também (o fez), que é um grade produtor, assim como o Uruguai", disse.

A ratificação do acordo ficou estagnada entre os 27 membros da UE - incluindo França e Alemanha - principalmente devido a preocupações sobre o desmatamento da Floresta Amazônica, que não para de bater recordes desde que Jair Bolsonaro chegou ao poder, há dois anos.

"É muito importante desmitificar que o acordo Mercosul-UE contribuiria para a destruição da Amazônia, de forma nenhuma, e estamos prontos a mostrar que não é o caso", ressaltou Araújo.

Para desbloquear a aprovação do acordo que incluiria um mercado de mais de 750 milhões de pessoas, a UE propôs no último mês uma declaração conjunta complementar ao acordo com compromissos de sustentabilidade ambiental, incluindo a redução do desmatamento na Amazônia.

"Nós concordamos em princípio que haja algum tipo de compromisso adicional, porque nós não queremos reabrir o que já está fechado no acordo (...). É importante que seja algo com caráter de reciprocidade, que sejam compromissos válidos para as duas partes, porque não é só o Brasil que tem compromissos ambientais", declarou Araújo.

"Falta de compreensão"

O presidente francês, Emmanuel Macron, é o maior crítico entre os líderes europeus por causa do aumento dramático das queimadas na Amazônia em 2019, causadas em grande parte pelo avanço do desmatamento e da agropecuária.

Em janeiro, Macron afirmou que a dependência da Europa da soja brasileira "está na base do desmatamento da Amazônia".

Bolsonaro o acusou de falar "bobagem", e seu vice-presidente, Hamilton Mourão, afirmou que o presidente europeu repete "os interesses protecionistas dos fazendeiros franceses".

Araújo defende que "desde o começo das conversações, nos anos 1990, havia muita resistência da parte francesa à abertura das negociações".

"Há, talvez não só na França, uma falta de compreensão sobre o que é a realidade do meio ambiente no Brasil. Eu acho muito importante que nenhum país trate as coisas a partir de estereótipos, a partir de manchetes muitas vezes distorcidas que aparecem na imprensa", argumenta.

Um relatório oficial francês estimou no final de 2020 que o acordo UE-Mercosul aumentará o desmatamento em 25% no Brasil.

Os pecuaristas franceses, que são os principais produtores de carne bovina da Europa, veem esse acordo como "um desastre", pois autoriza a importação para a Europa de 99 mil toneladas de carne bovina do Mercosul com tarifa de 7,5%, com normas sanitárias de produção proibidas na Europa, segundo eles.

 

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