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Greve não foi "pífia", mas não deve abalar as reformas

Mobilização desta sexta paralisou os serviços de algumas cidades do Brasil, mas não é suficiente para barrar agenda de Temer

Greve geral, no Rio de Janeiro, contra as reformas do governo Temer (Sergio Moraes/Reuters)

Greve geral, no Rio de Janeiro, contra as reformas do governo Temer (Sergio Moraes/Reuters)

Talita Abrantes

Talita Abrantes

Publicado em 29 de abril de 2017 às 06h30.

Última atualização em 2 de maio de 2017 às 19h45.

São Paulo — Para o ministro da justiça Osmar Serraglio, a greve desta sexta-feira foi "pífia". Para o deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP), foi “o começo do fim para o senhor Michel Temer”. A verdade, é claro, está em algum lugar entre essas duas frases exageradas.

As paralisações e os protestos desta sexta não devem ser suficientes para abalar as reformas trabalhista e da Previdência como pretendiam as centrais sindicais. Mas o movimento paralisou transportes em cerca de 20 capitais e manteve milhões de pessoas fora de seus locais de trabalho. Muitas cidades passaram a sexta-feira em clima de feriado.

Escolas públicas e privadas fecharam as portas em algumas localidades. E categorias como bancários e funcionários dos Correios cruzaram os braços. Na estimativa da Força Sindical, a greve teria envolvido 40 milhões de pessoas, o que faria dela a maior paralisação da história do país.

Esse número pode ser um tanto inflado, mas a Fecomércio-SP calcula que  o comércio em todo país teve prejuízo de 5 bilhões de reais por causa das paralisações.

Para Rafael Cortez, da Tendências Consultoria, os atos desta sexta são um retrato claro do Brasil de hoje, resultado de “um governo com baixa popularidade tentando implantar uma agenda de difícil entendimento pela maioria da população”.

Minimizar o alcance do movimento e sua repercussão é um erro que deveria ser evitado pelo Planalto, afirmam os especialistas consultados por EXAME.com.

Ônibus queimando no centro do Rio de Janeiro após confronto entra a polícia e manifestantes, dia 28/04/2017

Ônibus queimando no centro do Rio de Janeiro após confronto entra a polícia e manifestantes, dia 28/04/2017 (Ricardo Moraes/Reuters)

Segundo organizadores, mais de 1 milhão de pessoas participaram das manifestações que ocorreram em 254 cidades, aponta um levantamento do portal G1. De acordo com as polícias locais, 97 mil aderiram aos protestos.

No Rio, o protesto terminou com atos de vandalismo orquestrados por mascarados e em confronto com a Polícia Militar.

Em São Paulo, uma manifestação no Largo da Batata, na Zona Oeste da cidade, reuniu 70 mil pessoas segundo os organizadores. Esse protesto também acabou em confronto quando parte dos manifestantes caminhou em direção à casa que Michel Temer tem no bairro Alto de Pinheiros. Um grupo de black blocs depredou imóveis comerciais e atirou pedras e rojões em policiais, que reagiram com jatos d'água e bombas de gás lacrimogênio e de efeito moral.

Impacto para as reformas

Mas entre paralisar alguns setores e travar a agenda econômica de Temer no Congresso há um longo percurso. E, ao que tudo indica, a mobilização desta sexta não foi suficiente para isso.

Apesar dos pontuais cabos de guerra que têm pautado a negociação das reformas com o Congresso, Temer tem a vantagem de ter uma das bases mais equilibradas em termos de representação no governo. “O governo sabe compor muito bem com a coalizão, com quem ele divide bem a tomada de decisão e o poder”, afirma Marcelo Issa, sócio-diretor da Pulso Público.

A falta de clareza na pauta da oposição que estava nas ruas é outro fator que enfraquece o movimento. “No fim do dia, o que ficou claro é que o governo tem um conjunto de propostas e que o pessoal é contra”, analisa Marco Aurélio Nogueira, professor de Teoria Política da Unesp.

Segundo o professor, faltou uma proposta alternativa por parte dos manifestantes e grevistas, que deixaram claro que são contra as reformas do governo, mas não apontaram o que poderia ser mudado nos textos.

A resposta do governo será justamente correr para aprovar as reformas — como Temer deixou claro em nota após os protestos.

Mulher segura uma foto de Temer vestido de Hitler durante protesto no Congresso Nacional em Brasília na greve geral

Mulher segura uma foto de Temer vestido de Hitler durante protesto no Congresso Nacional em Brasília na greve geral (Ueslei Marcelino/Reuters)

As paralisações e protestos orquestrados pelas centrais sindicais ficaram longe de abalar essa segurança do Planalto. Só um movimento orgânico de larga escala durante muitos dias, a exemplo do que aconteceu em junho de 2013 e 2014, poderia afetar mais seriamente a agenda do governo. É um fenômeno que, por ora, parece longe de se repetir.

FLAxFLU

Na manhã de sexta, quando os bloqueios em avenidas e a paralisação do transporte deixaram muita gente sem meios para ir ao trabalho, a busca pelos “motivos da greve” no Google subiu cerca de 500%, segundo levantamento da consultoria Bites.

“As pessoas não sabiam por que a greve estava acontecendo. Isso mostra que as centrais sindicais não conseguiram comunicar o que pretendiam”, afirma Manoel Fernandes, sócio da Bites.

Na rede social Twitter, o assunto greve geral mobilizou mais de 1,1 milhão de postagens, o que representa 9,12% de tudo o que foi publicado no Brasil ontem.

No Twitter, a polarização ficou evidente. Até 15 horas desta sexta, a hashtag #brasilemgreve liderou a lista dos assuntos mais comentados do Brasil. Já a hashtag #euvoutrabalhar, adotada pelo grupo contrário à paralisação, ficou na terceira colocação no ranking de termos populares da redes social.

No entanto, segundo Fábio Malini, coordenador do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), em sete dias (contados até a última quarta-feira), uma parte considerável das pessoas que falavam sobre o assunto na Twitter não estavam polarizadas em nenhum grande grupo.

“Cerca de 60% das discussões estavam conectadas em grandes grupos, mas 40% estava espalhada. O que mostra que o tema já furou a bolha do embate político”, disse em entrevista na última quinta-feira para EXAME.com.

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