Brasil

WhatsApp tira poder dos sindicatos e gera "situação sem controle"

Presidente de entidade, José Araújo Silva, o China, diz que nunca viveu situação semelhante e não faz ideia de como o governo vai resolver a greve

Para o presidente da União Nacional dos Caminhoneiros, uma das marcas dessa greve é a ampla utilização do WhatsApp (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

Para o presidente da União Nacional dos Caminhoneiros, uma das marcas dessa greve é a ampla utilização do WhatsApp (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 29 de maio de 2018 às 11h29.

Última atualização em 29 de maio de 2018 às 12h00.

São Paulo - Em mais de 20 anos de liderança, o presidente da União Nacional dos Caminhoneiros (Unicam), José Araújo Silva, o China, diz que nunca viveu situação semelhante e não faz ideia de como o governo vai resolver a greve. "Virou uma situação sem controle", diz ele. Nos 15 pontos de paralisação sob a bandeira da entidade, nenhum encerrou os protestos, apesar das ponderações de China sob o acordo anunciado pelo presidente Michel Temer.

Para ele, uma das marcas dessa greve é a ampla utilização do WhatsApp, que criou um "monte de líderes" no movimento. Ao contrário do que ocorria em paralisações passadas, desta vez a voz do sindicato e das entidades de classe tem sido questionada e abafada pela disseminação das opiniões no aplicativo. Nos últimos dias, a cada anúncio do governo, milhares de caminhoneiros tinham respostas imediatas em mensagens disparadas nos grupos da categoria.

O sociólogo Massino Di Felice, professor da Universidade de São Paulo (USP) e autor de vários livros sobre comunicação digital, afirma que esse é o resultado de uma grande passagem para o que ele chama de democracia direta. Por meio dos grupos de WhatsApp, as pessoas passam a organizar as informações sem a necessidade de um representante.

"Ninguém representa ninguém. Todos podem emitir suas opiniões e organizar as informações", diz ele, que estudou as manifestações da Primavera Árabe, em 2010, no Oriente Médio, e os protestos no Brasil, em 2013, organizados pelas redes sociais. Na avaliação do sociólogo, o problema é que a política tradicional ainda não descobriu uma forma de lidar com esse novo cenário.

As últimas ações do governo mostram uma dificuldade enorme para controlar a situação, já que os manifestantes não se sentem representados pelas lideranças. Na segunda-feira, 28, nos grupos de WhatsApp, os caminhoneiros chamavam os representantes que aceitaram o acordo de traidores. "Se renderam e se venderam", afirmava um participante sobre sindicalistas, em áudio. Na mensagem, o manifestante incitava os demais para se juntarem e "darem um pau" em um sindicalista.

China, da Unicam, afirma que a situação foi agravada pelo descaso dos governos em relação aos motoristas de caminhões. "Nos últimos anos, passo, pelo menos, dois dias em Brasília para tentar criar um marco regulatório para o setor e nada foi decidido. Agora o governo tem um abacaxi no colo para resolver." Junta-se a isso o fato de os caminhoneiros sentirem que têm o poder nas mãos. Isso está claro nos grupos de WhatsApp.

A cada concessão que o governo faz, uma nova reivindicação surge nas redes. Na segunda, a justificativa dos participantes era de que a greve ia continuar porque as medidas do governo atingiam apenas o diesel, e não a gasolina - o que não estava contemplado nos pedidos iniciais. "Não podemos deixar o povo na mão. Se reduzir o diesel, o governo vai pesar no preço da gasolina e punir a população que nos ajudou tanto nas estradas."

Com a queda do apoio da sociedade à greve, na segunda a estratégia nos grupos era tentar mostrar que tudo estava sendo feito por um Brasil melhor, para beneficiar toda a população. E isso só aconteceria com uma intervenção militar. Para isso, eles apelam para que o povo faça sacrifícios. "Não custa ficar quatro, cinco dias sem carro", dizia um deles, num grupo de quase 300 pessoas. Ao mesmo tempo, eles elevavam o tom em relação àqueles que tentavam retomar o transporte de mercadorias. "Nada que uma pedra não resolva; vamos apedrejar os caminhões." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acompanhe tudo sobre:CaminhoneirosGrevesWhatsApp

Mais de Brasil

Estação Perdizes da Linha 6-Laranja atinge 82% das obras e governo avança para entrega em 2026

Guerra comercial aumentou interesse de investidores no Brasil, diz governador do Piauí

Em depoimento ao STF, Cid diz que Bolsonaro 'sempre buscou fraude nas urnas'

Ao STF, Cid diz que Zambelli e Delgatti debateram fraudes nas urnas com Bolsonaro antes da eleição