Amazônia: grupos indígenas formam frente para resistência contra as políticas ambientais do governo Bolsonaro (Ricardo Lima/Getty Images)
Reuters
Publicado em 17 de janeiro de 2020 às 20h43.
Ela tem apenas 16 anos e é de uma remota vila brasileira às margens do rio Tapajós, no coração da Amazônia, mas seu pedido foi ouvido na Organização das Nações Unidas (ONU) e no Vaticano.
Beka Munduruku quer que o mundo proteja a floresta tropical que é sua casa e um baluarte contra o aquecimento global. Ambientalistas no Brasil a chamaram de Greta Thunberg da Amazônia, em referência à adolescente sueca que inspirou milhões de jovens a agir contra as mudanças climáticas.
"As pessoas do mundo vêm e nos ajudam a proteger a natureza e combater os projetos de um governo que quer destruir a floresta", disse Beka à Reuters em uma reunião de líderes indígenas na reserva do Xingu. Ela falou, entre outras questões, de como costumava brincar no rio próximo, mas agora o mercúrio da mineração envenena a água.
O crescente desmatamento por madeireiros ilegais também ameaça a existência de 13.000 companheiros Mundrukus de Beka. A sobrevivência de sua tribo depende que a parte deles na Amazônia seja preservada.
Eles temem o pior. O presidente Jair Bolsonaro planeja abrir terras de reserva protegidas para mineração comercial e agricultura, e está considerando a construção de represas hidrelétricas no Tapajós, o último grande afluente da Amazônia que flui livremente.
"Dependemos muito da floresta, mas não é apenas para nós, é para o futuro do mundo todo", afirmou Beka.
O governo está planejando estradas e uma ferrovia para transportar soja para o porto para exportação que cortaria a floresta, enquanto uma barragem mataria espécies de peixes que os Munduruku ainda capturam apesar da poluição por mercúrio, disse ela.
Bolsonaro afirma que seu governo está protegendo a floresta tropical, mas ele quer que o desenvolvimento econômico da Amazônia melhore a vida de seus 30 milhões de habitantes, incluindo as tribos. Os ambientalistas temem que isso acelere o desmatamento.
Um vídeo de Beka foi exibido no Vaticano e em uma cúpula climática da ONU no ano passado. Ela diz que fez o vídeo para mostrar ao mundo como uma tribo amazônica vive e como a geração jovem está comprometida a manter sua língua e cultura, ameaçadas pelos planos do governo de integrar os 850 mil indígenas do país.
Os organizadores adolescentes da greve escolar convocada por Greta na Europa enviaram mensagens de vídeo de apoio a Beka.
Para ela, esse espírito ajudará a tribo a vencer a batalha para preservar a floresta amazônica. "Somos um povo muito forte e poderemos parar com isso e continuar lutando por nossa terra e pela proteção da floresta", disse ela.