Roberto Macedo, em 1992, no Ministério da Fazenda: "A gente chamava de corte de vento" (Claudio Versiani/Veja)
Da Redação
Publicado em 9 de março de 2011 às 17h23.
São Paulo – O corte de gastos anunciado pelo governo federal ainda não convenceu e só o tempo mostrará eventuais efeitos práticos no combate à inflação.
A avaliação é do ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e professor da USP e da FAAP, Roberto Macedo, que participou nesta quarta-feira (9) do programa “Momento da Economia”, na Rádio EXAME.
“Não me convenceu ainda (o pacote fiscal). Eu quero ver pra crer. Eu já trabalhei em Brasília e frequentemente você fica anunciando algumas coisas que a gente chamava de cortar vento, que é cortar orçamento, porque você não sabe se aquilo ia ser de fato aplicado. Embora eu seja uma pessoa mais ligada à oposição, eu aplaudiria um eventual avanço nessa área (fiscal)”, diz Macedo, que também é vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo.
O professor explica que, se houvesse um maior controle dos gastos públicos, o Banco Central não precisaria aumentar tanto os juros nem o governo teria de cortar o crédito. “Eu continuo entendendo que o grande vilão nessa história da inflação é o governo e, episodicamente, essa questão de preços de commodities, de alimentos em particular.”
A redução da estimativa de inflação registrada no boletim Focus é um alívio, mas os índices ainda estão em patamares elevados. “Os índices estão dando 0,80% ao mês, que é um número totalmente incompatível com a meta de 4,5%. O pessoal (do mercado) deve estar baixando isso para 0,70% ou 0,60%, mas ainda assim um número muito alto. Você precisa, em média, de 0,35% ao mês para dar os 4,5% ao ano. Estamos muito longe disso”, explica Macedo.
O ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda torce o nariz quando vê algumas projeções dos analistas do sistema financeiro. “Eu sou um pouco crítico do mercado porque eu acho que eles enfatizam muito a taxa de juros. Como eu já trabalhei no setor eletroeletrônico e sou ligado à Associação Comercial, que olha muito essa questão de crédito, eu acho que as tais medidas macroprudenciais devem ter efeito no crédito, mas estamos numa fase de esperar pra ver se vai dar certo. (...) Se as medidas macroprudenciais ficarem frágeis e a política fiscal continuar frouxa, aí eu dou razão ao Banco Central, já que ninguém está ajudando, ele acaba aumentando os juros.”
Na entrevista (para ouvi-la na íntegra, clique na imagem ao lado), o professor Roberto Macedo fala sobre a necessidade de o governo preservar e ampliar os investimentos, e comenta o risco de o Banco Central não atingir o centro da meta de inflação no ano que vem.