Luiz Felipe Scolari: técnico da seleção brasileira telefonou ao governador do Distrito Federal, para expressar preocupação com a situação do campo onde o Brasil enfrentará a Austrália num amistoso (REUTERS/Paulo Whitaker)
Da Redação
Publicado em 28 de agosto de 2013 às 12h25.
Rio de Janeiro - O gramado visto nos jogos da Copa das Confederações deixou de ser verdinho e sem falhas em algumas arenas, menos de dois meses após o fim da competição, o que virou alvo de preocupação do técnico da seleção brasileira e motivo de alerta para a Copa do Mundo de 2014.
O excesso de partidas, a realização de shows e a colocação da grama em cima da hora por causa de atraso nas obras, entre outras razões, estão por trás das falhas vistas nos campos dos estádios Maracanã, Mané Garrincha (Brasília) e Arena Pernambuco nos jogos realizados por times brasileiros desde o fim da competição preparatória para o Mundial.
O gramado do estádio de Brasília, que já havia recebido críticas pelo estado apresentado no jogo Brasil x Japão, que abriu o torneio de junho, é o que chama mais atenção. Ao vivo na arquibancada ou em imagens transmitidas pela televisão, as falhas espalhadas por todo o campo são gritantes, principalmente dentro das áreas.
"Hoje não está no padrão da Copa do Mundo", reconheceu à Reuters o direto-executivo do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo (COL), Ricardo Trade, ao ser questionado sobre a situação do campo do Mané Garrincha.
O problema da grama no estádio mais caro do Mundial, que custou mais de 1,2 bilhão de reais, tem como origem o atraso nas obras da arena. O gramado só tinha 18 dias de plantado quando recebeu seu primeiro jogo, enquanto especialistas afirmam que seriam necessários ao menos 45 dias entre o fim da instalação e o primeiro toque de bola no campo.
Além disso, o gramado não tem recebido descanso desde então. Atraído pelo bom público e pela renda alta --o estádio é o líder desses quesitos no Campeonato Brasileiro-- o Mané Garrincha tornou-se a "casa" do Flamengo e também recebeu partidas de Botafogo, Vasco e Santos.
Na semana passada, o técnico da seleção brasileira, Luiz Felipe Scolari, telefonou ao governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), para expressar preocupação com a situação do campo onde o Brasil enfrentará a Austrália num amistoso em 7 de setembro, e pediu uma redução no número de partidas no local.
Felipão expressou no telefonema "preocupação que a partida da seleção brasileira ser realizada num gramado ruim tenha repercussão negativa para o país", a nove meses da Copa do Mundo, de acordo com a assessoria do treinador. No entanto, o estádio está com a agenda cheia.
"O campo do Mané Garrincha recebe os cuidados necessários para estar em condições adequadas de receber partidas como as do Campeonato Brasileiro de Futebol, tanto que tem agenda de jogos cheia para os próximos meses e atrai cada vez mais clubes interessados em disputar partidas em Brasília", disse o governo do DF, responsável pelo estádio, em nota.
Falha no "visual" ou deixa a desejar?
Apesar de reconhecer o problema, o COL tem influência limitada sobre os estádios fora do período em que estão cedidos para o Mundial. "Nós temos feito recomendações aos responsáveis pelos estádios sobre os cuidados que precisam ser tomados, mas não podemos interferir na administração. Os estádios têm seus donos e nós não podemos decidir o que vai ser feito", disse Trade.
O excesso de jogos também é problema no Maracanã, que passou a concentrar partidas dos times do Rio uma vez que o Engenhão foi fechado, em março, por problemas na estrutura da cobertura. Apenas nesta semana, serão disputados três jogos em cinco dias no campo, que foi criticado pelos ex-técnicos da seleção brasileira Dunga e Vanderlei Luxemburgo.
"Eu tenho que ir fazendo as coisas que o gramado pede independentemente dos jogos", disse à Reuters Flávio Piquet, sócio da empresa Greenleaf, responsável pelo gramado do Maracanã e de mais seis estádios da Copa do Mundo.
"Esse visual com um pouco de falha, na verdade, é uma resposta ao que nós fizemos em resposta ao que o próprio Luxemburgo falou. Nós passamos uma máquina que retira o excesso de grama. O que importa é que a bola está rolando perfeita", acrescentou.
Mas, segundo Dunga, o problema não fica apenas no visual. "Tem que lembrar que quem dá o espetáculo são os atletas, e o gramado está deixando a desejar", disse o treinador após uma partida de seu atual time, o Internacional, no Maracanã.
Já na Arena Pernambuco, o problema não é bola rolando em excesso. O local, que praticamente só tem jogos do Náutico, foi palco de uma maratona musical de 12 horas no início do mês, que deixou suas marcas no gramado.
Em casos como esse, um outro problema que surge para os gramados é a falta de luz do sol, que seria fundamental para a recuperação da grama. Por exigência da Fifa, quase 100 por cento dos torcedores precisam ficar protegidos da chuva no estádio, o que resultou em arenas com coberturas maiores, que dificultam a entrada do sol.
Apesar dos contratempos, a empresa responsável pelos gramados garante que um período de 60 dias sem jogos e com cuidado intensivo garantiriam a qualidade dos campos para o Mundial de 2014. O prazo previsto para isso, no entanto, é bem menor -- aproximadamente um mês.
"A gente gostaria de 60 dias. Na Copa das Confederações, falaram em 30 dias e não aconteceu. Estamos pedindo 60 para conseguir 30", disse o sócio da Greenleaf.
Entre as sedes da Copa das Confederações, os campos de Salvador, Fortaleza e Belo Horizonte estão em boas condições, de acordo com a empresa, que também responde pelos gramados dessas arenas. Para os seis estádios que ainda passam por obras, a Fifa disse estar confiante na qualidade do gramado, uma vez que as obras têm prazo de conclusão em dezembro deste ano -- seis meses antes do início do Mundial.