Brasil

Governo quer relaxar quarentena mesmo sem ter dados de leitos e testes

Nelson Teich sequer apresentou à equipe da Saúde detalhes sobre quais dados pretende levantar para dar subsídios à retomada das atividades

Coronavírus: o ministério determinou que gestores de estabelecimentos públicos e privados de saúde informassem o número de leitos e ocupação (Silvio AVILA/AFP)

Coronavírus: o ministério determinou que gestores de estabelecimentos públicos e privados de saúde informassem o número de leitos e ocupação (Silvio AVILA/AFP)

CC

Clara Cerioni

Publicado em 25 de abril de 2020 às 13h14.

Última atualização em 25 de abril de 2020 às 13h22.

O presidente Jair Bolsonaro pede o fim das quarentenas e o ministro da Saúde, Nelson Teich, afirma que a pasta já estuda medidas para o relaxamento do distanciamento social.

Mas o governo federal não tem em mãos dados básicos para começar a desenhar a nova estratégia de resposta à covid-19, como taxa de ocupação de leitos e de testes de diagnóstico em cada Estado e no Distrito Federal.

No começo do mês, o ministério determinou que gestores de estabelecimentos públicos e privados de saúde informassem o número de leitos e ocupação, sob pena de cometer infração sanitária grave ou gravíssima, que pode até levar à interdição do espaço.

Segundo apurou a reportagem, há Estados que ainda não enviaram informações. A ideia era já ter divulgado os dados, mas o ministério não tem data para mostrar o Censo Hospitalar, como é chamada a iniciativa.

A falta de dados já incomodava a equipe do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta. Ele chegou a dizer a colegas que iria pedir à Polícia Federal para acompanhar o envio de informações para a base de dados, ideia que não foi para frente.

O novo ministro da Saúde, Nelson Teich, disse em sua primeira entrevista coletiva, na quarta-feira, que a informação sobre a covid-19 é "crítica" e o País tem de ser mais "eficiente". "É uma corrida contra o tempo."

Ele não apresentou sequer à equipe atual da pasta detalhes sobre quais dados pretende levantar para dar subsídios a Estados e municípios na elaboração de um plano de retomada das atividades, como quer Bolsonaro.

"É impossível um país viver um ano, um ano e meio parado. Um programa de saída, isso é que a gente vai desenhar e dar suporte para Estados e municípios", disse Teich esta semana.

A transparência em dados sobre a covid-19 é acompanhada pela Open Knowledge Brasil (OKBR). Segundo boletim de 16 de abril da organização, 78% dos Estados ainda não divulgavam taxa de ocupação de leitos. Entre os Estados que divulgaram, há avanço da covid-19.

No Amazonas, os leitos dedicados a tratamento contra o vírus estão com ocupação superior a 90%, segundo a secretaria estadual de saúde.

O Estado tem feito enterros em trincheiras improvisadas. No Rio de Janeiro, Estado que "aguenta muito pouco", segundo o ex-ministro Mandetta disse ainda em março, a ocupação de UTIs beira os 80%. Há duas semanas, a taxa era de cerca de 60%.

Atraso

Para enfrentar a covid-19, o governo prometeu enviar 3 mil kits para instalação de leitos de UTI nos Estados. Em 15 de março, o Estado revelou promessa de envio da primeira leva, de 540 unidades, que serviria de "reserva técnica".

Hoje, as unidades tornaram-se essenciais, mas apenas 340 kits foram entregues. O governo tem dito que encontrou dificuldades para compra de equipamentos - mil respiradores, por exemplo, foram bloqueados pelo governo da Argentina.

Apenas 4 Estados publicam quantidade de testes disponíveis, segundo informe de quinta-feira da OKBR. O ministro Teich aponta a testagem como pilar de sua estratégia de combate à covid-19.

O governo federal também não tem divulgado o número de testes aplicados.

Acompanhe tudo sobre:CoronavírusJair BolsonaroMinistério da SaúdeNelson Teich

Mais de Brasil

Aposentados do INSS podem solicitar reembolso de descontos indevidos nesta quarta; saiba como pedir

Giro do dia: morte de Pepe Mujica, CPI das Bets, JBS, INSS e investimentos da China

Governo Lula paralisa cessão da área da favela do Moinho em SP ao governo Tarcísio

Prefeito de Sorocaba (SP) vira réu por suspeita de superfaturamento na compra de lousas digitais