O juiz Sérgio Moro: iniciativa começou com a própria presidente durante a cerimônia de posse de Lula (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 18 de março de 2016 às 09h34.
Brasília - O governo iniciou na quinta-feira, 17, uma ofensiva com questionamentos sobre a ação do juiz federal Sérgio Moro, que tornou públicos anteontem os áudios do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em conversa com a presidente Dilma Rousseff.
A iniciativa começou com a própria presidente durante a cerimônia de posse de Lula.
Em um claro recado a Moro, responsável pelas investigações da Operação Lava Jato na Justiça Federal em Curitiba, a petista criticou a quebra do sigilo e a divulgação do conteúdo de conversas entre eles.
"Não há justiça quando as próprias garantias da Presidência da República são violadas. O Brasil não pode se tornar submisso a uma conjuração que invade garantias constitucionais da Presidência da República, não por que a presidente seja diferente de outros cidadãos. Mas se fere essas prerrogativas, o que farão com as prerrogativas do cidadão?", questionou Dilma, ao discursar na solenidade, em Brasília.
A presidente garantiu que todo o fato será investigado. "Vamos avaliar as condições desse grampo. Quem autorizou, por que autorizou, e por que foi divulgado quando ele não continha nada, nada, eu repito, nada que possa levantar qualquer suspeita sobre seu caráter republicano", disse a presidente.
Na sequência, Dilma declarou: "A justiça e o combate à corrupção sempre são mais fortes e dignos quando respeitam os princípios constitucionais".
Documento
A presidente da República fez questão de mostrar o documento na cerimônia e afirmou que ele foi enviado porque Lula poderia não comparecer ao evento devido a um problema de saúde de Marisa Letícia, sua mulher, também investigada.
Dilma mostrou ainda que o termo estava assinado apenas por Lula, e, sem sua assinatura como presidente, não teria qualquer validade para impedir uma eventual prisão.
"Em que pese o teor absolutamente republicano do diálogo que tive ontem com ex-presidente Lula, ele foi publicizado com interpretação desvirtuada", afirmou a petista.
A presidente disse ainda que é preciso "superar os ódios" no País e afirmou que a "gritaria dos golpistas" não vai tirá-la do rumo, não vão "colocar nosso povo de joelhos" nem causarão "caos e convulsão social".
O clima na solenidade no Planalto foi de ato político, com gritos de que "não vai ter golpe".
Depois da posse, ministros também atacaram Moro. O novo ministro da Justiça, Eugênio Aragão, sugeriu que o juiz cometeu crime.
"Se houve conversa da presidente que merecesse atenção jurisdicional não caberia ao juiz de primeira instância nem sequer aquilatar o valor daquela prova e muito menos dar-lhe publicidade."
Já o advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, declarou que o sigilo da conversa da presidente é questão de "segurança nacional".
Os argumentos serão usados pelo governo para partir para o enfrentamento da decisão do juiz de divulgar a conversa.
A investida, no entanto, pode ser articulada internamente no governo, mas protagonizada por parlamentares do PT e do PC do B, a exemplo do que foi feito no Supremo Tribunal Federal (STF) para questionar o rito do processo de impeachment.
O plano é argumentar que a escuta já deveria ter sido encerrada por ordem do próprio Moro no momento da gravação de Dilma e que, ao encontrar autoridade com foro privilegiado, o juiz precisaria encaminhar o caso imediatamente ao STF.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.