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Governo enfrenta ceticismo no combate à inflação, diz Azevedo

Diretor da Ibiúna Investimentos lembrou que a mesma equipe que hoje fala em ajuste fiscal foi responsável por uma política expansionista em um passado recente

Mercado duvida da equipe de Mantega no corte de gastos para combater inflação (Renato Araújo/Agência Brasil)

Mercado duvida da equipe de Mantega no corte de gastos para combater inflação (Renato Araújo/Agência Brasil)

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Da Redação

Publicado em 28 de fevereiro de 2011 às 14h29.

São Paulo - A estratégia do governo de enfrentar a alta da inflação com um misto de alta de juros, medidas macroprudenciais de contenção do crédito e ajuste fiscal gera “ceticismo” no mercado, disse Rodrigo Azevedo, diretor e sócio-fundador da Ibiúna Investimentos Ltda.

“As pessoas que estão conduzindo esse processo de ajuste fiscal, em particular o Ministério da Fazenda, no passado recente foram responsáveis pela implementação de uma política demasiado expansionista”, disse Azevedo hoje em entrevista na Bloomberg em São Paulo. “É natural que os agentes se perguntem se de fato as coisas mudaram e queiram adotar uma postura de ver para crer.”

Para tentar cumprir a meta fiscal de 3,1 por cento este ano e ajudar no combate à inflação, que está no nível mais alto em quase oito anos, o governo da presidente Dilma Rousseff disse que fará um corte de R$ 50 bilhões no orçamento deste ano.

O cumprimento da meta fiscal pode não ser suficiente para ajudar no controle da inflação se houver artifícios contábeis, disse Azevedo, 46 anos.

“Fazer a meta com contabilidade criativa tem pouco efeito sobre a demanda agregada”, disse ele.

Copom

Segundo o economista, que foi diretor do BC durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o BC deve elevar a taxa básica de juros em pelo menos mais 1,50 ponto percentual este ano para trazer a inflação para o centro da meta. Para a reunião do Comitê de Política Monetária desta semana, ele prevê alta de 0,50 ou de 0,75 ponto percentual.

Economistas estimam que a inflação brasileira ao consumidor será de 5,80 por cento em 2011 e de 4,78 por cento em 2012, segundo a pesquisa Focus do BC com cerca de 100 economistas divulgada hoje pelo Banco Central. As duas projeções são superiores ao centro da meta de 4,5 por cento estipulada pelo governo.


Indexação

Segundo Azevedo, a indexação de preços e salários tem aumentado e é um dos fatores que dificultam a redução da inflação no País. O aumento do salário mínimo previsto em 13 por cento para o próximo ano é um dos exemplos de indexação que afeta as expectativas inflacionárias, disse ele.

“A indexação voltou a crescer”, disse.

Para o economista, a resistência do governo em desacelerar a economia também contribui para as incertezas.

“A política econômica está com muito ruído e um deles é o de que não pode desacelerar a economia”, disse Azevedo. “É muito difícil desinflacionar em dois pontos percentuais” sem uma desaceleração da atividade, segundo ele.

Para Azevedo, outro fator de incerteza é o de o BC estar trabalhando com “múltiplos objetivos” além do combate à inflação, como a promoção do crescimento e a contenção da apreciação cambial.

Teto da meta

Azevedo disse que a inflação poderá superar o teto da meta, de 6,5 por cento, no final deste ano e que o governo poderá ter dificuldade para fazer a taxa cair para o centro da meta em 2012.

“Ou o governo muda a postura ou vai ser difícil chegar a 4,5 por cento”, disse ele.

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo - 15 subiu 0,97 por cento em fevereiro. A inflação acumulada em 12 meses pelo IPCA- 15 está em 6,08 por cento até fevereiro, perto do teto da faixa de tolerância, que é de dois pontos percentuais acima ou abaixo do centro da meta de 4,5 por cento.

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