Paulo Roberto da Costa: a aposta inicial dos governistas é de que o ex-diretor permaneça em silêncio (Geraldo Magela/Agência Senado)
Da Redação
Publicado em 17 de setembro de 2014 às 11h26.
Brasília - O governo montou ontem uma operação de "contenção de danos" com vistas a minimizar possíveis estragos causados pelo depoimento que o ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa deve prestar na tarde de hoje à CPI mista (CPMI) da estatal instalada no Senado em decorrência da Operação Lava Jato da Polícia Federal.
O Palácio do Planalto teme que, se o ex-diretor resolver falar sobre o esquema de corrupção que tem delatado à Justiça Federal do Paraná, a presidente Dilma Rousseff pode sair extremamente desgastada a 19 dias do primeiro turno das eleições. A aposta inicial dos governistas é de que o ex-diretor permaneça em silêncio durante o depoimento, que ocorrerá sobre forte esquema de segurança.
Desde o dia 29 de agosto, Costa tem prestado depoimentos à Justiça no qual vem revelando a participação de políticos, inclusive filiados ao PT e ao PMDB, num esquema de recebimento de propina em contratos sob a diretoria que comandou nos governos Lula e Dilma (2004 a 2012).
A avaliação é de que o ex-diretor poderia perder o direito à redução da pena prevista no acordo de delação caso fale aos deputados e senadores.
Dilma afirmou ontem que "não tem a menor preocupação" com a ida do ex-diretor para depor no Congresso. Apesar das declarações da presidente, o governo está acompanhando o tema de perto e o ministro- chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, foi escalado para atuar junto ao Congresso.
Berzoini se reuniu na manhã desta terça-feira, no Planalto, com o presidente da CPMI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), para debater a estratégia de condução dos trabalhos durante o depoimento.
Enquanto o assunto Petrobrás estiver em ebulição na CPMI, o afastamento do ministro Ricardo Berzoini do governo está adiado. A ideia inicial consistia em que ele, a exemplo dos ministros Gilberto Carvalho (Secretaria Geral), que tirou férias, e do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, que deixou temporariamente o cargo para reforçar a campanha, também se afastasse do Planalto para colaborar nas eleições.
Mas, agora, diante das denúncias de corrupção na estatal, o plano foi adiado. Berzoini, no entanto, já participa das reuniões de coordenação da campanha petista no Alvorada.
Manobra. Em sintonia fina com o Planalto, caso Costa queira falar à CPI, parlamentares da base vão defender que o depoimento do ex-diretor seja realizado em sessão fechada. Embora justifiquem publicamente que desta forma o ex-diretor vai se sentir mais à vontade para falar, os governistas avaliam que um depoimento feito sem a presença da imprensa terá um efeito político - e, naturalmente, eleitoral - reduzido.
Outro ponto que os governistas pretendem explorar, caso o ex-diretor resolva falar, é sobre a ascensão de Costa na Petrobrás durante o governo Fernando Henrique Cardoso. A estratégia da base é mostrar que, se o ex-diretor atuou mesmo no esquema de corrupção da Petrobrás, o início se deu ainda nos governos tucanos.
O ex-diretor, que entrou para a estatal em 1977 por concurso público, ocupou importantes funções na companhia durante a gestão FHC. Um grupo de 10 assessores da base fez um pente-fino na atuação de Costa a fim de encontrar indícios de atuação irregular dele desde o governo do PSDB (1995-2002).
Apesar da apreensão nos bastidores, o presidente da CPMI afirmou que não está preocupado com as eventuais repercussões que as revelações do ex-diretor possam trazer para seu partido. "(O PMDB) não (teme o depoimento), eu acho que todos nós torcemos para que ele possa falar e confirmar as notícias vazadas por vocês", respondeu Vital do Rêgo.
O relator da comissão, deputado Marco Maia (PT-RS), disse esperar que Costa confirme as declarações. "Provavelmente esta sessão será fechada e nós deveremos dar esta oportunidade ao depoente para que ele possa falar mais. Nós queremos ouvi-lo, obter informações dele durante o processo de investigação", disse.
O líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE), também concorda com o relator. "Se formos realizar a sessão secreta, vamos preservar a condição do delator", afirmou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.