Brasil

Governo do Rio deve reduzir passagens de metrô e trens para R$ 4,70, mesmo com as contas no vermelho

Segundo o secretário de Transportes, a medida custaria aos cofres públicos R$ 300 milhões este ano e R$ 500 milhões em 2026

 (Reprodução)

(Reprodução)

Agência o Globo
Agência o Globo

Agência de notícias

Publicado em 27 de maio de 2025 às 11h35.

No muro que cerca a sede do MetrôRio, na Avenida Presidente Vargas, no Centro, uma pichação chama a atenção: “R$ 7,90. Tá caro”. Os valores das tarifas de trem e metrô causam insatisfação de usuários, que também enfrentam superlotação e sofrem com a queda na qualidade dos serviços. Diante desse cenário, mesmo com orçamento no vermelho em R$ 14,6 bilhões este ano, o estado acena com a possibilidade de reduzir para R$ 4,70 as passagens de trem e metrô, assim como foi feito nas barcas, em março. A expectativa do secretário estadual de Transportes, Washington Reis, é de que a diminuição das tarifas acarretaria num aumento de 500 mil passageiros por dia nos transportes sobre trilhos: o número de usuários do metrô passaria de 650 mil para 900 mil, e de trens, de 358 mil para 600 mil.

Segundo Reis, a medida custaria aos cofres públicos R$ 300 milhões este ano e R$ 500 milhões em 2026, e os recursos viriam do Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza (FECP). A implementação do projeto depende da assinatura de decreto pelo governador Cláudio Castro (PL). O estado, no entanto, ainda não bateu o martelo sobre a data em que a medida será implantada.

— É pouco dinheiro diante do benefício. Mais pessoas serão atraídas para o sistema de alta capacidade, e se consegue tirar carros das ruas — argumenta o secretário.

Em 2023, a Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) aprovou a reestruturação do FECP e tornou mais abrangente suas aplicações. Ele já é usado, por exemplo, para custear o Bilhete Único Intermunicipal. E, no fundo, há cerca de R$ 5 bilhões, de acordo com Reis.

Especialistas citam desafios e fazem sugestões para a aplicação da chamada Tarifa RJ em metrô e trem. Vice-presidente da Comissão de Tributação, Controle de Arrecadação Estadual e de Fiscalização dos Tributos Estaduais, o deputado Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSD) pondera que o déficit orçamentário do estado projetado para este ano, de R$ 14,6 bilhões, é um complicador:

— Pode ser que diminua o rombo. Mas, de qualquer jeito, o estado vai fechar com mais de R$ 5 bilhões no vermelho.

Qualidade criticada

Luiz Paulo, que acompanha o trabalho do grupo que estuda a nova modelagem do sistema de trens do Rio — por acordo judicial homologado, a SuperVia devolve a concessão entre julho e setembro —, conta que o governo deverá adotar o mesmo formato das barcas: licitará a operação, ficando com a bilhetagem e arcando com os investimentos.

— O assunto ainda está em discussão, mas em tese diria que o operador dos trens deve receber por quilômetro transportado de passageiro. Se o estado for dono da bilheteria, pode botar a tarifa que quiser. Isso facilita reduzir o preço do trem (hoje, custa R$ 7,60) — explica o deputado.

O parlamentar pondera que, no caso do metrô, como se trata de uma concessão, teria de haver subsídio, o que torna a diminuição do preço mais complexa. Ele sugere uma alternativa ao FECP: o uso de recursos do fundo de transportes (dos R$ 301 milhões empenhados este ano, R$ 153 milhões foram pagos até abril). Ele trata ainda do Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag) e do Regime de Recuperação Fiscal:

— Não acredito que, mesmo o Rio ainda não tendo aderido ao Propag e esteja em Regime de Recuperação Fiscal, o Conselho de Supervisão do regime se oponha ao subsídio.

Já o economista André Luiz Marques, do Insper, especialista em contas públicas, pondera que “não existe almoço grátis”:

— Quando você reduz de um lado, aumenta a necessidade de subsídio do outro, e eleva a pressão sobre o orçamento do estado. Você gera um fôlego a mais, mas a conta vai chegar mais para frente. Você pode ter um alívio no curto prazo, mas a longo prazo a conta vai ser cobrada.

Marcus Quintela, diretor da FGV Transportes, frisa que, no Rio de Janeiro, o transporte sobre trilhos enfrenta uma defasagem em relação a outras cidades brasileiras:

— O MetrôRio é a única concessão do país que ainda vive da tarifa (sem subsídio do estado). Por isso, tem a tarifa mais cara do Brasil. Em outras cidades, os metrôs recebem uma tarifa subsidiada.

Negociações à parte, o impacto na qualidade dos serviços é sentido pelos passageiros diariamente. Uma pesquisa recente da FGV Transportes, que compara de que maneira a mobilidade urbana é percebida pelos usuários de três capitais brasileiras — Rio, São Paulo e Belo Horizonte —, indica que, para quem usa transporte público no Rio, a integração dos transportes, a qualidade do serviço prestado e o valor das passagens estão entre as principais reclamações.

‘Ando esmagada’

Ainda segundo o levantamento da FGV, 40% dos usuários do Rio consideram a mobilidade urbana ruim ou péssima. A nota média dada à cidade na última pesquisa foi de apenas 4,6 (numa escala entre 0 e 10) — a pior entre as três capitais analisadas.

— Pagar R$ 7,60 para andar esmagada no ramal Japeri caindo aos pedaços é um absurdo — queixa-se Marina Alves, moradora da Baixada Fluminense.

Quintela lembra ainda que paralelamente à questão tarifária, é preciso cuidar da operação, para que a diminuição das tarifas não gere superlotação:

— A partir do momento em que se reduz a tarifa, a demanda pode aumentar. Então, é preciso ofertar transporte. Nesse caso, seria importante diminuir o tempo de circulação de trens, dar conforto aos usuários. Senão, pode-se criar um caos no sistema.

Como solução para a sobrecarga, o secretário de Transportes afirma que novas composições para o sistema sobre trilhos estão sendo compradas pelo estado: 40 de trens e dez para metrô.

Baseado no argumento de que é necessário o desenvolvimento de políticas públicas que permitam a redução do valor da passagem “para aumento da acessibilidade ao sistema”, o MetrôRio ressalta que diferentemente do que acontece nos sistemas metroviários de outros estados e países, no Rio de Janeiro, “o cidadão paga a tarifa técnica integral (custo total da operação), pois ainda não há subsídio para os transportes sobre trilhos”. E lembra que “atualmente, apenas a população com renda mensal inferior a R$ 3,2 mil tem acesso à tarifa social, ao valor de R$ 5”.

Acompanhe tudo sobre:MetrôsRio de Janeiro

Mais de Brasil

Reforma administrativa: veja os principais pontos dos projetos que atingem servidores

Brasil cobra libertação imediata de brasileiros detidos por Israel em flotilha humanitária

Ministro da Saúde recomenda evitar destilados sem 'absoluta certeza' da origem

Intoxicação por metanol: Polícia de SP prende duas mulheres com uísque falsificado em Dobrada (SP)