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Governo do Rio de Janeiro confirma 121 mortos após megaoperação

A operação policial realizada nesta terça-feira, 28 de outubro, se tornou a mais letal da história do Rio de Janeiro

Mateus Omena
Mateus Omena

Repórter

Publicado em 29 de outubro de 2025 às 14h24.

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O número de mortos na Operação Contenção, no Rio de Janeiro, chegou a 121, segundo anúncio do governo estadual nesta quarta-feira, 29, um dia após a operação mais mortal já realizada no Rio.

A atualização do total de mortos foi fornecida pelo delegado Felipe Curi, atual secretário estadual da Polícia Civil. Ele explicou que o saldo de mortos na operação foi de 4 policiais e 117 suspeitos.

A megaoperação foi deflagrada na terça-feira, 28, e mobilizou 2,5 mil agentes civis e militares nos complexos do Alemão e da Penha, em uma tentativa de conter o avanço do Comando Vermelho (CV) sobre 26 comunidades da capital fluminense.

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A investigação

A Operação Contenção foi deflagrada a partir de investigações conduzidas pelas polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro, que monitoravam há meses a atuação do Comando Vermelho. Segundo o governo estadual, a facção criminosa planejava expandir sua área de influência em comunidades consideradas estratégicas para o tráfico de drogas e armas na capital.

As apurações identificaram líderes e rotas utilizadas pelo grupo, além de movimentações logísticas em regiões como os complexos do Alemão e da Penha — áreas que concentram 26 comunidades com histórico de domínio por facções. Diante da escalada da violência e da ameaça ao controle territorial, os dois complexos foram definidos como alvos prioritários da ofensiva.

"É uma investigação de mais de um ano. Foram mais de 60 dias de planejamento das polícias Civil e Militar, da Secretaria de Segurança Pública e do Ministério Público. É uma operação do Estado contra narcoterroristas", disse Cláudio Castro, governador do Rio, durante uma coletiva de imprensa sobre a ação.

Segundo o Ministério Público do Rio de Janeiro, Edgar Alves de Andrade — conhecido como Doca — é apontado como o líder do CV na Penha e em outras comunidades da Zona Oeste da cidade. A denúncia do MP relata que outros suspeitos também exerciam cargos de liderança no grupo, como Pedro Paulo Guedes, conhecido como Pedro Bala; Carlos Costa Neves, o Gadernal; e Washington Cesar Braga da Silva, o Grandão.

De acordo com a pasta, eles eram responsáveis pela emissão de ordens para a comercialização de drogas, determinavam as escalas nos pontos de venda dos entorpecentes e ordenavam execuções de participantes que pudessem ir contra seus comandos.

Outros 15 homens também foram denunciados pelo MP-RJ.

A operação

Na manhã de terça, cerca de 2.500 agentes de segurança pública — entre policiais civis, militares, homens do Bope e da Core — iniciaram uma operação simultânea de grande porte nos complexos do Alemão e da Penha.

O objetivo era frear a expansão territorial do Comando Vermelho, capturar lideranças do tráfico e recuperar áreas dominadas por criminosos armados.

A retaliação foi imediata: integrantes da facção reagiram com bloqueios em vias estratégicas, incendiando ao menos 70 ônibus e utilizando drones equipados com explosivos para atacar os policiais — um método inédito em ações do crime organizado no Brasil. Durante o dia, o tiroteio se intensificou em vários pontos da cidade e levou ao fechamento de escolas, universidades e comércios.

Centro de Operações e Resiliência (COR) da Prefeitura do Rio divulgou ontem de tarde que a cidade entrou no estágio 2 de risco — numa escala que vai de 1 a 5. O alerta é acionado para informar a população sobre o risco de "ocorrências de alto impacto".

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O que aconteceu?

A megaoperação resultou em 64 mortos, sendo 60 suspeitos e quatro policiais, de acordo com o governo do Rio. No entanto, a Defensoria Pública do estado do Rio de Janeiro informou que mais de 100 pessoas morreram. O governo estadual não confirmou esse número.

Também foram presas 81 pessoas e apreendidos 31 fuzis, munições e outros armamentos de alto calibre.

Ao menos 204 linhas de ônibus foram afetadas, com veículos queimados, desviados ou impedidos de circular.

Durante o dia, Castro afirmou estar “sozinho” na operação, em referência ao que chamou de falta de apoio do governo federal. Em contrapartida, o Ministério da Justiça e Segurança Pública afirmou que não foi formalmente acionado para participar da ação e que a Força Nacional atua no estado desde outubro de 2023, com operações previstas até dezembro deste ano.

O governo federal também afirmou que pedidos anteriores do estado para o uso de blindados das Forças Armadas foram negados com base em parecer da AGU, que condiciona o envio desses equipamentos à decretação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) — medida que não foi solicitada desta vez. Mais tarde, o governador recuou e disse que suas declarações foram mal interpretadas, negando críticas diretas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e reforçando que não houve pedido formal de apoio federal para essa operação específica.

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, informou que está acompanhou a operação e aproveitou para reforçar seu discurso sobre segurança pública.

O pós

Nesta manhã, o COR-Rio informou que o nível de alerta da cidade retornou ao estágio 1, considerado de normalidade, com todas as vias liberadas para o tráfego. O trânsito voltou a fluir nas principais rodovias, como Avenida Brasil, Linha Vermelha e Autoestrada Lagoa-Barra.

Entretanto, o movimento nas ruas permanece reduzido, com pontos de ônibus vazios e poucas pessoas circulando, reflexo do clima de tensão que ainda domina a cidade.

Moradores levaram dezenas de corpos até a praça São Lucas, na Estrada José Rucas, no centro do Complexo da Penha. Segundo O Globo, os corpos foram retirados da área de mata da Vacaria, onde houve um dos confrontos mais intensos com os agentes policiais.

Até o momento, não há a confirmação se os cadáveres estão na contagem oficial de mortos do estado. O coronel Marcelo de Menezes Nogueira, secretário da Polícia Militar, afirmou ao g1 que investigará a situação.

Rui Costa, ministro da Casa Civil, e Ricardo Lewandowski, ministro da Justiça e Segurança Pública, devem realizar uma reunião de emergência com Castro, nesta quarta-feira, 29.

Durante a coletiva de imprensa realizada nesta manhã, o governador Castro afirmou que aguarda um contato do governo federal para concretizar a proposta de enviar um representante ao Rio de Janeiro. Ele também destacou que nenhum membro do governo estadual pretende "transformar este momento em uma batalha política".

"O Rio de Janeiro não tem receio algum de ser fiscalizado ou de explicar o que ocorreu. Ontem, foi realizada uma operação de cumprimento de mandado judicial", disse. Segundo o governador, as "decisões judiciais transformaram o Rio de Janeiro em um bunker".

"Aquele que não reconhecer que este é o maior problema do Brasil hoje, em breve precisará revisar suas declarações e pedir desculpas à sociedade. O epicentro desta crise de segurança pública que aflige o Brasil é o Rio de Janeiro", afirmou.

Castro também enfatizou que a operação foi planejada de forma a garantir que "a população não fosse prejudicada".

O governador expressou ainda sua solidariedade às famílias dos policiais mortos na operação. "As únicas vítimas que registramos ontem foram os policiais", disse. "Apesar das perdas, a operação foi bem-sucedida. Tirando as mortes dos policiais, foi um sucesso."

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