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Governo deve retirar brasileiros da China, mesmo sem lei sobre coronavírus

O Executivo enviou ao Congresso uma proposta que prevê medidas sanitárias para enfrentar a "emergência de saúde" decorrente da epidemia

Ministério da Saúde: pasta sinalizou que trará os brasileiros que estão em Wuhan, o epicentro do coronavírus (Ministério da Saúde/Divulgação)

Ministério da Saúde: pasta sinalizou que trará os brasileiros que estão em Wuhan, o epicentro do coronavírus (Ministério da Saúde/Divulgação)

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Reuters

Publicado em 4 de fevereiro de 2020 às 19h18.

Brasília - O Ministério da Saúde sinalizou nesta terça-feira, 4, que irá retirar brasileiros de Wuhan, na China, cidade que é epicentro do coronavírus, mesmo sem a aprovação no Congresso Nacional do projeto de lei que estabelece regras para enfrentamento da doença, como a quarentena e a possibilidade de impedir entrada e saída do Brasil.

"Devemos estar preparados para as duas situações. Se for aprovado (o projeto de lei), ótimo. Se não for aprovado, temos nossas alternativas", disse o secretário-executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo, durante entrevista à imprensa. "Não vamos criar nenhum tipo de pressão sobre o Legislativo", afirmou.

As alternativas ao projeto de lei seriam regras que já constam na legislação brasileira sobre "emergências" de saúde pública e fiscalização sanitária, por exemplo, disseram técnicos da pasta.

O governo federal enviou nesta terça, 4, ao Congresso Nacional proposta que prevê medidas sanitárias para enfrentar a "emergência de saúde" decorrente da epidemia de coronavírus. O texto prevê regras sobre isolamento e a quarentena. Também permite a realização compulsória de exames em pacientes suspeitos, além de prever a "restrição excepcional e temporária de entrada e saída do País por rodovias, portos ou aeroportos".

O secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson Oliveira, disse que a previsão de fechar entrada e saída do País é uma forma de dar "segurança normativa" caso a Organização Mundial de Saúde (OMS) ou o próprio governo federal queiram tomar medidas restritivas.

"Cada nação pode legislar sobre suas ações. Rússia fez medidas restritivas. A própria China colocou duas províncias completas sobre quarentena. É um fato inédito", disse Oliveira.

O secretário Gabbardo disse que a vontade do Ministério da Saúde era elaborar uma Medida Provisória (MP) com regras mais amplas sobre quarentena sanitária, ou seja, que não tratasse apenas de medidas emergenciais para conter o avanço do coronavírus.

Para evitar atraso na aprovação do texto, porém, o governo enviou uma proposta menos abrangente, disse Gabbardo. "Vamos continuar insistindo na tese de ter esse mesmo processo de forma mais ampla", declarou o secretário.

Aprovação no Congresso

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que o projeto de lei deve ser votado nesta terça-feira.

Ainda não está definido quem será o relator e segundo duas fontes que acompanham as discussões há a preocupação, entre os deputados, sobre as reais condições do país para conter eventual contaminação no caso de pessoas que venham das regiões de alto risco.

O Ministério da Saúde não informou quando deve partir para a China a aeronave que irá retirar brasileiros de Wuhan. Segundo Gabbardo, o anúncio será feito pelo Palácio do Planalto. A mesma aeronave irá levar servidores do governo da Saúde e Defesa para examinar os brasileiros e realizar a logística do retorno ao Brasil.

China

O embaixador chinês no Brasil, Yang Wanming, disse que seu país facilitará a retirada dos brasileiros que estão em Wuhan. Ele se encontrou nesta terça-feira, em Brasília, com os ministros da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, e da Agricultura, Tereza Cristina.

Wanming informou que seu país respeitará a decisão do governo brasileiro de trazer de volta os brasileiros que se encontram na região, e que Brasil e China têm mantido canais de comunicação. Segundo o embaixador, "um mecanismo de troca de informações já foi estabelecido".

"Vamos prestar nosso apoio aos brasileiros que moram na China, facilitar, prestar as ajuda dos trâmites na cidade de Wuhan", disse Wanming ao ressaltar que a China tem feito "todos os esforços" para combater o coronavírus.

O embaixador Wanming acrescentou que, no âmbito do agronegócio, as parcerias comerciais entre Brasil e China não serão prejudicadas por causa da doença. "Temos toda confiança de que as relações comerciais do agronegócio não serão prejudicadas, uma vez que o Brasil prometeu não impor qualquer restrição a nosso comércio. Espero que nossa relação de agronegócio esteja a cada dia mais consolidada".

Segundo ele, o governo chinês se comprometeu a tomar medidas rigorosas para conter a propagação do coronavírus, tanto internamente como para outros países, "com base no espírito de responsabilidade".

"O governo chinês se dedica a manter essa relação de longo prazo e estável com o governo brasileiro. Os produtos agrícolas são bem-vindos. Não acredito que a relação sino-brasileira será prejudicada (pelo surto)", completou.

Casos suspeitos

O governo brasileiro acompanha 13 pessoas com suspeita de estarem infectadas pelo coronavírus no País. Outros 16 casos já foram descartados. As suspeitas estão nos Estados de São Paulo (6 casos), Rio Grande do Sul (4 casos), Santa Catarina (2 casos) e Rio de Janeiro (1 caso).

De segunda-feira, 3, para quarta, 4, foram descartadas suspeitas sobre duas pessoas em São Paulo e uma no Rio. No mesmo período, uma nova suspeita foi identificada em São Paulo e outra no Rio. Não há casos de coronavírus confirmados no Brasil.

O Ministério da Saúde informou que cinco pessoas no Brasil aguardam resultado de teste específico para coronavírus, sendo 3 no Rio Grande do Sul, uma em São Paulo e outra em Santa Catarina. O exame costuma ser divulgado em até sete dias, segundo o governo.

Segundo dados da OMS apresentados pelo Ministério da Saúde há 20.630 casos de coronavírus no mundo, sendo 20.471 na China. A província de Hubei, cuja capital é Wuhan, tem 66% dos casos de infecção registrados na China.

São 426 óbitos no mundo até agora por coronavírus, sendo 425 na China.

(Com Agência Brasil, Estadão Conteúdo e Reuters)

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