Edward Snowden: segundo a Folha, Snowden tomou o cuidado de não citar diretamente Dilma para não causar incômodo diplomático ao governo russo (AFP)
Da Redação
Publicado em 17 de dezembro de 2013 às 15h42.
O ex-consultor da Agência Nacional de Segurança (NSA) dos EUA, Edward Snowden, pediu asilo político ao Brasil e, em troca, promete fornecer mais informações sobre o esquema de espionagem ao país feitas pelo governo norte-americano.
Snowden enviou uma carta aberta a autoridades que foi publicada no Facebook pelo brasileiro David Michael Miranda, namorado do jornalista do The Guardian Glenn Greenwald, que revelou o esquema originalmente. O conteúdo foi divulgado pelo jornal Folha de São Paulo nesta terça-feira, 17.
O jornal apurou, no entanto, que o governo brasileiro não tem interesse em investigar a NSA e, portanto, não pretende conceder asilo a Snowden.
Segundo a Folha, o Ministério das Relações Exteriores destaca como "positivo" trecho da carta em que ele pede uma mobilização em defesa da privacidade e dos direitos humanos básicos, que estariam em risco por causa de ações como as da NSA, mas ressalta que o Brasil respeita a soberania de outros países e não pretende "dar o troco" nos EUA.
Na carta, Snowden relembra as denúncias e se diz testemunha do programa de monitoramento de "populações inteiras" que "ameaça virar o maior desafio aos direitos humanos de nossa época", citando inclusive a presidenta Dilma Rousseff. "A NSA e outras agências espiãs nos dizem que, para nossa própria 'segurança' [para a segurança de Dilma, para a segurança da Petrobras], revogaram nosso direito à privacidade e entraram em nossas vidas", ironiza.
A razão pela qual Snowden escolheu o Brasil seria por conta do discurso de Dilma no Comitê de Direitos Humanos nas Nações Unidas, há três semanas, no qual ela expôs o problema político.
Ele diz que o país levou a entidade "a reconhecer pela primeira vez na história que a privacidade não para onde a rede digital começa, e que o monitoramento em massa de inocentes é uma violação dos direitos humanos". No texto, ele não pede pelo asilo diretamente ao governo brasileiro.
"Se o Brasil escutar apenas uma coisa de mim, que seja isto: quando todos nós nos juntarmos contra a injustiça e em defesa da privacidade de dos direitos humanos básicos, nós poderemos nos defender mesmo contra os sistemas mais poderosos."
Segundo a Folha, Snowden tomou o cuidado de não citar diretamente Dilma para não causar um incômodo diplomático ao governo russo, que o hospeda desde junho deste ano. Entretanto, o jornal cita Greenwald, que garantiria que a intenção de Snowden é realmente vir ao Brasil, onde poderia gozar de maior liberdade para mais revelações.
Ainda de acordo com o diário, Snowden já havia pedido asilo em junho a diversos países, obtendo resposta favorável de Bolívia, Nicarágua e Venezuela, mas não do Brasil — que seria seu lugar de preferência por ser "forte politicamente e onde as revelações tiveram um impacto real". Dessa vez, com as revelações de espionagem a própria Dilma e à Petrobras, ele espera que o governo brasileiro possa mudar de opinião, ainda que isso naturalmente crie um problema diplomático nas já abaladas relações com os EUA.
Por sua vez, David Michel convoca brasileiros a assinar uma petição online no site da Avaaz.org que será entregue à presidente Dilma Rousseff em favor da concessão do asilo a Snowden. No final da manhã desta terça, a petição contava com quase 3 mil assinaturas.
Acusações
A carta acusa a agência americana de espionagem não apenas de líderes de Estado, mas também de pessoas comuns. "Hoje, se você usa um celular em São Paulo, a NSA pode e vai monitorar sua localização: eles fazem isso 5 bilhões de vezes por dia com pessoas do mundo todo", diz. Segundo Snowden, a agência ainda grava histórico de navegação na internet e guarda registros de ligações por cinco anos ou mais. "Eles até monitoram quem está tendo um caso (amoroso) ou vendo pornografia, no caso de precisarem ferir a reputação do alvo."
Snowden ressalta que, contrariamente aos argumentos políticos dos senadores americanos, o programa não se trata de segurança antiterrorismo, mas de "espionagem econômica, controle social e manipulação diplomática".
Ele diz que senadores brasileiros o procuraram para pedir ajuda nas investigações de suspeitas de crimes contra cidadãos brasileiros, e que ele se prontificou a ajudar, "mas, infelizmente, o governo dos EUA tem trabalhado duro para limitar minha habilidade de fazer isso, indo ao ponto de deter em solo o avião presidencial de Evo Morales (presidente da Bolívia) para me impedir de viajar à América Latina". Ele diz que, enquanto não tiver um asilo político, o governo norte-americano vai interferir nas comunicações.