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Governo descarta falta de remédio para doença falciforme

Hidroxiureia é usada no Brasil para o tratamento de doença falciforme desde 2002. O medicamento reduz e até elimina as crises de dor e infecções


	Hidroxiureia: Por ano, o Ministério da Saúde subsidia 3,5 milhões de comprimidos do medicamento usado por 15 mil pessoas no país
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Hidroxiureia: Por ano, o Ministério da Saúde subsidia 3,5 milhões de comprimidos do medicamento usado por 15 mil pessoas no país (Stock.xchng/forwardcom)

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Da Redação

Publicado em 3 de novembro de 2014 às 11h48.

Brasília - Apesar do alerta, feito pelo laboratório, de interrupção temporária da produção do medicamento hidroxiureia (utilizado para o tratamento de pacientes com doença falciforme), o governo brasileiro garantiu, em nota, que não haverá desabastecimento.

A hidroxiureia é usada no Brasil para o tratamento de doença falciforme desde 2002. O medicamento reduz e até elimina as crises de dor e infecções, frequentes na vida das pessoas que tem a doença.

Por ano, o Ministério da Saúde subsidia 3,5 milhões de comprimidos do medicamento usado por 15 mil pessoas no país.

Em comunicado distribuído aos hemocentros do país, o laboratório informava que a produção estava interrompida por falta do princípio ativo.

Segundo Maria Zenó Soares da Silva, que sofre com a doença, o alerta feito pelo laboratório provocou a reação imediata de pacientes que se tratam em hemocentros.

“O sofrimento das pessoas que têm a doença vai voltar [se faltar o remédio]. Eu tomo [hidroxiureia] há 15 anos e tenho vida depois de começar a tomar. Antes, eu vivia internação atrás de internação”, explicou Maria, que é integrante da Federação Nacional das Associações de Pessoas com Doenças Falciformes (Fenafal).

A anemia falciforme é uma doença hereditária que provoca uma alteração genética na hemoglobina, proteína que dá a coloração avermelhada ao sangue e ajuda no transporte do oxigênio pelo sistema circulatório.

A deformação que provoca nas hemácias – glóbulos vermelhos do sangue – dificultam a circulação do sangue e provocam intensas crises de dor, que, segundo os médicos, pode resultar na internação do paciente e causar infartos ou lesões de órgãos.

O remédio também pode ser usado para o tratamento de leucemia, melanoma e câncer de colo uterino.

De acordo com o comunicado do laboratório, a produção do medicamento está comprometida por falta do princípio ativo e só será retomada a partir do próximo ano, o que significa mais tempo para que o remédio volte a ser comercializado.

O levantamento feito pelo governo mostrou que os hemocentros estão com estoques no limite. No Hemorio, a quantidade de medicamento disponível só atende a demanda até o final de novembro.

“A hidroxiureia é um medicamento estratégico para a doença”, explicou Joice Aragão de Jesus, coordenadora-geral de Sangue e Hemoderivados do Ministério da Saúde.

Durante uma audiência pública sobre os desafios relacionados à doença falciforme, na semana passada, Joice disse que o governo já estava ciente do comunicado e estudava alternativas para impedir o desabastecimento.

“É um remédio básico para os tempos de crise e isso é preconizado mundialmente. O laboratório informou que até dezembro não tem o princípio ativo”, completou.

No debate, Joice Aragão elencou os avanços na área de saúde para o tratamento da doença e lembrou que hoje, 40 mil pessoas estão em tratamento nos hemocentros.

Este ano, 130 brasileiros morreram em função da doença falciforme que atinge principalmente a população negra (95% dos doentes).

Entre as melhorias no tratamento, a coordenadora da área elencou a distribuição de medicamentos, como a penicilina, em fórmula líquida para crianças, e afirmou que o governo trabalha agora para informatizar os dados usando informações de todas as unidades de saúde, incluindo as unidades neonatal.

Carmen Cunha Mello Rodrigues, enfermeira do Centro Infantil Boldrini, hospital de Campinas que é referência no tratamento de câncer e de doenças do sangue, reconheceu que esses avanços contribuíram para reduzir problemas como a morte de crianças que só eram diagnosticadas tardiamente. Ela citou como exemplo o programa de triagem neonatal – feito em recém-nascidos pelo teste do pezinho.

Por outro lado, Carmem ressaltou que, nos atendimentos que acompanha, fica clara a falta de preparo de profissionais de unidades de atendimento à saúde.

“Com certeza menos crianças estão morrendo antes dos 5 anos, mas será que estamos de fato mudando a história? A maioria das pessoas com a doença [falciforme] continua na espera em corredores das emergências e, frequentemente, são atendidas por profissionais que sabem muito menos do que elas [sobre a doença]”, disse.

Para a enfermeira, os currículos das faculdades de medicina precisam ser reformulados. “Hoje, você tem duas horas de aula sobre doenças hematológicas. Eu fui aprender algo sobre doença falciforme na prática”, disse. Carmem Rodrigues ainda alertou para os problemas sociais enfrentados por esta população, lembrando que muitos pais acabam perdendo emprego para acompanhar os filhos doentes em diversas internações, “que muitas vezes podem ocorrer mais de uma vez por mês”, e afeta ainda a frequência escolar das crianças.

Ela reiterou a necessidade de uma mudança de postura, por parte dos médicos, no tratamento a pessoas com doença falciforme.

Uma das maiores críticas feitas durante o debate foi ao atendimento feito por esses profissionais que, muitas vezes, não acreditam no relato de dor e acusam os doentes de serem “viciados em morfina”, medicamento usado desde os primeiros anos de vida para aliviar as crises.

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