Vini Jr: já foram registrados oito reclamações na justiça por racismo contra Vinicius Junior nesta temporada até o fim de março (Gonzalo Arroyo Moreno/Getty Images)
Repórter de Brasil e Economia
Publicado em 22 de maio de 2023 às 12h17.
Última atualização em 22 de maio de 2023 às 12h28.
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) divulgou nesta segunda-feira, 22, uma nota em que repudia os ataques racistas sofridos pelo jogador brasileiro Vinicius Jr, do Real Madrid, e cobrou ações da Fifa, da La Liga e da justiça espanhola.
O comunicado é assinado de forma conjunta pelos ministérios de Relações Exteriores, Igualdade Racial, Esporte e Direitos Humanos e Cidadania. No texto, o governo pede que as autoridades governamentais e esportivas da Espanha tomem providência para punir os autores dos atos de racismo e evitem que esse tipo de situação se repita. Segundo a LaLiga, já foram registrados oito reclamações na justiça por racismo contra Vinicius Junior nesta temporada até o fim de março.
No domingo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lamentou o caso e cobrou ações do governo espanhol. O Ministério de Igualdade Racial informou que acionará autoridades da Espanha para tomar providências após mais um caso de racismo sofrido pelo jogador.
Segundo o blog da jornalista Andréia Sadi, do G1, o Itamaraty irá chamar o embaixador da Espanha no Brasil, Mar Fernández-Palacios, para explicações após o episódio racista contra o brasileiro. Durante a visita de Lula em maio, Brasil e Espanha assinaram um acordo bilateral para o combate ao racismo e à xenofobia.
O governo brasileiro repudia, nos mais fortes termos, os ataques racistas que o atleta brasileiro Vinícius Júnior vem sofrendo reiteradamente na Espanha.
Tendo em conta a gravidade dos fatos e a ocorrência de mais um inadmissível episódio, em jogo realizado ontem, naquele país, o governo brasileiro lamenta profundamente que, até o momento, não tenham sido tomadas providências efetivas para prevenir e evitar a repetição desses atos de racismo. Insta as autoridades governamentais e esportivas da Espanha a tomarem as providências necessárias, a fim de punir os perpetradores e evitar a recorrência desses atos. Apela, igualmente, à FIFA, à Federação Espanhola e à Liga a aplicar as medidas cabíveis.
O governo brasileiro tem atuado em cooperação com o governo da Espanha para coibir, reprimir e promover políticas de igualdade racial e compartilhar conhecimento e boas práticas para ampliar o acesso de pessoas afrodescendentes e imigrantes ao esporte com total intolerância a toda e qualquer prática discriminatória, com o apoio ao aperfeiçoamento das melhores práticas internacionais para promover a prevenção e o combate ao racismo, além de qualquer tipo de discriminação nas diferentes modalidades de esportes.
O Real Madrid apresentou nesta segunda-feira, 22, uma denúncia na Procuradoria-Geral da Espanha por crimes de ódio e discriminação contra o jogador brasileiro Vinícis Jr.
O posicionamento do maior campeão europeu acontece após enorme repercussão sobre o episódio. O nome de Vini Jr foi o assunto mais comentado no Twitter em todo o mundo. Em sua conta no Instagram, Vinicius Junior disse que os racistas foram premiados com a expulsão dele e ironizou: “Não é futebol, é La Liga (liga de futebol da Espanha)”.
Em coletiva após a partida, o técnico italiano Carlo Ancelotti saiu em defesa do brasileiro. “Não quero falar de futebol, mas sim do que aconteceu aqui. Isto não pode ocorrer, um estádio inteiro gritando algo assim. Ele não queria continuar e eu acharia justo, porque é a vítima. Isto não pode acontecer”, opinou Ancelotti.
Grandes nomes do futebol mundial como Neymar, Mbappé, Ronaldo também publicaram mensagens de apoio ao camisa 20. Na contramão, o presidente da La Liga, Javier Tebas, rebateu as críticas feitas pelo atacante à liga espanhola e afirmou que a competição não é racista. "Não podemos permitir que se manche a imagem de uma competição que é sobre o símbolo de união de povos, onde mais de 200 jogadores são de origem negra em 42 clubes que recebem em cada rodada o respeito e o carinho da torcida, sendo o racismo um caso extremamente pontual (9 denúncias) que vamos eliminar", declarou.
Embora durante todo o jogo gritos de "mono" (na tradução livre significa "macaco" em espanhol) pudessem ser ouvidos — o árbitro, inclusive, chegou a avisar a sua equipe num primeiro momento —, o caso maior começou aos 24 minutos. Vini Jr. fazia jogada individual pelo canto esquerdo, quando um jogador do Valencia chutou uma segunda bola que estava em campo no lance para atrapalhar o atacante brasileiro.
Indignado antijogo do adversário, Vini Jr. foi reclamar do lance com a arbitragem. Com isso, parte da torcida do Valencia que estava atrás do gol mais próximo da jogada voltou a xingar o brasileiro com gritos racistas. Foi quando Vini chamou Bengoetxea para denunciar um dos torcedores.
Nesse momento, alguns jogadores de Real Madrid e Valencia, entre eles o capitão da equipe mandante, Gayà, chegou para tentar acalmar os ânimos. De acordo com o jornal "Marca", as câmeras de transmissão chegaram a captar Vini Jr. afirmando que não queria mais jogar a partida. A polícia espanhola chegou a ir no local, mas nada foi feito com os torcedores e, após oito minutos de paralisação, a partida reiniciou após o segundo aviso de caso de racismo dado pela arbitragem. Em caso de um terceiro, a partida poderia ser suspensa, como consta no código disciplinar da Fifa.
"Acredita, da próxima vez vamos (suspender o jogo)", teria falado o árbitro da partida para Vini Jr., conforme informou o "Marca".
Mas o jogo continuou com nova confusão, aos 48 minutos. Dessa vez, após discussão na área defensiva do Valencia, o goleiro Mamardashvili foi tirar satisfações com Vini Jr, que bateu bocas com o jogador. A princípio, ambos receberam cartão amarelo, mas posteriormente o VAR da partida chamou o árbitro do jogo para denunciar que o atacante brasileiro havia acertado o atacante Hugo Duro no rosto da confusão. Após a checagem, Vini Jr. foi expulso — Duro, que também agrediu Vini com uma espécie de mata leão durante a confusão, não recebeu a mesma punição.