Eduardo Leite: aos 33 anos foi o mais jovem a ser eleito governador (Itamar Aguiar/Palácio Piratini/Flickr)
EFE
Publicado em 15 de agosto de 2019 às 19h21.
Última atualização em 16 de agosto de 2019 às 12h06.
São Paulo — Eleito o governador mais jovem do Brasil ao vencer o pleito do ano passado no Rio Grande do Sul em segundo turno, Eduardo Leite (PSDB) começou a trajetória política se candidatando pela primeira vez a um cargo público com apenas 19 anos e teve uma escalada meteórica, despontando agora como um dos símbolos da nova política no Brasil.
Nascido em 10 de março de 1985, foi vereador, presidente da Câmara Municipal e prefeito de Pelotas, e desde 1º de janeiro ocupa o cargo de governador, após superar nas eleições de 28 de outubro o então candidato à reeleição José Ivo Sartori.
A ascensão política de Leite coincidiu com os piores resultados obtidos pelo PSDB nas urnas em sua história. Nas eleições presidenciais, por exemplo, Geraldo Alckmin teve apenas 4,76% dos votos.
Em entrevista à Agência Efe concedida durante um evento com empresários realizado na Câmara Oficial Espanhola de Comércio no Brasil, em São Paulo, o governador contou detalhes sobre sua trajetória, a relação com o governo de Jair Bolsonaro e também comentou sobre os recentes casos de corrupção envolvendo políticos tucanos.
P: A primeira coisa que surpreende no senhor é a juventude. Como chegou a governador com apenas 33 anos?
R: Me candidatei a vereador em Pelotas, com apenas 19 anos. Não me elegi, mas tive um bom resultado. Me chamaram para integrar a secretaria de assistência social com 20 anos, me tornei vereador aos 23, e, aos 27, prefeito. Em 2016, apesar de ter uma taxa muito alta de aprovação (87%), decidi que não concorreria à reeleição.
P: Como nasceu sua candidatura ao governo do Rio Grande do Sul?
R: Meu partido, o PSDB, me convenceu. Não era algo pelo qual vinha trabalhando, porque, depois de ser prefeito, fui fazer um mestrado. Depois fui para Nova York, estudar em (a universidade de) Columbia. Em teoria, disputaria para deputado federal.
P: O senhor quase sempre teve subordinados mais velhos.
R: Foi difícil quando comecei como prefeito, porque ainda havia uma incógnita sobre minha capacidade de governar. Mas, depois de ser gestor e ganhar credibilidade, minha imagem ficou mais reforçada. Uma imagem de gestor. Hoje, me sinto bem em dirigir uma equipe mais velha do que eu.
P: Qual é seu estilo?
R: Não governo de forma autoritária. Tomo decisões de forma conjunta, porque quem escuta erra menos. Gosto de ser questionado pela minha própria equipe, para construir melhores soluções. Não sou daqueles de dar um soco na mesa, mas sim de construir coletivamente.
P: O PSDB foi chave na restauração democrática, mas nas eleições de 2018 sofreu seus piores resultados. O que aconteceu?
R: O PSDB agravou ainda mais o sentimento de saturação dos brasileiros com o caso de Aécio Neves. Ele tinha alcançado um bom apoio, 49% dos votos (nas eleições presidenciais de 2014), e depois saiu o caso de uma gravação em que pedia dinheiro a um empresário envolvido na Lava-Jato.
Defendo que o meu partido lave a roupa suja em casa e resolva esse e outros casos. O PSDB se desligou da sociedade por esses episódios.
P: Como vê o papel de Bolsonaro?
R: De (um sentimento de) frustração, emergiu o presidente Bolsonaro, que conseguiu canalizar essa insatisfação com a sua eleição. Com ela vem a possibilidade de discutir prioridades, que até então eram defendidas timidamente, como as privatizações.
E: E a postura de Bolsonaro, tão criticada por muitos?
R. No assunto do comportamento, acho que é bastante negativo a política se resumir a um "nós contra eles". Eu trabalho com a lógica do respeitar quem pensa diferente de mim, não preciso aniquilar quem diverge.
P: Qual é sua relação com ele?
R: Desejo que tenha sucesso, pelo bem do Brasil, com seu estilo de fazer política. Colaborarei nos temas que acredito serem adequados, como a reforma da previdência, a reforma tributária, as privatizações. Naqueles em que discordar, direi.
P: Está preocupado com a imagem internacional do Brasil?
R: A forma como o Brasil conduz a política ambiental tem impacto global. É preciso deixar claro ao resto do mundo que defendemos o meio ambiente. Espero que o governo ajuste essa comunicação, porque não acredito que haja uma disposição de desprezo ao meio ambiente, mas tem que deixar mais claro interna e externamente.