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Geisel pensou na possibilidade de desenvolver bomba atômica

Estado-Maior das Forças Armadas durante regime militar brasileiro pensou em desenvolver uma bomba atômica, segundo documento secreto divulgado hoje

Ernesto Geisel: o presidente considerou que era necessário "desenvolver uma tecnologia para a utilização da explosão nuclear para fins pacíficos" (Getty Images/Getty Images)

Ernesto Geisel: o presidente considerou que era necessário "desenvolver uma tecnologia para a utilização da explosão nuclear para fins pacíficos" (Getty Images/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 12 de agosto de 2013 às 15h20.

Rio de Janeiro - A ditadura militar que governou o país entre 1964 e 1985 pensou em desenvolver uma bomba atômica, segundo um documento secreto do Estado-Maior das Forças Armadas do qual teve acesso o jornal "Estado de São Paulo" e foi divulgado nesta segunda-feira.

O documento é a ata de uma exposição feita pelo então presidente Ernesto Geisel em reunião do Alto Comando das Forças Armadas no dia 10 de junho de 1974 e na qual o então presidente pediu aos militares que iniciassem essa ideia.

Em sua exposição, Geisel admitiu a preocupação do governo militar por um teste com uma bomba nuclear feito pela Índia na época e pela possibilidade de que a Argentina, com a qual o Brasil temia uma guerra, também pudesse detonar uma bomba atômica.

"A explosão recente de uma bomba nuclear pela Índia provocou comoção mundial e temos que considerar a hipótese de, em futuro não longínquo, a Argentina também pode explodir a sua. Evidentemente, isto gera inquietação entre nós e todos indagam qual será a posição do Brasil face à situação", disse Geisel.

O presidente considerou que, diante dessas preocupações, era necessário "desenvolver uma tecnologia para a utilização da explosão nuclear para fins pacíficos, o que nos permitirá, inclusive, se necessário, dispor de nossa própria arma".

A ata do encontro divulgada pelo "Estado de São Paulo" fazia parte de um conjunto de documentos secretos do Estado-Maior das Forças Armadas desclassificados recentemente pelo Arquivo Nacional.


Em sua exposição o general alegou que não podia deixar de fazer uma referência na reunião à "política nacional para o uso de energia nuclear" por "seus importantes reflexos sobre a segurança nacional".

Geisel demonstrou seu temor de que o Brasil fosse relegado na corrida nuclear tanto para fins econômicos, para a geração de energia, como "no campo militar".

O presidente também lembrou que, em exercícios anteriores, o Brasil teve a "preocupação de preservar relativa liberdade de ação neste campo" e que os governos anteriores nunca renunciaram "ao direito de realizar uma explosão nuclear para fins pacíficos" nem quiseram assinar o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares "a despeito das fortes pressões exercidas pelas potências atômicas".

Também disse que a Argentina teve "relativa facilidade de encontrar urânio", o que, em sua opinião, os deixou em uma situação mais propícia para o desenvolvimento de armas nucleares.

O oficial também anunciou a necessidade de revisar o conceito estratégico nacional "formulado anos atrás" para que "dentro da necessidade de atualização, o conceito deverá abranger a hipótese de guerra continental envolvendo a Argentina".

O Brasil começou a desenvolver seu programa nuclear em 1976 com um acordo com a Alemanha para construir três usinas nucleares para a geração de eletricidade.

O Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares foi assinado pelo governo Fernando Henrique Cardoso em 1998, mas o país já era signatário, desde 1968, do Tratado de Tratelolco, que vetou as armas nucleares na América Latina.

Na constituição de 1988, redigida três anos depois do fim da ditadura militar, o Brasil renunciou à possibilidade de desenvolver armas nucleares.

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