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Fundos: menos equity, mais infra

Letícia Toledo O leilão de aeroportos realizado na última quinta-feira já é considerado um marco na história dos investimentos em infraestrutura no Brasil. Além dos 3,7 bilhões de reais que cairão no caixa do governo (um ágio de 23%), mostrou uma mudança na dinâmica das concessões no Brasil. Havia uma regra implícita neste setor: as […]

ECORODOVIAS: companhia teve alta de 5,8% após bons resultados  e fala de presidente / Daniel Cymbalista (Daniel Cymbalista/Divulgação)

ECORODOVIAS: companhia teve alta de 5,8% após bons resultados e fala de presidente / Daniel Cymbalista (Daniel Cymbalista/Divulgação)

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Letícia Toledo

Publicado em 22 de março de 2017 às 15h33.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h10.

Letícia Toledo

O leilão de aeroportos realizado na última quinta-feira já é considerado um marco na história dos investimentos em infraestrutura no Brasil. Além dos 3,7 bilhões de reais que cairão no caixa do governo (um ágio de 23%), mostrou uma mudança na dinâmica das concessões no Brasil. Havia uma regra implícita neste setor: as empreiteiras dominavam as grandes concessões, enquanto os fundos focavam em adquirir participações em empresas promissoras. Como a operação Lava-Jato tirou as empreiteiras da jogada, fundos soberanos, de infraestrutura e até os de private equity viraram protagonistas.

“Há novos investidores dispostos a colocar bilhões na mesa”, diz Cláudio Frishtack, presidente da consultoria Inter.B.

Um dos novos atores é a gestora de ativos Pátria, que historicamente atua na aquisição de empresas no país, mostrou seu apetite pelo setor de infraestrutura. O fundo foi o vencedor do leilão do lote de rodovias do Centro-Oeste Paulista, realizado pelo estado de São Paulo. Com um surpreendente lance de 917 milhões de reais (ágio de 130,8% sobre a primeira parcela da outorga), o leilão marcou a entrada do Pátria no setor de rodovias. Foi o terceiro leilão de concessão em infraestrutura do qual a gestora participou. No ano passado o Pátria estreou no setor de transmissão de energia com investimento de 2,5 bilhões de reais, arrematando dois lotes de linhas de transmissão nos leilões da Aneel.

“O setor de concessões no Brasil atravessa uma fase de mudanças que julgamos muito positiva. De modo geral, temos visto, no âmbito estadual ou federal, um esforço por parte do governo de oferecer aos investidores e operadores de infraestrutura condições de investimento atraentes”, afirmou Felipe Pinto, sócio da área de infraestrutura do Pátria em comunicado da empresa.

A expectativa do mercado é que o Pátria participe de outros leilões no setor. A empresa era tida como um concorrente certa no leilão de aeroportos realizado na última semana, em consórcio com a alemã Avialliance, mas acabou ficando de fora. Procurado, o Pátria não comentou. Sem o Pátria, o leilão dos aeroportos foi marcado por fundos de infraestrutura com ampla experiência na administração de aeroportos. Juntos, a empresa francesa Vinci, a alemã Fraport e a suíça Zürich administram 51 terminais no mundo.

Além dos vencedores do leilão na lista de fundos operadores de aeroportos no Brasil estão as espanholas AviAlliance, Aena e OHL e a argentina Corporación América. “A dinâmica toda mudou. Os fundos estrangeiros olhavam pouco para o Brasil porque as construtoras dominavam tudo por aqui e não valia o desgaste”, afirma Paulo Dalla Nora, sócio da gestora de investimentos Fir Capital.

Interesse antigo

O interesse das vencedoras do leilão no Brasil vem de algum tempo. A alemã Fraport, que levou os aeroportos de Fortaleza e Porto Alegre, chegou a participar da disputa pelo aeroporto do Galeão, em 2013, em que o vencedor foi o consórcio liderado pela empreiteira Odebrecht. Em 2012 a suíça Zürich, que ficou com o aeroporto de Florianópolis, disputou em um consórcio com o grupo CCR a concessão dos aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília.

O francês Vinci, um dos maiores grupos de construção e concessão da Europa e que administrará o aeroporto de Salvador, está presente no Brasil há pouco mais de dois anos. Até aqui o investimento se limitava à energia. A Vinci Energies, baseada no Rio de Janeiro, opera com as marcas Omexom (que atua na área soluções para geração, transmissão, transformação e distribuição de energia) e Actemium (de soluções para o mercado industrial e de infraestrutura).

Para economistas e executivos, a principal novidade a partir de agora deve ser a entrada de fundos focados em private equity, como o Pátria. “São os primos, sobrinhos e parentes da Brookfield [gestora de ativos canadense com forte atuação em infraestrutura]. Esses fundos de private equity que nunca olharam para o Brasil porque nunca quiseram fazer parceria com as construtoras. Agora eles devem investir em concessões”, diz Dalla Nora. No ano passado, Dalla Nora passou seis meses no Reino Unido, conversando com potenciais investidores para o Brasil, e afirma que o interesse desse tipo de fundo pelo país é grande.

Outro investidor que está analisando as concessões do governo é o fundo americano Advent, que tem 50% do Terminal de Contêineres de Paranaguá desde janeiro de 2011. “Infraestrutura é uma área que nos interessa muito não só no Brasil como na América Latina. Nos países desenvolvidos não há esse mercado, mas no Brasil há uma oportunidade imensa de transformar as operações de infraestrutura, eliminar gargalos e ter retornos de private equity”, diz Mario Malta, sócio da Advent no Brasil.

Tudo interessa?

Apesar do bom momento, executivos ressaltam que alguns setores são mais fáceis de vender. Os aeroportos de semana passada se mostraram um sucesso, mas outros podem ser mais complicados. “O problema é que o Brasil tem muitos aeroportos menores e deficitários. O ideal seria vender grupos de aeroportos – colocar em um mesmo pacote um grande e outros menores, deficitários. Mas neste leilão o governo vendeu apenas os bons, o que vai fazer quando sobrarem só os problemáticos?”, diz Frishtack.

Entre os demais ativos do Projeto Crescer, do governo federal, estão 14 empresas de saneamento. O principal problema no setor é a falta um regulador forte para garantir que, após a privatização, os interesses das companhias não prevaleça sobre a necessidade de expandir o saneamento no país. “É diferente do setor de transmissão e distribuição de energia, que é regulado e já tem exemplos de privatizações bem sucedidas”, diz Dalla Nora.

Nos projetos de rodovias está previsto o leilão de um trecho da BR-101, em Santa Catarina, com a previsão para o primeiro semestre de 2018. Outros três trechos de rodovias vão passar por relicitação: BR-116, entre Rio e São Paulo (Nova Dutra); BR-116, no Rio de Janeiro (CRT); e BR-040, entre Rio e Minas Gerais (Concer). A relicitação desses trechos só acontecerá em 2021, quando termina a concessão atual.

Nesta quinta-feira acontece outro leilão realizado pelo governo federal, mas dificilmente ele atrairá o interesse de grandes grupos do exterior. O governo vai leiloar dois terminais no porto de Santarém (PA) para movimentação de granéis líquidos – como gasolina, diesel, querosene e etanol.

Os terminais portuários tendem a ter um nicho muito específico e são considerados de pequeno porte. Mesmo assim, a expectativa é de que as áreas sejam licitadas. Há empresas que já atuam lá e tem seu contrato vencendo – Distribuidora Equador e a Petróleo Sabbá – devem entrar no leilão. A entrega das propostas dos interessados aconteceu nesta segunda-feira na BM&FBovespa. Ao todo, o Projeto Crescer conta com 85 projetos entre portos, aeroportos, rodovias, companhias de saneamento, ferrovias e linhas de transmissão e distribuição de energia. O desafio do governo está só começando.

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