Acidente: a funcionária afirmou que pelo cargo que ocupa, não tem autoridade para deter ou impedir a saída de aeronaves (Fredy Builes/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 8 de dezembro de 2016 às 19h41.
São Paulo - Refugiada no Brasil, a boliviana funcionária da Administração de Aeroportos e Serviços Auxiliares à Navegação Aérea (Aasana) em Santa Cruz de la Sierra, publicou carta nesta quinta-feira em que afirma ter sofrido pressão de seus chefes para modificar o informe que tinha realizado para apontar irregularidades no voo que transportaria a Chapecoense.
Celia Castedo garantiu ter feito cinco observações no plano de viagem da LaMia, companhia boliviana que transportava a equipe.
O conteúdo da carta foi divulgado na íntegra pelo jornal El Deber. No voo, realizado na madrugada de segunda para terça-feira da última semana, a aeronave não teve combustível suficiente para pousar em Medellín, na Colômbia, e caiu a poucos quilômetros da chegada.
"Fui submetida a pressões e perseguições por parte dos meus superiores desde a manhã do dia 20, quando se começa tudo, sendo ordenado para mim modificar o conteúdo do informe que horas antes minha pessoa tinha apresentado internamente", escreveu.
Celia procurou refúgio em Corumbá (MS) por temer acusações e ameaças em seu país. O voo causou a morte de 71 pessoas, 19 delas jogadores da Chapecoense.
O elenco fez escala em Santa Cruz de la Sierra, de onde partiu em avião fretado para o noroeste da Colômbia, onde jogaria a primeira partida da final da Copa Sul-Americana, contra o Atlético Nacional.
A funcionária afirmou que pelo cargo que ocupa, não tem autoridade para deter ou impedir a saída de aeronaves. "Devo esclarecer também que o carimbo e a minha assinatura estampadas no citado plano de voo representam um protocolo de recepção do documento", afirmou.
Ela escreveu que a responsabilidade final sobre as viagens recai sob a Direção Geral da Aeronáutica Civil da Bolívia (DGAC).
Celia atribuiu a manutenção do relatório ao despachante Alex Quispe, uma das vítimas da queda. Segundo a funcionária, o colega lhe disse que a decisão foi tomada pelo capitão da aeronave.
"Ficou demonstrada a intransigência da linha aérea para atender as observações feitas pela minha pessoa", disse.
A boliviana comentou que por ter sofrido pressões em seu país, como a presença obrigatória em uma audiência, pede à opinião pública que compreenda os motivos de ter fugido ao Brasil, onde pediu asilo.
"Ao mesmo tempo, desejo expressar meus sentimentos de profunda dor e pesar aos familiares e amigos das vítimas do acidente aéreo do voo LMI2933", afirmou.