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Fuga de senador boliviano derruba chanceler brasileiro

Antonio Patriota deixou o comando do Ministério das Relações Exteriores em meio à crise diplomática com a Bolívia

Chanceler Antonio Patriota: gestão foi marcada por uma política externa mais moderada, com distanciamento do Irã e estreitamento com EUA (Ueslei Marcelino/Reuters)

Chanceler Antonio Patriota: gestão foi marcada por uma política externa mais moderada, com distanciamento do Irã e estreitamento com EUA (Ueslei Marcelino/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 26 de agosto de 2013 às 22h34.

Brasília - O embaixador Antonio Patriota deixou o comando do Ministério das Relações Exteriores nesta segunda-feira, em meio à crise diplomática com a Bolívia, e será substituído pelo representante brasileiro na Organização das Nações Unidas (ONU), Luiz Alberto Figueiredo Machado.

Patriota, que estava à frente do Itamaraty desde a posse da presidente Dilma Rousseff na Presidência em 2011, foi indicado para a representação do Brasil na ONU, no lugar de Figueiredo.

"A presidenta Dilma Rousseff aceitou nesta segunda-feira o pedido de demissão do ministro Antonio de Aguiar Patriota", afirmou o Palácio do Planalto em nota.

A Bolívia pediu explicações ao governo brasileiro sobre a fuga para o Brasil do senador boliviano Roger Pinto, que estava refugiado na embaixada brasileira, em La Paz, havia cerca de 450 dias. O senador deixou a Bolívia na sexta-feira a bordo de um carro da embaixada brasileira, que percorreu 1.500 quilômetros até cruzar a fronteira, sem o conhecimento das autoridades bolivianas.

Segundo uma fonte do Palácio do Planalto, a fuga do senador com a ajuda de um diplomata brasileiro no fim de semana, sem o conhecimento de Patriota "criou uma situação difícil" para o chanceler.

A fonte, que falou sob condição de anonimato, disse que Dilma se reuniu com o ministro da Defesa, o ex-chanceler Celso Amorim, que também conversou com Patriota antes do pedido de demissão.

Durante mandato de Patriota, o Brasil assumiu dois importantes cargos em organismos internacionais: José Graziano foi eleito diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) e Roberto Azevêdo, chefe da Organização Mundial do Comércio (OMC).

A gestão de Patriota também foi marcada por uma política externa mais moderada, que incluiu o distanciamento do Irã e um estreitamento das relações bilaterais com os Estados Unidos.


Crise Boliviana

O encarregado de negócios da embaixada do Brasil em La Paz, Eduardo Saboia, assumiu a responsabilidade pela fuga do senador e disse ter agido sem autorização de seus superiores, porque o político de oposição estava deprimido e ameaçava cometer suicídio após 15 meses refugiado na sede diplomática.

O Brasil concedeu asilo político a Pinto, um crítico do presidente boliviano, Evo Morales, em meados de 2012, mas as autoridades bolivianas não concederam ao senador um salvo-conduto necessário para que ele saísse do país.

O chanceler boliviano, David Choquehuanca, disse nesta segunda-feira que a fuga do senador com a ajuda do diplomata brasileiro viola os convênios internacionais.

Saboia foi chamado a Brasília para prestar esclarecimentos.

Novo Chanceler

Figueiredo, de 58 anos, ocupava o cargo de representante do Brasil na ONU desde o fim do ano passado. Antes disso, foi subsecretário-geral de Meio Ambiente, Energia e Ciência e Tecnologia do Ministério das Relações Exteriores e um dos negociadores da conferência ambiental Rio+20, que o Brasil sediou em 2012 no Rio de Janeiro.

Segundo a fonte do Planalto, a presidente escolheu Figueiredo porque "ficou bem impressionada" com o trabalho desenvolvido por ele durante a Rio+20 e já o conhecia da época em que era ministra da Casa Civil no governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

Para o coordenador do curso de Relações Internacionais da Faap, em São Paulo, Marcus Vinícius de Freitas, o Brasil precisa dar um novo rumo à sua política externa.

"Ele (Figueiredo) tem um histórico muito positivo, tem esse resultado positivo à frente da negociação do Rio de Janeiro (Rio+20), que faz com que ele tenha um destaque internacional. Mas o Brasil precisaria de uma política externa um pouco mais aberta", disse Freitas.

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