Mulheres indígenas: a manifestação faz parte da 1ª Marcha das Mulheres Indígenas (Andre Coelho/Reuters)
Clara Cerioni
Publicado em 13 de agosto de 2019 às 19h07.
Última atualização em 13 de agosto de 2019 às 19h11.
São Paulo — Com o lema "Território: nosso corpo, nosso espírito", mulheres indígenas realizaram nesta terça-feira (13) um protesto em Brasília contra políticas do governo Bolsonaro e em defesa da Amazônia e da demarcação de terras.
A manifestação faz parte da 1ª Marcha das Mulheres Indígenas, que acontece desde a última sexta-feira (09), na capital do Distrito Federal.
Segundo a APIB — Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, que organiza a marcha, mulheres de 113 povos de todos os estados do Brasil participam do encontro. No protesto desta terça-feira, a entidade estima que houve a presença de 3 mil pessoas.
A Força Nacional foi mobilizada para fazer a segurança de prédios da Esplanada, mas não houve nenhum registro de confronto durante o protesto.
"Os corações, as mãos e os pés das mulheres indígenas também guardam conhecimento e será nós, mulheres indígenas, com nossos corpos que vamos descolonizar essa sociedade brasileira que têm matado a nossa história e a nossa memória", afirmou a ativista Célia Xakriabá, durante a passeata.
A indígena, que é integrante do povo Xakriabá, afirmou ainda: "A gente tem sido morto não apenas pela arma do calibre .38 mas pela arma do calibre .17 [em referência ao número eleitoral do presidente Jair Bolsonaro]. Esse governo tem nos assassinado com essa política genocida, mas nós mulheres indígenas iremos fazer resistência, porque defender o território é defender a educação".
O tom político de combate com o governo de Jair Bolsonaro também esteve presente nas músicas cantadas durante a marcha.
Na Marcha das Mulheres Indígenas, em Brasília, o canto é esse:
"Vamos cantar
Balançar o cachimbó
Quero ver o Bolsonaro
Amarrado no cipó" pic.twitter.com/19UR73hx8i— Sâmia Bomfim (@samiabomfim) August 13, 2019
Durante os dias que estão em Brasília, as mulheres indígenas tiveram encontros com alguns políticos, incluindo o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) e a ex-senadora pelo Acre e ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (REDE).
A primeira mulher indígena a concorrer em uma chapa presidencial no Brasil, Sônia Guajajara, candidata a vice de Guilherme Boulos (PSOL), também esteve presente nos encontros, como uma das interlocutoras da população indígena.
Todo meu apoio na defesa dos direitos dos povos indígenas. Hoje na Marcha das Mulheres Indígenas com a deputada @JoeniaWapichana. #povosindigenas #marchadasmulheresindigenas pic.twitter.com/65hfj7RGgl
— Marina Silva (@MarinaSilva) August 13, 2019
Na noite desta terça-feira, as mulheres participam de uma audiência pública na Câmara dos Deputados, com o objetivo de denunciar às autoridades as invasões sofridas nos territórios indígenas e a ausência de demarcação de terras.
Nesta segunda-feira (12), cerca de 300 mulheres ocuparam um prédio da Funasa (Fundação Nacional de Saúde), para pressionar o governo por melhorias na saúde indígena, sobretudo das mulheres.
Grande ato contra o desmonte da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) acontece agora em Brasília. ✊Mulheres indígenas de todo Brasil participam da ocupação do prédio do Ministério da Saúde reivindicando seus direitos. pic.twitter.com/BV47pjvYaM
— Sâmia Bomfim (@samiabomfim) August 12, 2019
O presidente Bolsonaro defende desde a sua campanha que não haja mais demarcações de terras indígenas no Brasil. Em diversas ocasiões ele afirmou que as áreas reservadas para essa população não podem atrapalhar o desenvolvimento do Brasil.
Em uma declaração de novembro de 2018, Bolsonaro disse que manter índios em reservas demarcadas é tratá-los como animais em zoológicos.
"Ninguém quer maltratar o índio. Agora, veja, na Bolívia temos um índio que é presidente. Por que no Brasil temos que mantê-los reclusos em reservas, como se fossem animais em zoológicos?", questionou na ocasião.
Em janeiro, Bolsonaro editou a MP 870, que incluía na reforma administrativa a mudança da Fundação do Índio (Funai), responsável pelas demarcações, do Ministério da Justiça para o da Agricultura.
A alteração foi derrubada no Congresso Nacional no fim de maio, mas em 19 de junho, o governo editou nova MP sobre o tema. Bolsonaro afirmou, na época, que tinha o poder de decidir: "quem manda sou eu".
No entanto, a Constituição Federal de 1988 proíbe que o governo reedite uma medida provisória com o mesmo teor de matéria já rejeitada pelo Legislativo na mesma sessão. No início de agosto, o plenário do Supremo Tribunal Federal derrubou a MP por entender que o governo tentou burlar a legislação.