Gabriel Muricca Galípolo, Luis Henrique Guimarães e Marco Cauduro discutem infraestrutra em fórum da Exame (Leandro Fonseca/Exame)
Alessandra Azevedo
Publicado em 9 de novembro de 2021 às 10h47.
Última atualização em 9 de novembro de 2021 às 10h47.
Recentes regulamentações e concessões aprovadas no setor de infraestrutura levam Luis Henrique Guimarães, diretor-presidente da Cosan, e Marco Cauduro, CEO da CCR, a concordarem que a sinalização no rumo dos investimentos é positiva. Ainda há, porém, muito a ser feito, disseram os dois em painel do Fórum EXAME Infraestrutura, Cidades e Investimentos, realizado em parceria com a Hiria, nesta terça-feira, 9.
“O Brasil tem muito para construir”, pontuou Guimarães. Na visão dele, o país tem vantagens comparativas e competitivas em alguns setores que demandam muita infraestrutura, como mineração, agricultura e pecuária. E, se as riquezas forem exploradas de maneira sustentável, pode ser uma “potência verde”, acredita o diretor-presidente da Cosan.
Mas ainda há obstáculos. É preciso gerar competição e reduzir o Custo Brasil e as desigualdades, diz Guimarães. Os pré-requisitos fundamentais para o desenvolvimento da infraestrutura no país, segundo ele, incluem regulação clara e estável, segurança jurídica e capacidade de atrair recursos nacionais e estrangeiros para financiamento de projetos de longo prazo.
“Nos últimos anos, teve uma evolução bastante grande nesse sentido, em termos de regras mais claras das concessões e de realizações de vários leilões de vários setores. E obviamente a iniciativa privada tomando frente a isso”, comemora o diretor-presidente da Cosan. Segundo ele, o Custo Brasil tem sido “claramente” reduzido.
Marco Cauduro, CEO da CCR, classificou o avanço visto nos últimos anos como “gigantesco”, do ponto de vista de maturidade institucional. Medidas tomadas recentemente, na opinião dele, resultam em um modelo mais maduro e equilibrado de contratos, com concessões que, consequentemente, se sustentam no tempo.
“A gente vê a qualidade técnica do Ministério da Infraestrutura, das agências regulatórias e das secretarias, além da qualidade técnica, da transparência e do diálogo que o governo busca junto à iniciativa privada para desenvolver e modelar os melhores projetos possíveis”, disse Cauduro.
O CEO da CCR se disse “muito otimista” e lembrou da necessidade que o país tem de investir em infraestrutura. “A gente deveria estar investindo 1,4% do PIB (Produto Interno Bruto), investe metade disso. Mas, para destravar o PIB potencial e promover choques de produtividade, o Brasil deveria estar investindo mais de 3 pontos percentuais do PIB”, pontuou.
Esse nível de investimento não acontece em função das restrições orçamentárias do governo. O setor privado tem papel fundamental em viabilizar essa agenda, disse Cauduro. “Mas também não existe investimento em infraestrutura privada sem o papel do público. É preciso diálogo entre público e privado, com modelo regulatório maduro, bem estabelecido, com segurança jurídica e regulatória”, defendeu.
Para Gabriel Muricca Galípolo, sócio da Galípolo Consultoria, que também participou do painel, os avanços nos últimos anos acontecem justamente “por uma visão mais pragmática”, deixando de lado a polarização entre público e privado e mercado e Estado. “A gente vai precisar muito da iniciativa privada e do Estado, que tem capacidade de regulação e de articulação em tudo isso”, pontuou.
Apesar de também reconhecer a evolução do setor e de ver o cenário atual com otimismo, Guimarães se preocupa com a instabilidade das regras no Brasil. “Os reguladores precisam entender que um movimento em um setor afeta outras empresas e repercute em outros setores”, disse.
O aumento da taxa de juros, que chegou a 7,75% ao ano, traz desafios maiores, mas contornáveis, acredita Guimarães. “Acho que tem demanda o suficiente e oportunidade para bons projetos, desde que obviamente capitalizados por empresas que são do ramo e vão saber operar sempre uma visão de longo prazo e otimizando seus processos de operação”, afirmou.
Galípolo apontou que o Brasil está na mínima histórica desde que a Fundação Getulio Vargas (FGV) começou a medir o volume de investimento em infraestrutura. Ou seja, o país não dá conta de repor nem a depreciação. Para ele, é fundamental o foco em PPPs e concessões. “São maneiras mais inteligentes de contratar o privado, porque consegue um alinhamento muito maior”, argumentou.