Dilma Rousseff: "Foi como uma faca no meu peito", disse ela, no Palácio da Alvorada (Ueslei Marcelino / Reuters)
Da Redação
Publicado em 18 de abril de 2016 às 18h03.
Brasília - A presidente Dilma Rousseff (PT) não escondeu o abatimento quando viu as traições na votação da Câmara dos Deputados que autorizou, neste domingo, 17, a abertura do processo de impeachment.
"Foi como uma faca no meu peito", disse ela, no Palácio da Alvorada, após o resultado.
Dilma acompanhou a votação na Sala dos Estados do Alvorada, ao lado da Biblioteca. Estava acompanhada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de vários ministros.
Ela disse ter ficado "chocada" com o voto do deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), a favor do impeachment. Ribeiro foi ministro das Cidades.
Outros ex-ministros, como os deputados Mauro Lopes (PMDB) e Alfredo Nascimento (PR), também apoiaram o afastamento da presidente.
Dilma também mostrou inconformismo com o fato de o ex-ministro Gilberto Kassab (PSD) e o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), terem "virado as costas" para ela no último minuto.
Em conversas reservadas, ministros disseram à reportagem que foi "um erro" o governo ter deixado a reforma ministerial para depois da votação na Câmara.
Na avaliação de auxiliares de Dilma, o fato abriu caminho para o vice-presidente Michel Temer (PMDB) investir sobre os deputados de vários partidos aliados e prometer "benesses".
O "núcleo duro" do governo também ficou indignado com o fato de ter recebido apenas oito votos do PMDB, que tem uma bancada de 67 deputados e, apesar do rompimento com Dilma, ainda ocupa ministérios.
O líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), prometia entregar à presidente cerca de 20 votos contrários à sua deposição.
Dilma estuda a possibilidade de pedir à ministra da Agricultura, Kátia Abreu (PMDB), que retorne ao Senado para ajudar na articulação política, já que agora o governo precisa conquistar votos naquela Casa para tentar barrar o processo.
Dilma se reuniu com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a quem pretende pedir ajuda para conseguir derrubar o processo no plenário. Renan e Temer têm disputas internas no PMDB.
Na manhã desta segunda-feira, 18, além de fazer uma avaliação da votação, com checagem do mapa de apoio no Senado, a presidente recebeu os deputados-ministros Marcelo Castro e Celso Pansera.
Castro se licenciou do Ministério da Saúde e Pansera, de Ciência e Tecnologia, para votar contra o impeachment. Dilma também agradeceu pessoalmente vários deputados que a apoiaram.
Elogiou muito Sílvio Costa (PTdoB-PE), que no domingo saiu do plenário chorando, quando soube que a situação do governo era irreversível.